Minuano Saúde
Setembro amarelo: prevenção ao suicídio
Na área da saúde pública, sabe-se que a prevenção de qualquer doença se faz com informação clara e objetiva. O tema desta semana é um tabu. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos casos de suicídio são preveníveis, por estarem associados a patologias de ordem mental, diagnosticáveis e tratáveis, principalmente a depressão, transtornos de humor e, em alguns casos, uso de drogas. Ou seja, de cada 10 casos de autoextermínio, nove podem ser evitados, desde que haja o diagnóstico preciso destas patologias, o devido tratamento e a assistência das redes de cuidado e atenção.
Desde 2014, acontece, no Brasil, o Setembro Amarelo, uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, com o objetivo de alertar a população a respeito desta realidade no Brasil e no mundo. Durante o Dia Internacional de Prevenção ao Suicídio (10 de setembro), a Associação Internacional de Prevenção ao Suicídio, em parceria com a Organização Mundial de Saúde, prepara ações de auxílio.
Nesta edição, a psicóloga Dilce Helena Alves dos Santos explica alguns pontos sobre o tema e ressalta a prevenção e os cuidados que devem ser tomados.
Causas e tratamento da depressão
O suicídio é o último recurso encontrado por alguém que, por motivos variados, principalmente em função da depressão, não vê possibilidades de solução para aplacar sua dor na alma, desespero, desencanto e desesperança, conforme explica a psicóloga. “Para diminuir os índices, é necessário informação. Ampliar o conhecimento do público sobre o assunto e as questões relacionadas a ele”, completa.
Dilce salienta que as campanhas de conscientização têm por objetivo trazer o tema à tona, ou seja, informar e diminuir o obscurantismo sobre os aspectos complexos que envolvem e encobrem a depressão e os riscos de suicídio que ela acarreta.
A especialista também explica que o suicídio está intimamente relacionado à depressão e esta deve ser diferenciada de um momento transitório de tristeza que faz parte da vida. “A depressão é uma doença, muitas vezes silenciosa, e nem sempre de fácil diagnóstico ou percepção por parte da própria pessoa, familiares e amigos. A doença atinge o indivíduo de modo global influenciando seus hábitos, bioquímica cerebral, sentimentos e relações”, esclarece.
"A depressão e sua consequente vulnerabilidade emocional pode ocorrer em todas as faixas etárias", informa. “Não falamos em grupos de maior risco, e, sim, em situações de vida onde é maior a exposição do indivíduo ao estresse e à dor da perda, como, por exemplo, demissões, mudanças, rupturas de ciclos, separações, violência ou negligência familiar, bem como uso de álcool e drogas, e, principalmente, morte de familiar”, destaca.
Motivações
"As motivações estão sempre relacionadas à tentativa de aplacar uma profunda dor emocional persistente e que não permite que a pessoa perceba todas as possibilidades que ainda possui, além de outras comorbidades (ocorrência simultânea de mais de uma doença) que podem associar-se ao quadro depressivo", conta a psicóloga.
"O tratamento deve envolver a psicoeducação da família de modo que esteja apta a lidar com as necessidades e limitações emocionais do indivíduo", salienta a profissional. “Além disso, é fundamental a avaliação psiquiátrica e acompanhamento psicológico. Esta condução em equipe multiprofissional tem o papel de, gradualmente, incrementar a percepção do indivíduo sobre suas possibilidades, valorização dos vínculos afetivos e ampliação de sua tolerância à frustração, resiliência e capacidade de resolução de problemas”, ressalta.
Os sintomas, segundo Dilce, podem variar de pessoa para pessoa e ser uma combinação entre todos eles, ou, ainda, estarem mascarados pela personalidade ou modo de vida. “Mas é importante familiares e amigos ficarem atentos à tristeza persistente e constante com ou sem motivo evidente que perdure por mais de quatro semanas. Também é importante estar atento a mudanças de hábitos, como a evitação do contato social ou familiar, que antes levava normalmente, ou seja, isolamento, vontade de ficar só; perda de interesse por assuntos que anteriormente lhe atraiam; visão demasiadamente pessimista sobre a vida e o mundo; evidente falta de energia ou ânimo para tarefas básicas do dia a dia; irritabilidade e ou ansiedade; transformações nos hábitos de cuidados pessoais, do sono e alimentares, além de sinais de baixa na autoestima”, complementa.
Dicas de prevenção
A psicóloga salienta que a principal dica é compreender que a depressão é uma doença, não é falta de capacidade, vontade ou preguiça. “É preciso combater o preconceito e entender que esta doença fere profundamente a capacidade do indivíduo em lidar com situações básicas da vida. Além disso, a prevenção passa por manter hábitos saudáveis para o corpo e para a mente, como alimentação, atividade física, atenção a vínculos afetivos e espaço reservado para poder falar sobre seus sentimentos”, destaca.
No Brasil, todo o mês de setembro é reservado para a discussão deste tema - suicídio. O chamado "Setembro Amarelo" tem por objetivo ampliar a visão da população sobre a magnitude do problema e o quanto pode atingir qualquer faixa etária, social e de conhecimento.
Neste ano, um "jogo" popularizou entre jovens, adolescentes e crianças e trouxe à tona o suicídio - o Baleia Azul.
A especialista conta que o desafio Baleia Azul, como qualquer outro destes que impõem tarefas destrutivas, não é um jogo ou brincadeira porque não é saudável nem tem o objetivo de divertir. Ao contrário, foi concebido com a intenção consciente de causar danos ao maior número de pessoas possíveis. “Atrai a atenção pelas características de nosso momento histórico onde qualquer assunto que choque tem a capacidade de “viralizar” nas diferentes formas de conexão entre grupos através da internet. O desafio é mais atraente justamente àquelas pessoas que já estão mais vulneráveis emocionalmente por questões estressoras ou por depressão não diagnosticada e consequentemente não tratada adequadamente”, relata.
Dilce ressalta que a questão do jogo Baleia Azul tem o caráter contagioso a todos aqueles indivíduos que já têm conexão com temas mórbidos, automutilação e suicídio, da mesma forma que a notícia de suicídio de figuras públicas também atrai a atenção e aponta o caminho como solução plausível para aqueles indivíduos que internamente já estavam travando esta batalha sem pedir auxílio, o que é característica da depressão.
A especialista destaca que a percepção da atenção à própria saúde mental e o entendimento básico sobre depressão e a importância de saber pedir ajuda deve ser divulgada e estimulada de modo abrangente a toda população. “Todos profissionais da rede pública de atenção à saúde estão aptos a perceber e encaminhar as pessoas aos locais adequados onde elas possam ser tratadas com respeito a sua individualidade, dignidade e sigilo, de modo a enfrentar o problema com a ajuda apropriada e sair do principal inimigo nesta fase, que é o isolamento”, conclui.