ELLAS
Homenagem à Nossa Senhora Auxiliadora
A Casa de Cultura Pedro Wayne e o Grupo de Poetas do Cultura Sul, integrando-se às manifestações culturais e religiosas da comunidade, prepararam uma homenagem especial à Nossa Senhora Auxiliadora. O Caderno Ellas também reverencia nossa copadroeira, reproduzindo esse material que está à disposição da comunidade, na Casa de Cultura.
24 DE MAIO EM BAGÉ
Elvira Nascimento
Vale uma cidade encantada
Num macio maio nesta América distante.
Um toldo invertido de estrelas
Num chão de muito rezar
Por que, neste dia, mil velas
arfam nos beirais das casas?
Por que não olham para fora
Mas para as varandas da alma?
Os joelhos pedem paz,
as guerras não foram embora,
nem nossas dores, Maria
Oh! Senhora de maio,
alarga o olhar, o tempo do amor.
Somos cegas janelas guardando uma luz.
Escuro é o rumo...
24 de Maio
Särita Bárros
O burgo ufanoso se prepara
para o passeio da Senhora.
Das sacadas e peitoris
Pendem veludos, fitas, cetins
e por sobre brocados
uma pétala tremeluz.
Chama votiva no balcão
metamorfoseado altar.
Janelas transmudadas em vitrais
tonalizados de louvores,
graças, pedidos, saudades.
Lanternas coloridas
(frágeis broquéis da fé)
desafiam Minuano e garoa fina
na brumosa noite de mistérios e magia.
O burgo ufanoso se prepara
para o passeio da Senhora.
Que (pés descalços e singela túnica)
sobre ele estende esvoaçante manto
de turquesa, borboletas, pirilampos.
Mantilha essa que penetra frinchas,
cadeados, muros e o cofre dos
cêntricos guardados.
Derramando-se Ela por terras, águas, ares
em Seu puroinocente, abarcante amor
de Bendita Mãe e Imaculada Virgem.
Senhora dos espirais da vida
simbolizantes anéis da sacramental união
(dádiva eterna do agora)
de cada filho Seu ao abissal Divino Alento.
Auxiliadora
Maria Conceição Rosa dos Santos
Sob a luz da vela votiva
Acesa para Auxiliadora
Rogamos a Ela, Mãe Nossa Senhora
Que ilumine nossos caminhos.
Que a cada queda
Possamos levantar guerreando
Como os soldados de outrora
Guiados pelo clarão das velas
Nas nossas avenidas e vielas.
Que a falta do teto, do pão,
do afeto
Nas noites frias dos desvalidos
Não nos deixem esmorecer.
Na mão estendida para o irmão
Possamos ser caridade e solidariedade
E tenhamos a certeza
Que por intercessão de Maria
Os braços do Pai
Estarão sempre abertos
Para nos receber!
Auxiliadora
Sonia Alcalde
C o n t am q u e n um a i n sân i a g u e r r a
n a t e r r a
a l uz s e f e z .
Un i d o s p e l a d o r
n as jane las
a c e n de r am v e l a s
r o g a n d o p a z .
E c o l c h a s c o l o r i d a s de b r uça d a s
l e nço s g i g a n te s
a p l a c a v am o p r a n t o
d a i n sân i a g u e r r a .
A n o i t e c e s e m p re .
Ne m s e m p re há l uz
n e m v e l a s v o t i v a s .
M a s e m m a i o, 24
s e m p re a c o n t e c e
n a s i n g u l a r Bagé.
?
Estrelas na janela
Ada Maria Machado Guimarães
Cores da Nossa Senhora Auxiliadora no Céu.
Cores dos Revolucionários na Terra,
No Céu e Na Terra,
Caminhos e Caminheiros,
Céus e Terras Passarão,
Mas, as orações não passarão.
Esposas debruçadas em sacadas e balcões,
Luzes bordadas
Em Estrelas da Fé
Iluminações nos Corações,
Guerreiros voltam das Revoltas
Mãos devotas consagram
O manto da Auxiliadora
Preces em luzes dos Caminhos e Caminhantes...
Ladainha
Norma Vasconcellos
Põe sobre mim
tua mão de manto e mito
ó, dogma de nuvem
que me doem medos
tua coroa é só de espinhos
ou é também de estrelas?
Põe teu silêncio
sobre mim
Madona de Rafael e Boticelli
Virgem de Giotto
Maria dos santinhos guardados
na caixa-de-sapatos da infância
Maria que coroei disfarçada de anjo
em trêmulo cortejo
nas bênçãos longínquas de um maio
feito de incensos e ladainhas
Põe teu manto de infinito
sobre mim
noiva intocada
condenada sem queixas
Senhora dos Cansaços
que a anunciação é mistério doloroso:
estamos grávidos de morte
como um imenso outdoor
da condição humana
Põe teus olhos
sobre mim
Senhora dos Consolos
que minha casa é desvalida
e sopram ventos
ninguém carrega impunemente um Corpo
sendo Alma.
Luzes de maio
Gladis Deble
Folhas rolam em torvelinho
formam texturas e tramas,
A tarde mistura cores...
Ocres desprendem dos galhos.
Detalhes da coroa da rainha
na hora do crepúsculo
brilham do alto do cerro.
A cor local torna possível
Toda beleza do lugar.
Anoitece nessas paragens
É mês de maio, nossa ancestral
acendia velas votivas na janela
e pedia pela volta do seu homem
que fora a guerra.
Projetada na luz desse viés
refazemos a vida
nos desenhos dos vitrais.
Maria Auxiliadora
Rafaela Gonçalves Ribas
Estrela ungida nas
asas do mistério
Ó Maria.
Prelúdio de luz
transpassando o ombro desvalido
do homem,
Ó Maria.
Sacro véu coroado de almíscares
e açucenas
Ó Maria.
Em tem manto de cal e anil,
resguarda os oprimidos.
Em teu universo de fralda
e lágrimas,
laça os excluídos.
Em teu mudo enigma,
fortalece os que têm
a nódoa do medo.
Na auréola da tua divindade,
envolve os que sofrem o signo
da dor.
Ó Maria das bênçãos e novenas
de maio,
acende a lâmpada votiva das manhãs
e envia de novo teu Filho nascido
de amor e do dogma.
Teu Filho uno e múltiplo.
Teu Filho viandante peregrino
de muitos universos, de outros sóis.
Acolhe-nos, ó virgem das Virgens
Em teu manto de cal e anil,
em que viajam estrelas e luares.
Até que a humanidade
dissolva as frias vidraças
do desamor e do ódio.
Até que os translúcidos
cravos da paixão, procurando
o pólen da aurora, desçam serenos
ao círio do coração dos homens.