Editorial
É preciso mais que posição
O arquivamento da proposta do governo do Rio Grande do Sul que buscava readequar prazos na legislação para permitir da realização de um plebiscito para questionar a população sobre a privatização das estatais no setor de energia (CEEE, CRM e Sulgás), antes das eleições deste ano, não representou apenas uma derrota no Parlamento, mas a demonstração de que, para convencer os representantes dos gaúchos na Assembleia, quanto ao assunto, será preciso muito mais que posição.
Buscar alternativas para enfrentar o déficit do caixa é um ato elogiável. Não que o chamado Regime de Recuperação Fiscal seja inviável – até pode ser –, mas não pode ser exaltado como o solucionador dos problemas apenas através de um posicionamento firme e argumentos sem números específicos.
Ao levantar a possibilidade de privatização de estatais, seja qual for, a gestão precisa expor como se comporta cada empresa. Há déficit ou não? E mesmo se houver, desestatizar é a melhor opção? É a única? Estes questionamentos são fundamentais neste âmbito. Primeiro porque, para qualquer decisão, será preciso apoio. Tanto da população – eleitor – quando do parlamento. Caso nenhum dos dois houver, e com certa supremacia, dificilmente a proposta irá vingar. Foi o exemplo atual.
Aliás, a iniciativa envolvendo a Companhia Riograndense de Mineração (CRM), que possui sua principal unidade de Candiota, seria necessário apresentar dados mais relevantes. Bem mais do que dizer que a empresa tem diminuído a comercialização de carvão para a Usina Presidente Médici, sua principal e única cliente. Ocorrer que até pouco tempo atrás, o próprio governo financiou parte de uma iniciativa privada, no mesmo município, destinada a extrair o mineral para a Usina Pampa Sul. Ou seja, auxiliou uma concorrente, diga-se de passagem. Poderia, naquele momento, ter negociado para que a própria CRM assumisse o papel de fornecer o produto à futura Usina.
Portanto, é evidente que o Estado precisa se adequar a uma difícil realidade, colocar as contas em dia. E até apertar o cinto, se necessário. A atual gestão, aliás, vem fazendo isso, em parte, evitando gastos mais exorbitantes. O que não pode é buscar medidas mais fortes sem antes apresentar justificativas mais profundas quanto aos seus projetos.