Editorial
História perdida
O incêndio que destruiu o Museu Nacional, entre a noite de domingo e a madrugada de segunda-feira, não foi um fato isolado. Tampouco vítima de um incidente aleatório. Foi o resultado de uma estratégia de gestão, em termos de País, que, por vezes, menospreza a necessidade de investimentos para a preservação da história.
É lógico que, agora, dada a repercussão do episódio, muitos voltem suas atenções para a tragédia. Sim, a tragédia que colocou fim a relíquias que, por mais que se voltem investimentos posteriores, jamais será recuperada. Itens raros, como múmias egípcias, compradas pelo Brasil por Dom Pedro I, e o crânio de Luzia, o mais antigo fóssil humano encontrado no País, com cerca de 12 mil anos, se foram. Viraram, de forma derradeira, cinzas como quase tudo que lá estava.
Faz parte, dirão alguns. De fato faz. Mas este incêndio, que não é o primeiro a acometer espaços destinados a resguardar a história, é um simples reflexo do que a corrupção e políticas simplistas têm causado à Nação. São atitudes que congestionam orçamentos de tal forma que o pouco que resta, por apelo da própria população, acabam sendo concentrados em pilares considerados mais essenciais, como Educação, Saúde e Segurança. De fato, até são mais importantes. Mas caso houvessem gestões plenas, que concentrassem esforços em direcionar as verbas, sem desvios, todas as áreas seriam contempladas. É impossível crer que o País que produz comida em quantidade para alimentar quase todo o planeta não possa ser viável, ter saúde financeira. Somente assim, com deficit em cima de deficit, por falta de gestão, ou, simplesmente, desinteresse.
Agora, colocado abaixo o principal reduto da história nacional, as visões no sentido da preservação podem até mudar. A projeção, de fato, é que isso seja alterado. O mínimo que seja, mas que viabilize a manutenção efetiva de espaços destinados a tal fim. De qualquer forma, hoje, a história foi perdida. E isso levaremos de herança para o futuro.