Editorial
Perigo na tela
Há tempos, em especial após a mais recente eleição norte-americana, muito passou a se falar sobre a interferência possível de ocorrer a partir das redes sociais. Pois um estudo mais aprofundado expôs tal cenário de forma mais clara ainda. Um relatório elaborado pelo Instituto de Internet da Universidade de Oxford, no Reino Unido, apontou a manipulação na internet em 48 países.
Os autores, segundo publicação da Agência Brasil, identificaram, entre 2010 e 2018, campanhas que visaram influenciar os cidadãos em polêmicas políticas e eleições em 48 países. “As nações estão localizadas em todos os continentes, como Américas, África, Europa, Ásia e Oceania. São listados casos mais notórios, como os Estados Unidos (na eleição de Trump em 2016) e o Reino Unido (com o referendo de saída da União Europeia em 2016). O Brasil foi citado como um dos locais onde as ‘cibertropas’ atuaram, tendo como referência as eleições de 2010.”
Na prática, o levantamento somente coloca à vista de qualquer cidadão mais desconfiado o que mais ou menos já se imaginava. E engana-se quem pensa que tais ações, visando estimular o eleitor para um determinado segmento ou pensamento, se resuma ao âmbito político. “Os pesquisadores mapearam partidos e entidades privadas atuando para influenciar a disputa”.
Os tópicos mais chamativos do levantamento, por assim dizer, partem da identificação de um crescimento de mais de 70% nas iniciativas de manipulação do debate político. “Na edição anterior do inventário, divulgada em 2017, haviam sido registrados 28 casos em diferentes países. Em cada um desses países há pelo menos um órgão público ou partido político envolvido nesse tipo de mobilização em redes sociais”, cita trecho da reportagem.
Responsáveis pelo estudo avaliam que a elevação é motivada pela atuação em processos eleitorais, no caso de legendas, e de reação à difusão das chamadas notícias falsas, no caso de agências estatais. “O emprego de recursos para influenciar agendas políticas online por partidos foi localizado em 30 dos 48 países. Já a atuação de governos, muitas vezes, esteve relacionada ao medo de interferências externas nas discussões promovidas na internet. Essas iniciativas envolvem, também, órgãos criados para combater as notícias falsas”.
É possível, perante tais dados, projetar que até o pleito de outubro, as “influências” que já ocorrem, vez ou outra, como o próprio Facebook – para utilizar um exemplo recente – demonstrou ao suspender mais de 200 páginas mencionadas como responsáveis por difundir informações falsas, devem surgir. Na prática, caso as punições não sejam elevadas a um patamar quase que extremo, dificilmente tal cenário irá mudar. E, aí, o pleito ficará à mercê de questionamentos. Espera-se, porém, que não. Mas que os perigos presentes nas telas, de computadores e celulares, são reais, isso são.