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A pequena Rússia do Pampa

Publicada em 12/06/2018
A pequena Rússia do Pampa | Cidade | Jornal Minuano | O jornal que Bagé gosta de ler
Voth explica processo histórico que trouxe famílias imigrantes para a região da Campanha

A partir do meio-dia da próxima quinta-feira, 14, até o dia 15 de julho, o futebol será um dos assuntos mais comentados em grande parte dos países dos cinco continentes. A 21ª edição da Copa do Mundo terá como palco o país com a maior área de extensão do planeta: a Rússia. O que talvez muitos não saibam é que a região da Campanha gaúcha abriga uma das mais prolíficas áreas de colonização de imigrantes russos: a Colônia Nova, em Aceguá.
A colonização reuniu, na verdade, os menonitas, grupo cristão que descende do movimento anabatista, surgido na Europa no século 16, durante a Reforma Protestante. Na manhã de sábado, a reportagem do Jornal MINUANO foi recebida no Museu da Colônia Nova, que relembra a trajetória dos imigrantes. A história de resistência foi narrada pelas duas responsáveis pela memória da Colônia Nova, Ingrid Janzen Hubert e Susi Boschmann Martens, e pelo professor Henrique Voth, grande conhecedor da história da imigração.
Ingrid conta que por causa da perseguição religiosa, os menonitas se espalharam por toda a Europa, liderados por Menno Simons, que deu origem ao nome menonitas. No final do século 18, um grupo que ocupava a Prússia (uma região histórica, que se estende desde a baía de Gda?sk, na Polônia, até a costa sudeste do mar Báltico, na Letônia), foram convidados pela imperatriz russa, Catarina, a Grande, para povoar uma região ucraniana, na época ainda território do império russo.
Vivendo quase exclusivamente de atividades agrícolas, como extensas plantações de trigo, os menonitas rapidamente se adaptaram ao novo território. Contudo, um dos pontos do tratado que concedeu abrigo a eles limitava a vivência da fé menonita apenas dentro da comunidade. Ou seja, poderiam viver de acordo com os preceitos de sua própria religião, desde que essas convicções não fossem estendidas à evangelização do povo russo.
A eclosão da Guerra da Criméia, na segunda metade do século 19, a 1ª Guerra Mundial, em 1914, e a Revolução Comunista, em 1917, criaram um ambiente hostil e longe da tranquilidade dos primeiros anos na nova colônia. Assim, os menonitas novamente deixaram suas terras em busca de um local onde pudessem exercer sua fé livremente.
Ingrid explica que através da Alemanha, que garantiu salvo-conduto para a passagem de milhares de menonitas, espalharam-se para o Canadá, Paraguai e Brasil. Na década de 1930, mais de 1,2 mil refugiados chegaram a Santa Catarina. Com dificuldades de se adaptar ao solo pedregoso, alguns viram na terra preta e fértil da região da Campanha um ambiente mais propício para o cultivo agrícola, principalmente o trigo. E para cá vieram em 1949.
As primeiras colheitas de trigo foram satisfatórias, mas, a partir de 1957, fracassos sequenciais desestimularam os recém-chegados. Muitos voltaram à Santa Catarina. "Aprendemos na Rússia que a união faz a força e, por isso, sobrevivemos. Essa primeira dificuldade nos provou que a monocultura não era uma boa ideia, e assim ampliamos as matrizes-produtivas", relembra Voth, destacando a grande expressão da colônia na produção de laticínios, que mais tarde deram origem à Camal, Cooperativa Agrícola Mista de Aceguá.

Cultivando tradições
Os anos de colonização na Rússia ficaram para trás, mas certos elementos da cultura foram incorporados pelos menonitas. Voth conta que hoje muitas expressões comuns são russas e o próprio dialeto falado mistura russo, alemão e até o português. "Um dia eu falei para uma aluna que usava o kalat, que é uma palavra russa para designar o guarda-pó (espécie de avental para proteger a roupa dos professores do pó de giz). E ela me questionou se eu estava falando russo. Mas na verdade era uma expressão que eu nem me dava conta, apenas falava", recorda.
Outro aspecto cultural muito forte, a culinária, também incorporou receitas provenientes dos anos passados na terra dos czares. Susi conta que, ainda hoje, o borsch está presente nas mesas das famílias. O prato russo é uma espécie de sopa tradicional feita com legumes, principalmente repolho e beterraba e carne. Geralmente, é servido com nata azeda. Para a sobremesa, a obstsuppe é a protagonista, literalmente uma sopa de frutas, que utiliza, principalmente, frutas secas, como uva-passa, ameixa e damasco. Até mesmo itens utilizados durante a colonização na Rússia foram usados até o início do século 20, no Brasil, como o rukamoñak, espécie de balde com um mecanismo que facilita o manejo da água, uma forma de torneira arcaica. Esse, entre outros itens trazidos pelos primeiros imigrantes direto da Rússia, como uma bíblia em russo e um vestido de noiva preto tradicional, são algumas das peças do acervo, doadas pelas famílias fundadoras da Colônia. O museu pode ser visitado mediante agendamento, feito diretamente com as coordenadoras do espaço através do telefone (53) 99967-9797.

Proximidade entre tundra e pampa
Mas ainda hoje há conexões entre os rincões do Pampa e as tundras geladas da Rússia. Muitas famílias não conseguiram deixar o país durante a Revolução Comunista. Os que sobreviveram aos gulags, campos soviéticos de trabalho forçado, permaneceram no país. "Tive a oportunidade de visitar a Rússia, em 2010, e conheci um primo que sobreviveu aos campos. Ele foi preso porque meu tio tinha uma espécie de colheitadeira, e por isso era considerado rico e opressor do povo. Mas eles também eram pobres, só tinham condições melhores. Meu primo ficou cinco anos preso e só depois desse tempo foi julgado e liberado. Somente ele e outro rapaz de todo o povoado onde viviam conseguiram sobreviver", relata Voth.

Quando o assunto é futebol
Sobre os jogos da Copa, eles garantem que a seleção do coração é a brasileira. "Afinal, somos brasileiros. Esta terra acolheu nosso povo e nascemos aqui", conta Susi. Ela também comenta os prós de ter outras seleções para torcer: "Se um dos países, Brasil ou Alemanha, é eliminado, nós temos outro para torcer. Mas não costumamos torcer para a Rússia. Isso ficou no passado", afirma.

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