ELLAS
O sonho e o País das Maravilhas
Adriana Di Lorenzo
Psicoterapeuta psicanalítica e professora
adridilorenzo@uol.com.br
Desde pequena, lia e relia As aventuras de Alice no País das Maravilhas. Lembro-me de que ficava angustiada. Muitas vezes, não compreendia as reflexões de Alice. Tentava entendê-la. Talvez na ânsia de me entender e de entender o que estava por vir.
Para quem não lembra a obra de Lewis Carroll conta a história da menina Alice, curiosa e questionadora. Em um belo dia, sonolenta, adormece com um livro na mão, embaixo de uma árvore. E sonha...
Durante seu sonho, começa a fazer uma série de reflexões. Até que aparece um coelho branco. E como todo o sonho é estranho, o de Alice não poderia ser diferente. Ela resolve seguir o coelho e acaba caindo em um buraco. Só mais tarde, descobre que aquele é o caminho para o País das Maravilhas. Um lugar povoado por criaturas que misturam características humanas e fantásticas.
À medida que a narrativa transcorre, toda em seu sonho, Alice trava diálogos desconcertantes e vai, aos poucos, nos desconcertando.
A entrada súbita e inesperada da adolescência assusta a protagonista. Alice não entende o que está acontecendo com seu corpo, que passa por frequentes alterações de tamanho. Ora está pequeno, ora muito grande, atingindo somente sua estatura normal quando está por acordar.
Aos poucos, a menina começa a entender que o crescimento é inevitável. Porém, não sabe como equilibrar seus desejos com as expectativas dos outros.
Difícil questão a de Alice!
Difícil questão a nossa!
Quantas vezes cedemos? Quantas vezes optamos em agradar? Quantas vezes nos deixamos para trás?
Difícil questão a nossa!
Difícil questão a de Alice!
No entanto, a menina adolescente encontra um caminho. O sonho! É nele, no País das Maravilhas que ela busca suas respostas e começa a fazer suas escolhas.
Em 1900, Freud, na obra A interpretação dos sonhos, introduz uma nova visão sobre a natureza dos sonhos. Para o psicanalista, na maioria das vezes, o que sonhamos não é o que parece ser, mas sim algo distorcido. Algo mais profundo que precisa de interpretação.
No sonho, nos sentimos seguros para revelar nossos desejos, nossos traumas e outros elementos que se escondem em nosso inconsciente.
É no sonho que Alice nos convida a sonhar. A buscarmos o nosso País das Maravilhas.
Alice nos ensina que o mundo adulto pode ser muito interessante. Mas que, às vezes, é preciso driblar sua fragilidade e sua superficialidade.
Basta sonharmos. Basta não nos perdermos no meio do caminho...
A obra de Carroll não é uma história só para crianças. Ela se dirige aos adultos. Ela se dirige a todos nós.