Segurança
Testemunhas são ouvidas em caso de feminicídio
Publicada em 09/06/2018
A primeira audiência de instrução do caso de feminicídio de Darlene da Silva Pires, 36 anos, foi realizada na tarde de sexta-feira. A juíza Naira Melkis Caminha, da 1ª Vara Criminal, ouviu oito testemunhas de acusação. Segundo informações do processo, este será o primeiro procedimento antes de ser dada a sentença de pronúncia.
O acusado pelo crime, ocorrido no dia 7 de abril, Rodrigo Fonseca Garcia, de 31 anos, foi preso, em flagrante, na madrugada do dia 12 de abril. Ele responde pelo feminicídio e pela ocultação do cadáver de Darlene. No dia 4 de maio, o Ministério Público (MP), através do promotor de Justiça, Cláudio Rafael Morosin Rodrigues, ofereceu denúncia contra Garcia.
Oitivas
A primeira a ser ouvida foi a titular da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam), delegada Carem do Nascimento. Ela relatou o depoimento do acusado e também contou alguns detalhes da investigação.
Darlene foi morta a golpes de capacete na cabeça. Seu corpo foi ocultado na localidade de Três Flores, Distrito de Palmas, zona rural de Bagé. Foram ouvidos quatro policiais civis que fizeram o trabalho de investigação e do inquérito. Um deles contou que em um primeiro momento, Garcia negou e contava a versão da história de desaparecimento, sustentando que a vítima teria pego carona em uma caminhonete vermelha. “Não prestei muita atenção, mas minha colega achou estranho o fato da frieza dele, pois apenas falou normalmente, tranquilamente”, explicou.
O policial também destacou que, após, lembrou de um caso, onde a mãe matou a filha e também havia registrado desaparecimento. “Depois ficamos desconfiados e então questionamos mais e, em um determinado momento, ele chorou um pouco e contou como tinha matado a vítima”, ressaltou.
O capacete da mulher foi uma prova material. Ambos os policiais contaram que os filhos reconheceram. A escrivã de polícia se emocionou ao relatar que os filhos ficaram muito tristes, pois acreditavam na versão do desaparecimento que ele havia contado. “Outra coisa que não acreditávamos era a motivação, pois ele sempre destacou que seria porque a moto estragou e então ela teria ‘batido boca’ e ele a agrediu com o capacete”, informou.
Outro fato informado pelos policiais foi sobre o suicídio do pai do acusado. Darlene foi morta no sábado. No domingo, o denunciado ligou para uma irmã para dizer que ela e o pai confirmassem que ele foi para a casa dos pais acompanhado dela. Na segunda-feira, o denunciado fez o registro policial de desaparecimento da vítima e o pai dele veio para Bagé, para fazer exames, quando viu a repercussão do caso. Ao retornar para a casa, na zona rural, cometeu suicídio.
Os agentes também enfatizaram que Garcia não era pai dos filhos de Darlene e que eles estavam em um relacionamento há dois anos. “No dia do registro do desaparecimento, o irmão e a mãe dela estavam desesperados. Ele parecia tranquilo, frio, estava ali somente acompanhando, fazendo a social, em atitude normal”, salientou um dos policiais.
Foi ouvido, também, um trabalhador rural que trabalha na Estância do Salso, local próximo onde Garcia trabalhava, e onde, também, ele teria ocultado o cadáver de Darlene. O trabalhador destacou que viu luzes de duas lanternas e os cachorros latiram. Ele, então, saiu para verificar. No momento, viu o denunciado passar de motocicleta e os homens que estavam próximo apagaram a lanterna e depois ligaram novamente. Ele contou, também, que acredita que estavam caçando no local. “Fui chamar o capataz de lavoura. Ele foi até o local comigo e contei sobre as luzes das lanternas. Garcia saiu para outro lado das luzes. Estava com um capacete no braço. Ele foi em direção à casa de seus pais”, contou.
O capataz confirmou a história, informando que conhecia muito bem o pai de Garcia. “Era um homem sério, responsável, correto. Acredito que ele se matou por alguma coisa relacionada a isso. Não estava doente, que eu saiba”, completou.
Outro vizinho da família acrescentou que fazia mais de três anos e meio que não via o acusado e que no dia do suicídio do pai dele foram até a localidade. “Minha esposa foi internada e então tinha que buscar minha mãe, que mora em Palmas, para ficar com a minha filha de três anos. Passamos por ele e o irmão da Darlene, no meio do caminho. Ele me contou que estavam procurando a vítima. Estava tranquilo, normal e o irmão estava mais nervoso. Me contou da carona na caminhonete”, esclareceu.
O vizinho reforçou que foi na casa da família após a morte do pai do denunciado. “Ao chegar lá, a mãe comentou que o homem havia dormido na casa sem Darlene, e que o capacete, que ela achava que era dela, estava no local. Então, eu vi que o capacete tinha mancha de sangue na viseira e também na parte de cima. Ela viu também. Parecia uma marca de sangue de um dedo passado ali”, disse.
Etapas
Após a oitiva, o processo continua em trâmites, de gravação dos depoimentos e após são marcadas novas audiências, para posterior interrogatório do réu. Somente após ouvir o denunciado, a juíza então profere a sentença de pronúncia.
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