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Opinião

Um Território de Diálogos

Publicada em 24/11/2018
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por Roger Lerina*

O Festival Internacional de Cinema da Fronteira chega a sua décima edição sob o signo do diálogo – característica, aliás, que acompanha o evento desde seu surgimento, em 2009. Mais do que nunca, porém, é preciso conversar – e o cinema é uma arte particularmente vocacionada para a troca de ideias, emoções e percepções de mundo. Para comemorar sua primeira década, o festival cruza literalmente a fronteira a fim de congregar mais públicos: o evento – que vai se realizar de 27 de novembro a 2 de dezembro – exibirá filmes de longa e curta-metragem em Rivera, no Uruguai, e nas cidades brasileiras de Santana do Livramento e Bagé.
A seleção dos títulos do 10º Festival da Fronteira também teve como norte essa vontade de criar ou fortalecer elos. Entre os cinco longas da mostra competitiva, por exemplo, essa disposição é central: a curadoria escolheu filmes que buscam lançar um olhar para o outro, para o diferente, para o ainda desconhecido ou marginalizado – seja do ponto de vista do tema e da realização dessas produções ou das próprias relações que se estabelecem entre elas e também com o espectador. Assim, por exemplo, teremos nesta edição duas visões sobre a infância e a juventude vividas na periferia e na ausência dos pais e de um lar: "Cuadros en la Oscuridad" e "Meio Irmão".
Inédito no Brasil, "Cuadros en la Oscuridad" é o novo filme de Paula Markovitch, diretora argentina radicada no México cujo longa anterior, "El Premio" (2011) – que também será exibido no Festival da Fronteira, fora de competição –, recebeu o Urso de Prata no Festival de Berlim. Em seu mais recente trabalho, a cineasta faz uma homenagem ao pai, o artista plástico Armando Markovitch, ao mostrar a amizade de um garoto e de um velho pintor em um lugarejo próximo a Córdoba, na Argentina. Já em "Meio Irmão", longa de estreia da jovem realizadora Eliane Coster, uma adolescente que mora no subúrbio da capital paulista está desorientada e sem dinheiro depois que a mãe desapareceu há dias. Sandra procura então a ajuda do irmão, com quem tem pouco contato – mas ele também está vivendo uma situação difícil. "Meio Irmão" ganhou o Prêmio Petrobras de Cinema de Melhor Filme Brasileiro de Ficção e o Prêmio Abraccine, concedido pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema, na recente 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Por outro lado, os dois documentários selecionados na mostra competitiva são excelentes exemplos de inventividade no gênero: "O Labirinto da Saudade" e "Humberto Mauro". Dirigido pelo português Miguel Gonçalves Mendes – realizador de "José e Pilar" (2010), documentário sobre o escritor José Saramago indicado por Portugal para concorrer ao Oscar de filme estrangeiro –, "O Labirinto da Saudade" literalmente entra na cabeça do filósofo Eduardo Lourenço. Uma das mentes mais brilhantes da cultura lusitana contemporânea, o intelectual de 95 anos é personagem ativo desse criativo filme – que reúne personalidades como o escritor Gonçalo M. Tavares, o arquiteto Álvaro Siza Vieira, o humorista Gregório Duvivier e a cantora Adriana Calcanhotto em instigantes encontros com Lourenço. O cineasta Miguel Gonçalves Mendes prepara-se para levar às telas "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", polêmico romance de Saramago.
Diferentemente de "O Labirinto da Saudade", "Humberto Mauro" dispensa comentários de terceiros e recupera a trajetória de um dos pioneiros do cinema brasileiro apenas por meio de antigos depoimentos do personagem-título e de imagens de seus muitos filmes. André Di Mauro, sobrinho-neto de Humberto Mauro (1897 – 1983), criou uma envolvente narrativa a partir de cenas de obras daquele que Glauber Rocha considerava o pai do cinema nacional, como "Braza Dormida" (1928), "Ganga Bruta" (1933) e "Canto da Saudade" (1952). "Humberto Mauro" foi exibido no 75º Festival de Veneza, marcando os 80 anos da participação do mestre mineiro no evento italiano.
Fora do concurso, o Festival da Fronteira incluiu ainda na programação outros dois documentários que também lançam mão de uma linguagem engenhosa para homenagear venerandos criadores-pensadores: "Eduardo Galeano Vagamundo", filme do diretor brasileiro Felipe Nepomuceno sobre o escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940 – 2015), e "A Destruição de Bernardet", doc com toques de ficção de Claudia Priscila e Pedro Marques a respeito do crítico de cinema, ensaísta, professor e ator franco-brasileiro Jean-Claude Bernardet – que mais uma vez comparecerá ao Festival da Fronteira.
Se a mostra competitiva de longas traz filmes de estreantes – caso de "Meio Irmão" e "Humberto Mauro" –, também apresenta o novo trabalho de um consagrado realizador brasileiro: "Rasga Coração", de Jorge Furtado. O diretor e roteirista gaúcho adaptou para a realidade atual a célebre peça homônima escrita pelo dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho e ambientada originalmente em 1974. O filme lembra como as discussões a respeito dos caminhos da militância política, da luta pela liberalização dos costumes e do conflito entre as gerações seguem tão urgentes hoje quanto há quase 45 anos.
Ainda dentro do espírito de dar visibilidade tanto para estreantes quanto para nomes estabelecidos, o 10º Festival Internacional de Cinema da Fronteira apresentará duas recentes ficções fora de competição. Longa de estreia do jovem diretor paraibano André Morais, "Rebento" é uma poética e dura narrativa sertaneja, que traz no elenco a veterana Zezita Matos – atriz cuja presença foi muito festejada em edições anteriores do festival. "A Cabeça de Gumercindo Saraiva" é o mais recente filme do conhecido cineasta, roteirista e escritor fronteiriço Tabajara Ruas. O épico dirigido pelo uruguaianense inspira-se em uma das figuras mais polêmicas da sangrenta Revolução Federalista (1893 – 1895) e é protagonizado por Murilo Rosa e Leonardo Machado – falecido em 28 de setembro passado, o ator entrega uma emocionante atuação nesse que é um de seus derradeiros trabalhos.
Finalmente, encerrando a programação fora da disputa, o documentário "Zoravia", de Henrique de Freitas Lima, recupera a trajetória da pintora, gravadora e escultora Zoravia Bettiol. Um dos nomes mais atuantes das artes visuais no Estado, a artista e educadora de 83 anos será ainda homenageada pelo festival com o Prêmio de São Sebastião e uma mostra de seus trabalhos no Museu da Gravura Brasileira.
Sul e Nordeste, Brasil e Exterior, português e espanhol, gaúchos e "gauchos", ficção e documentário, longa e curta, novato e experiente, arrojado e tradicional – o Festival da Fronteira é o território dos encontros e dos diálogos.

*Curador de longas-metragens da 10º Festival Internacional de Cinema da Fronteira

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