Campo e Negócios
Criação e valorização dos territórios é pauta do Ovinocultura em Debate
Em sua 4ª edição o Ovinocultura em Debate reuniu, esta semana, na Embrapa Pecuária Sul, em Bagé, cerca de 120 pessoas, entre produtores, pesquisadores, técnicos, extensionistas, representantes de entidades, do Sebrae, Senar e da indústria, cooperativas e universidades, que lotaram o auditório da Embrapa para tratar da cadeia produtiva no Rio Grande do Sul.
A abertura, realizada na terça-feira, contou com a presença do deputado federal Afonso Hamm, do deputado estadual Luiz Fernando Mainardi (representando a presidência da Assembleia Legislativa do RS), do diretor das Câmaras Setoriais da Secretaria de Agricultura do Estado, Rodrigo Rizzo (representado o secretário de Agricultura), de Vicenti Ney (representando a Secretaria de Desenvolvimento Rural do Estado), do assessor e coordenador do GT Proteína Animal do BRDE, Paulo Roberto da Silva, do presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), Paulo Afonso Schwab e do chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul, Alexandre Varella.
Conforme a programação, a primeira palestra foi do chef Marcos Livi, que falou da importância das relações entre os alimentos e o território no conceito de qualidade. Ele destacou o significado do bioma Pampa e o que ele representa no mercado gastronômico do País, além do grande alinhamento entre a gastronomia e turismo, oportunidade que precisa ser melhor trabalhada na região. “Aqui tem tudo, tem solo, tem produção e produto de qualidade e tem história”, disse, enfatizando o turismo gastronômico por ser um setor de grande valorização e com poder de geração de trabalho e renda.
A ovinocultura de leite também foi destaque do evento com a participação do presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos de Leite, Anderson Bianchi, que mostrou o panorama atual da produção de leite de ovelha no Brasil e do grande potencial de expansão da atividade que tem grande valor agregado na produção de iogurtes, queijos, doce de leite, sorvetes e até cosméticos. Hoje, conforme ele, no Brasil, há 25 propriedades produzindo cerca de 700 mil litros de leite por ano.
No setor da lã, Edison Ferreira, presidente do Conselho de Administração da Cooperativa de Lãs Mauá, apresentou dados do mercado da lã que está sendo retomado no Sul do Estado e as novas iniciativas da cooperativa no sentido de valorizar o produto lã e o produtor através de ações como visitas técnicas, orientação aos produtores na hora da colheita da lã e a distribuição de embalagens reutilizáveis e que mantém a qualidade no armazenamento da lã. Segundo Ferreira, as novas embalagens, além de darem maior qualidade ao produto, são transparentes, auxiliando, inclusive, no trabalho do classificador, reduzindo a quantidade de mão de obra na hora do transporte do produto da propriedade até a cooperativa. “Demonstramos, assim, aos produtores, que temos como ajudá-los a valorizar e dar maior credibilidade ao produto”, defendeu.
A doutora Andréia Vieira, pesquisadora da Universidade Positivo, trouxe um tema ainda bastante debatido no Brasil: o bem-estar animal e a influência dele na comercialização da carne. Ela ressaltou que, cada vez mais, o mercado externo exige o comprometimento dos produtores, dos agentes envolvidos no transporte e logística e da indústria quando o tema é bem-estar. A Organização Mundial do Comércio (OMC) tem como fonte de pesquisa a Organização Internacional de Saúde Animal (OIE), órgão responsável pelo bem-estar e saúde animal em todo o mundo. A palestrante apontou itens que devem ser intensificados e pesquisados nas propriedades, como a oferta de alimento, locais protegidos para parição e para proteção dos cordeiros recém-nascidos, áreas para proteção de excesso de sol, calor e chuvas, controle de doenças como parasitas, manqueira, entre outros. “Tem coisas que só podemos constatar indo a campo, acompanhando de perto o rebanho e prestando atenção ao comportamento dos animais”, argumentou a pesquisadora.
O relatório da cadeia de ovinos obtido a partir do trabalho desenvolvido no GT Proteína Animal foi apresentado por seu coordenador Paulo Roberto da Silva do BRDE. Trata-se de um documento que apresenta dados de mercado e de produção, aponta objetivos e sugestões de ações e estratégias para todos os pontos levantados, que vão desde a produção até o consumidor final, passando pela indústria, atado e varejo, segurança e sanitário. “Este documento norteia todos os agentes envolvidos na cadeia da ovinocultura e esperamos que estes próprios agentes nos ajudem a desenvolver o que está proposto e até, a modificar o que acharem necessário” disse o coordenador do GT, ao ressaltar que não se trata de um documento fechado: "Há espaço para colaboração de todos".
Algumas propostas apresentadas no Ovinocultura em Debate, em 2017, foram trazidas para este ano, como a importância da territorialização, preservando os biomas, as características de produção e manejo de cada região, criando identidades para cada região/território, como já vem sendo explorado no Alto-Camaquã, na Fronteira-Oeste, na região do Pampa e, agora, podendo se estender para as Missões, Litoral, Central, Alto Uruguai entre outros. “O nosso objetivo maior é trazer o maior número de agentes da cadeia produtiva de ovinos, envolvê-los no que acreditamos ser um trabalho construído a várias mãos de ações efetivas e de resultados para todos”, destacou o presidente da Arco. Schwab também salientou que o evento tem cumprido seu papel nesse sentido, a cada ano envolvendo mais pessoas, mais entidades, mais representantes de órgãos e instituições que podem colaborar no desenvolvimento da ovinocultura em nosso estado e no Brasil.
De acordo com Marcos Borba, o evento, além de cumprir com o compromisso conjunto assumido pela Arco e Embrapa de, a cada ano, realizar um relato sobre a situação das cadeias ovinas no Estado, também proporcionou um olhar de oportunidades sobre a ovinocultura e, sobretudo, permitiu avançar na construção de uma estratégia para a reorganização das cadeias ovinas”. Para ele, a adoção de uma perspectiva territorial para a organização da ovinocultura em articulação com a política do GT Proteína Animal, coordenado pelo BRDE, representa o avanço mais significativo para as cadeias produtivas de ovinos em termos recentes.