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Para isso fomos feitos!

Publicada em 14/12/2018
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Para isso fomos feitos!

Adriana Di Lorenzo

(Psicóloga)

adridilorenzo@uol.com.br

 

 

Sempre que o Natal se aproxima e logo em seguida o novo ano, percebo que, assim como declamou o poeta Vinícius de Moraes, ao som das cordas do violão de Toquinho, para isso fomos feitos! Para lembrar e ser lembrados!

As festas de final de ano, de alguma forma, trazem lembranças. E, por mais difícil que seja, ou talvez não, é no Natal que nos aproximamos dessas memórias de família.

Eu faço parte da turma que não consegue vislumbrar o Natal longe da família.

E, no meu caso, uma grande família. Não sei como é na sua, mas, na minha, somos muitos. E quando digo muitos, significa literalmente muitos! E todos, com exceção dos agregados que se uniram a essa empreitada por amor, são calabreses.

Muitos dos imigrantes italianos que foram para Porto Alegre, entre o final do século XIX e a metade do século XX, nasceram na Calábria, região sul da Itália. Mais precisamente em Morano Calabro. Para você ter uma ideia são tantos os calabreses radicados na capital gaúcha, que a prefeitura sancionou um decreto em 15 de janeiro de 1982, que tornou Porto Alegre e Morano Calabro cidades irmãs.

Cresci ouvindo dialeto calabrês. Meus pais, meus tios, meus avós. Toda a comunidade calabresa falava em dialeto.

As tradições foram mantidas e, no Natal, não poderia ser diferente. .Quando criança, lembro-me de que a organização começava com alguns meses de antecedência. A nonna, hoje com 91 anos, comandava o espetáculo. Ela e suas três filhas reuniam-se para fazer os doces calabreses. Tudo supervisionado pelo nonno e sua risada inesquecível! Era uma farra! Uma grande brincadeira que nos aproximava dos valores e tradições da família.

Nesse período, as janelas e portas eram fechadas em pleno verão porto-alegrense. Doces calabreses como Canaritulu, Cicireta e Giurgiuleia são produzidos com mel. Aliás, com muito mel. Obviamente que a nonna e suas três filhas sabiam disso. Só que as abelhas também.

E não parava por aí. Jamais, em hipótese alguma, poderiam faltar os spaghetti con baccalè (espaguetes com bacalhau) e as famosas vecchiareddri. As vecchiareddri são bolinhos fritos com a massa de pizza. A nonna conta até hoje que sua mãe, em Morano Calabro, toda a véspera de Natal, deixava as vecchiareddri prontas antes de irem à Missa do Galo. Entretanto, só podiam comer na volta ou no outro dia.

Eu adorava escutar essas histórias! Histórias de coragem e de muitas lutas. Em quase todas elas estavam as guerras, principalmente as Grandes Guerras Mundiais. Também falavam sobre a chegada ao Porto de Santos, o estranhamento do novo país, os preconceitos sofridos, as dificuldades de adaptação e, principalmente, a saudade da família e de tudo o que ficara para trás. Histórias de superação!

Perto da meia-noite,, a vecchia nonna como ela mesma se chama até hoje, começava a entoar “Tu scendi dalle stelle” (“Tu desces das estrelas”), umas das músicas de Natal mais cantadas na Itália. E nós adorávamos! Sabíamos que após essa música, viriam abraços e soluços. E, em seguida, os presentes! Outros tempos!

Vários anos se passaram! E mais um Natal está chegando! Alguns familiares já partiram e outros estão a caminho. De alguma forma, estamos nos adaptando. Afinal, novas gerações vêm por aí. O dialeto calabrês teve que abrir espaço para outras línguas, pois a família realmente aumentou. No entanto, algumas coisas continuam iguais. As janelas e portas seguem fechadas em pleno verão porto-alegrense. As abelhas seguem gostando de mel. Mas, agora, a vecchia nonna não consegue mais comandar o espetáculo.

Fernando Pessoa dizia que nada começa, tudo continua. Que neste Natal, possamos continuar. Afinal, para isso fomos feitos! Para lembrar e ser lembrados!

A todos, um feliz Natal e um 2019 repleto de muito amor, saúde e paz!

 

 

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