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Artista bajeense lança trabalho denunciando machismo na música tradicionalista
A escolha de hoje, Dia do Gaúcho, como a data de lançamento da música “Manifesto Líquido”, da violinista e etnomusicóloga bajeense, Clarissa Ferreira, não é apenas mera coincidência. Com a composição, ela questiona a representação machista da mulher em músicas regionais tradicionalistas.
A bajeense conta que começou a tocar aos doze anos, no Instituto Municipal de Belas Artes (Imba). O contato com a música e cultura gaúcha deu-se durante o período de formação acadêmica, em Pelotas, através de convites para tocar em grupos de dança do Centro de Tradições Gaúchas e festivais de música nativista. Paralelo a isso, começou a pesquisar dentro da academia sobre a música regional gaúcha e compreender o processo de construção da identidade e tradição do Estado. “Esse processo de construção excluiu algumas identidades como a do índio, do negro e da mulher”, destaca.
A disparidade de gênero também foi notada por ela dentro do próprio ambiente musical: “Eu era uma das pouquíssimas instrumentistas no ambiente da cultura gaúcha e comecei a perceber que as temáticas das músicas e toda essa construção baseava-se a partir de performatizações do masculino. A partir daí, comecei a observar os machismos nas composições e no cotidiano”, conta.
Estas questões foram abordadas por ela em seu blog, Gauchismo Líquido, onde compartilhou o resultado das pesquisas de mestrado e doutorado em Etnomusicologia. Agora, resolveu trazer essas considerações para a prática de sua atuação como musicista, através de suas composições. “Trouxe esta questão para o meu fazer artístico e comecei a compor sobre o tema. A "Manifesto Líquido" é a primeira que lanço e já estou apresentando um show com canções que têm como temática a visão da cultura gaúcha por uma perspectiva da mulher e da contemporaneidade, também através desse filtro. Em breve, pretendo lançar um EP com essas composições”, adianta Clarissa.
Sobre a recepção de seu trabalho no meio nativista, ela afirma: “Hoje é mais tranquilo para me posicionar com o que penso. As pessoas têm que compreender que estamos tratando de questões estruturais da cultura, de comportamento, e não críticas pessoais. Essa cultura da violência imposta pela cultura gaúcha compreendida, como é atualmente, acaba sendo muito nociva e excludente. Precisamos urgentemente rever esses conceitos”, declara.
E quem ficou curioso com a "Manifesto Líquido" de Clarissa, pode encontrá-lo a partir de hoje no YouTube e nos serviços de streaming ou acompanhar o trabalho através da página da artista.