Editorial
Crime inexplicável
O desaparecimento de Araceli Cabrera Crespo, então com apenas oito anos, completa 45 anos hoje. O caso, registrado em 1973, apesar de ter repercutido em todo o País, foi apenas mais um numa vasta lista de crimes contra crianças e adolescentes que, infelizmente, se repetem quase que desenfreadamente.
Assim como Araceli, muitas crianças enfrentam um dilema em suas vidas. Ainda decifrando o mundo em que vivem, sofrem nas mãos de "cidadãos" que se aproveitam da ingenuidade para cometer atrocidades jamais passíveis de qualquer explicação.
Mesmo depois de tanto tempo, a forma como a menina de oito anos despareceu continua um mistério. O excesso de versões e, até, falta de provas, resultaram, apenas, num julgamento que encerrou com a absolvição dos únicos acusados.
Aos que não recordam, Araceli foi raptada, drogada, estuprada, morta e carbonizada. O corpo foi deixado desfigurado e em avançado estado de decomposição próximo a uma mata, em Vitória, no Espírito Santo, dias depois o seu sumiço. O brutal fato, que carece de solução até os dias atuais, resultou, no ano 2000, na criação do Dia Nacional de Luta contra o Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, assinalado, aliás, hoje.
Mas é preciso, claro, muito além de uma data para não deixar Araceli e tantos outros jovens ficarem resumidos a um triste episódio guardado no esquecimento. Por mais chocante que o fato seja, é preciso gravar, na memória, que a brutalidade existe e deixa rastros destrutivos mesmo nos mais puros seres que aqui habitam.
É preciso, claro, que todos, mas todos mesmo, coloquem um basta em qualquer tipo de abuso, não apenas contra crianças, mas contra qualquer pessoa. O mundo jamais terá evoluído, de verdade, enquanto tragédias inexplicáveis como a de Araceli se repetirem.