ELLAS
26ª Arte na Vitrine
Obra "Passeio poético por Bagé", de Ernesto Wayne, servirá de referência para os artistas expositores
Dezenas de obras de arte que referenciam a Rainha da Fronteira, seus referenciais e a história devem embelezar as vitrines das lojas da cidade, durante a Semana de Bagé. Trata-se da 26ª edição do Arte na Vitrine, uma iniciativa da Associação Comercial e Industrial de Bagé (Aciba) e da prefeitura, que visa destacar a produção dos artistas bajeenses, fomentar a integração com os empresários e, principalmente, oportunizar que a arte esteja acessível a todos, através das vitrines do comércio local.
Homenagem a Ernesto Wayne
A proposta que norteia o trabalho dos artistas, este ano, será baseada no livro de poemas "Passeio poético por Bagé", de Ernesto Wayne. A obra foi escrita há 22 anos, onde Wayne fala, através da poesia, sobre as peculiaridades, localidades, arquitetura e história da Rainha da Fronteira. Hoje, transcrevemos alguns dos poemas que ilustram o livro e imagens de obras que estarão espalhadas pelas vitrines da cidade.
Avenida Sete
Se acomodou Dom Diogo
No final da Rua Sete,
A qual assim se chamou
Por serem seus moradores
O caboclo Tranca-Rua
E o caboclo Sete Flechas:
Tranca-Rua, Sete Flechas
Seja o nome Rua Sete.
Garantem historiadores,
Pesquisadores de truz,
Não poderia ser rua,
Rua Sete de Setembro,
Pois, ora tenham paciência
Que o ano recém era
Mil oitocentos e onze,
Não chegara a independência!
O nome da Rua Sete,
Por causa dos dois pajés,
De índios que aqui assistiam,
Caboclos que se chamavam
Tranca-Rua, Sete Flechas!
Vamos, pois enveredar
Pela rua principal,
A dita Avenida Sete,
Onde há muito que se olhar,
Meninas pra se flertar.
Pra namorar, meninotas
Moças-feitas pra noivar,
Velhotas que não desistem
De seu querer se casar,
Anciãs pra se recordar:
Estão todas, que é domingo,
Missa assistindo das dez.
A Catedral
Entremos na Catedral,
Ir lá é fazer viagem
Nas carruagens da história
E nas caleças da lenda...
Frontispício tem imagem
De Santa que, pelo cerco
Da então Igreja Matriz,
Não sofreu nem arranhão,
Nem raspão sequer de bala,
Enquanto toda fachada,
De frente pro tiroteio,
Era de furos picada,
Era de rombos crivada;
Se diz que, em 93,
Quando faltou que comer,
Eram carneados cavalos,
suas carcaças são postas
Depois, ao sol, pra secar.
Bandeiras de couro cru
A tremular, tataleando
Nas janelas dessa igreja
Estátua do Dr. Penna
Na Praça da Catedral,
Antes Praça da Matriz,
Estátua do Dr. Penna
Que, enquanto viveu, foi médico,
Ou, melhor, foi coração,
Agora que é monumento,
Embora esteja ao relento,
É médico dos mendigos,
Sentados no pedestal,
Bêbados ébrios de frio,
Dá consultas pras estrelas,
Constelações constipadas,
Passa receitas prontas
Pros resfriados dos astros
E para o céu, se tem gripe
A tossir trovões e raios,
Examina a lua cheia
E constata gravidez...
O Coreto
Na Praça fica o Coreto,
Em que se tinha retreta
Da bandinha do Congonha,
Retratista lambe-lambe
Tirava ali suas fotos:
Se fosse mulher bonita,
Provava com a saliva
Gosto da moça na chapa...
O Coreto dos discursos
Retumbantes dos comícios
De abaixo e morra o governo!
Anjos e cisnes
Ah, a Praça do Jardim,
Com fontes que cascateiam;
Nelas, anjo toma banho
Com sabonetes das flores
Que ipezeiros amarelos
Lhe mandam para esfregar
Catinguinha das axilas,
Justo onde nascem as asas
(São duas as asas dele:
Uma delas pra voar
E mais outra, donde emana
Seu cheirinho de sovaco...)
Esse anjo abraça um cisne,
Figuram as suas penas
As velas brancas de barcos
Conquanto seja o palmípede
Não mais que ferro batido...
Prédio da prefeitura
Do lado de lá da praça,
Um tanto grego e romano,
O prédio da prefeitura:
É todo aberto em janelas,
De certo, foi feito assim
Pra que, por elas, circulem
Ares da democracia
No clarão azul do dia,
Por elas entram e saem
Vozes da população
E, pelas sacadas, se ouvem
Direitos do cidadão!
As lojas
Neste subir e descer,
Ponta acima, ponta abaixo,
Ao longo da Rua Sete,
Vamos parar para ver,
Vamos fazer umas compras
Nas lojas que nela estão:
Instituto Municipal de Belas Artes
É, pois, do Conservatório,
Com pórticos, com terraços,
Que se coroa, no alto
Por bolota, uma pelota
Que representa o planeta,
Este mundo em que se vive:
Como podem suas colunas
Já sem forças de tão velhas,
Sustentar sem tremer pernas
Peso do globo terrestre?
- Não importa, o que mais vale
É música que lá se faz,
Mesma música que se escuta,
Quando o vento passa pelas
Árvores do paraíso,
Como se cellos, no céu,
Tomassem forma de nuvens...
Praça da Estação
Praça Júlio de Castilhos
Com seus plátanos de outono,
Foi a Praça da Estação,
Partiam, chegavam trens,
Saudade que vinha vindo
E saudade se indo embora
Em vagões de nostalgias,
Os apitos são suspiros
Das locomotivas ao
Passar pela Ponte Seca
(Um arco-íris de ferro,
Viaduto sobre a rua),
Carros de praça em fileira,
Pregões dos carregadores,
Louvando o Hotel Paris,
Hotel Fronteira, Pensão
Vellar – que tem água quente,
Camareiras camaradas,
Arrumadeiras que sempre
Aliviam solidões...
Mallet, no seu monumento,
Espera a qualquer momento
Trem da serra, de Pelotas...
Onde se tinha a estação,
Centro Administrativo
Município fez agora.
Igreja da Conceição
E nesse longo passeio,
Vamos rezar noutra igreja,
depois das orações feitas
Na nave da Catedral:
Igreja da Conceição,
Onde se erguia a capela
Que depois foi demolida,
Seus antigos anjos voam
Não se sabe como, pois,
Ao se pôr abaixo o templo,
Suas asas se quebraram...
Os museus
Gente boa que morre vai pro céu,
Das coisas do passado que morreu
Também as almas não vagam ao léu,
Vão pro céu das coisas- o Museu…
Há o Museu Dom Diogo,
Do Forte de Santa Tecla,
Também Museu da Gravura,
Os museus que nos deixou
Tarcísio Costa Taborda
A Universidade
Há uma universidade
Em URCAMP abreviada,
Existem rampas la dentro
De subir pra imensidade,
Estátua do Pensador
A cogitar mais fazer
De melhor pra mocidade,
E nela existe o CENARTE:
Produtosde su talento,
Cada trabalho um portento,
Se leva pra toda parte
Há um fazer de pintura,
Há um labor de gravura,
Um fazer muito de música,
Recitais, consertos, óperas,
E tem, também, o teatro,
Onde, no palco, se pensa
Ser mentira o que se diz
E, vai-se ver, é verdade!
Associação Rural e Aciba
Expofeira da Rural:
São touros, carneiros e vacas,
São ovelhas e novilhas,
Raças aristocratíssimas,
Nobreza de quatro cascos,
Perdão, de quatro costados,
Com as cabeças cingidas
Pela tiara das aspas,
Pelas coroas dos cornos,
Todos envoltos em mantos
de couro que, ultimamente,
Refletem brilhos e luzes
Ao passar pelos salões,
Com seus títulos escritos,
com seus brasões registrados,
Nos armoriais nobiliárquias,
Tudo para garantir
Excelência e qualidade
E perfeição de perfis
Do que produz, do que criações
A pecuária em Bagé
Nas estâncias modelares,
Nas fazendas exemplares,
Nas explendidas cabanhas
Que se estendem primorosas
Pelos pagos da querência
E coxilhas da Campanha,
Vale a pena ver de perto
Pujante lida campeira!
Da indústria e do comércio
tem a Aciba, que promove
Exposições nas vitrinas
Na Semana de Bagé,
Em que, ao lado de vestidos,
E bolsas, sapatos, luvas,
Se tem poemas e quadros,
Se tem versos e desenhos
Pra sugerir que os artigos
das lojas, dos antiquários
Também são obras artísticas,
O que não deixa de ser
Verdadeira realidade...