Editorial
Bispado reconhecido
A renúncia do bispo Dom Gílio Felício, anunciada ontem, após o próprio papa Francisco dar o aval ao pedido de afastamento, não marcou o final de um ciclo, mas reconheceu uma trajetória de uma personalidade que conquistou, ao longo de 15 anos de atividade junto à Diocese de Bagé, muito mais que fiéis, mas amigos.
A despedida da Rainha da Fronteira, que pode ou não se confirmar – dependerá da vontade de Dom Gílio –, atendeu a uma questão de saúde. Não fosse isso, talvez, a diocese permaneceria com o mesmo bispo por muitos anos mais.
Este ano, no mês de março, o Jornal MINUANO publicou matéria especial e exclusiva, com o bispo, exatamente para assinalar sua trajetória. A reportagem, naquele momento, já tinha conhecimento dos desafios enfrentados por Dom Gílio, mas, por merecimento do próprio entrevistado, preferiu detalhar sua história, iniciada no município de Sério, no Rio Grande do Sul, onde nasceu.
Naquela oportunidade, Dom Gílio recordou, em detalhes, trechos que classificou como determinantes em sua vida. Como, por exemplo, sua criação na periferia de Santa Cruz do Sul. Lá, disse ele, descobriu o interesse pela vida religiosa e, diante de tal aspiração, passou a buscar informações que o levaram ao sacerdócio. Peculiar como ele só, recordou uma manifestação de sua mãe ao relatar o desejo de se tornar padre: “Eu nunca vi padre preto, acho que não é possível. Mas vai lá na igreja para saber melhor”. De certa forma, evidenciou um preconceito que muito se viu ao longo da história, mas que encarou a altura. “Eu fazia do limão uma limonada”, frisou ele, também ao MINUANO. Talvez fosse o destino traçando rumos. Até porque foi ele a se tornar o primeiro bispo negro da história do Rio Grande do Sul.
Agora, Dom Gílio será bispo emérito. E com todas as justificativas possíveis. O momento, mais que tudo, é de agradecimento a alguém que contribuiu para a elevação espiritual de Bagé e região.