Cidade
Protesto dos caminhoneiros ganha adesão da população em Bagé
Centenas de pessoas se uniram, nas tardes de sábado e domingo, para dar apoio ao movimento dos caminhoneiros, que completa uma semana hoje. No sábado, a população se reuniu no trevo da avenida Santa Tecla, principal acesso ao município de Bagé, e ontem foi realizada uma caminhada pelo centro da cidade, até a frente do Quartel General.
Na Santa Tecla, a mobilização permaneceu por várias horas e, às 16h, houve o fechamento da via, por cerca de 20 minutos, quando foi solicitada, pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), a abertura da rodovia. Grupos de ciclistas, motociclistas e motoristas de van escolares estiveram junto com os caminhoneiros.
Conforme o caminhoneiro Pauliandre Daneres, 25 anos, a população se mobilizou para ajudar na causa. “Tudo foi organizado pelas redes sociais”, disse. O cabeleireiro Alessandro Alves, 45 anos, pertencente a um motogrupo da cidade, que conclamou os integrantes para a mobilização. Ele salienta que não tem como ficar passivo diante do problema, e não é possível deixar que somente as outras pessoas reivindiquem o que é para todos. “Temos que dar apoio, mesmo que as motos estejam quase na reserva de combustível”, ressalta.
O advogado Arnaldo Antunes, 68 anos, também atendeu ao chamado dos amigos ciclistas e resolveu se juntar à mobilização. “É o momento de fazermos algo. Pior do que está não pode ficar. Estamos prestando nossa solidariedade”, afirma.
De acordo com o caminhoneiro Ragiel Ney, os grupos optaram em permanecer na rodovia e já havia a decisão de não realizar carreata por causa da falta de combustível na cidade e pelo valor do produto. “Fizemos uma parada rápida na BR, mas nosso movimento é pacífico e não estamos trancando a via”, diz.
Intervenção
Durante caminhada, ontem, manifestantes que vestiam verde e amarelo e portavam cartazes com frases de orem, entoaram o Hino Nacional. Ao final, em frente à unidade do Exército, eles pediram por intervenção militar.
Reivindicações
A exemplo do que ocorreu em 2015, os protestos dos caminhoneiros não foram iniciados por entidades sindicais. As reivindicações da categoria incluem diminuição dos tributos sobre o diesel, a revisão da política de preços dos combustíveis, desenvolvida pela Petrobras, e a criação de tabela de frete, proposta que tramita, sem avanços, no Senado, desde o ano passado.
Desobstrução
No final da tarde de sexta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, concedeu liminar, solicitada pelo presidente da República, Michel Temer, do MDB, para autorizar a adoção de medidas necessárias para resguardar a ordem durante a desobstrução das rodovias nacionais em decorrência da paralisação dos caminhoneiros.
Ainda na sexta-feira, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) acolheu a Ação Civil Pública ajuizada pela Procuradoria-Geral do Estado, estabelecendo que as medidas autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes têm aplicação também às rodovias estaduais.
A medida, na prática, permite que o governo impeça a ocupação, a obstrução ou a imposição de dificuldade à passagem de veículos em quaisquer trechos das rodovias, inclusive nos acostamentos, garantindo a trafegabilidade, inclusive com auxílio das forças de segurança pública.
Reflexos
A paralisação produz reflexos distintos. Em Bagé, faltam combustíveis nos postos. Em função do desabastecimento, a coleta de lixo deve sofrer alterações. A Secretaria Municipal de Educação e Formação Profissional suspendeu as aulas. A linha de transporte que faz o trajeto até o campus rural da Universidade da Região da Campanha (Urcamp) não deve ser realizada, hoje.
Por conta de um decreto assinado pelo prefeito Divaldo Lara, do PTB, na sexta-feira, 25, até quarta-feira, 30, as secretarias municipais devem funcionar em turno único, das 8h às 14h. A medida não vale para os gabinetes do prefeito e do vice-prefeito. No sábado, 26, o Sindicato das Empresas Distribuidoras, Comercializadoras e Revendedoras de Gases em Geral no Rio Grande do Sul (Singasul) informou que o Estado não possui mais gás de cozinha à venda para os consumidores.
Autuações
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou, ontem, que tem intensificado as autuações de veículos estacionados na pista principal ou lateral das rodovias e nos acostamentos. O monitoramento aéreo também está sendo empregado no acompanhamento dos pontos de concentração de manifestantes.
Desde a quinta-feira, a PRF realizou, no Rio Grande do Sul, mais de 30 escoltas para caminhões com cargas sensíveis, visando o abastecimento de serviços públicos essenciais, inclusive com o apoio do Exército e da Brigada Militar.
Foram escoltadas cargas de combustível para o aeroporto e para postos que abastecem viaturas e ambulâncias. Também foram escoltadas cargas de água mineral e produtos químicos para o tratamento de água e oxigênio para hospitais. A PRF deve continuar o trabalho de fiscalização e escoltas no Estado.