Há algum tempo, viemos expondo o resumo da doutrina de Sócrates e Platão, bem como sua relação com o Espiritismo. No último trabalho, os filósofos referiram sobre o vício, no entanto, agora, vamos ao que eles referiram sobre virtude:
“XVII. A virtude não pode ser ensinada; vem por dom de Deus aos que a possuem”.
Allan Kardec discorreu sobre a afirmação, lecionando:
“É quase a doutrina cristã sobre a graça; mas se a virtude é um dom de Deus, é um favor e, então, pode perguntar-se por que não é concedida a todos. Por outro lado, se é um dom, carece de mérito para aquele que a possui. O Espiritismo é mais explícito, dizendo que aquele que possui a virtude a adquiriu por seus esforços, em existências sucessivas, despojando-se pouco a pouco de suas imperfeições. A graça é a força que Deus faculta ao homem de boa vontade para se expungir do mal e praticar o bem”.
“XVIII. É disposição natural em todos nós a de nos apercebermos muito menos dos nossos defeitos, do que dos de outrem”.
Quanto a isso, diz o Evangelho: “Vedes a palha que está no olho do vosso próximo e não vedes a trave que está no vosso”.
“XIX. Se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem”.
No dizer de Kardec, “o Espiritismo fornece a chave das relações existentes entre a alma e o corpo e prova que um reage incessantemente sobre o outro. Abre, assim, nova senda para a Ciência. Com o lhe mostrar a verdadeira causa de certas afecções, faculta-lhe os meios de as combater. Quando a Ciência levar em conta a ação do elemento espiritual na economia, menos frequentes serão os seus maus êxitos”.
“XX. Todos os homens, a partir da infância, muito mais fazem de mal do que de bem”.
Essa sentença de Sócrates fere a grave questão da predominância do mal na Terra, questão insolúvel sem o conhecimento da pluralidade dos mundos e da destinação do planeta terreno, habitado apenas por uma fração mínima da Humanidade. Somente o Espiritismo resolve essa questão, que se encontra explanada em “O Evangelho Segundo o Espiritismo, nos capítulos II, III e IV.
“XXI. Ajuizado serás, não supondo que sabes o que ignoras”.
O Codificador do Espiritismo, Alan Kardec, infere:
“Isso vai com vistas aos que criticam aquilo de que desconhecem até mesmo os primeiros termos. Platão completa esse pensamento de Sócrates, dizendo: ‘Tentemos, primeiro, torná-los, se for possível, mais honestos nas palavras; se não o forem, não nos preocupemos com eles e não procuremos senão a verdade. Cuidemos de instruir-nos, mas não nos injuriemos’. É assim que devem proceder os espíritas com relação aos seus contraditores de boa ou má-fé. Revivesse hoje Platão e acharia as coisas quase como no seu tempo e poderia usar da mesma linguagem. Também Sócrates toparia criaturas que zombariam da sua crença nos Espíritos e que o qualificariam de louco, assim como ao seu discípulo Platão. Foi por haver professado esses princípios que Sócrates se viu ridiculizado, depois acusado de impiedade e condenado a beber cicuta. Tão certo é que, levantando contra si os interesses e os preconceitos que elas ferem, as grandes verdades novas não se podem firmar sem luta e sem fazer mártires”.
(Referências: Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Introdução. FEB Editora. P. 38-39)