ELLAS
pg 14 -Diana de Themyscira
por Victória Ferreira
Acadêmica de Jornalismo da Urcamp
Quando fui convidada a escrever esse texto, meu primeiro pensamento foi: “o que falar sobre ser mulher que já não tenha sido dito e que continuam não dando ouvidos?”. Mas era, na verdade, uma pergunta retórica, porque a resposta também já é manjada. Não há nada que eu possa dizer que vocês ainda não tenham ouvido falar.
Não chega a ser um desapontamento. Na verdade, é libertador saber que as pessoas já estão a par de muito do que nós, mulheres, passamos. Significa que estamos ganhando voz. O desapontamento é saber que ainda é difícil ser ouvida em uma sociedade gritona com comemorações de gols, risadas altas após vários litrões no bar, cantadas ultrapassadas nas rodinhas de amigos e indiferença, mas ainda assim estamos ganhando voz.
Uma mulher, desde o momento em que seus pais descobrem o sexo do bebê, já tem certos pontos definidos na vida, como as roupas que ela vai vestir, a maneira como ela deve se comportar, o tom de voz adequado, o casamento grandioso, os filhos que ela vai ter. São coisas simples e construídas socialmente, por isso é tão involuntário associar meninas a princesas, afinal.
Também existem outras coisas das quais (por enquanto) ainda somos destinadas a passar, como os assédios em locais inesperados, possíveis abusos físicos ou psicológicos, sermos interrompidas por homens mesmo quando dominamos o assunto tratado, a jornada dupla de trabalho, as cobranças incessantes sobre a vida amorosa, sobre filhos, sobre a carreira. Aparentemente, mulheres precisam ser tudo, conquistar tudo e ainda assim não vão ser boas o bastante. E mesmo precisando ser duronas a vida inteira, ainda assim, quando são associadas a princesas, ninguém se lembra da princesa Diana de Themyscira.
Ser mulher é uma luta diária, é termos que viver respirando fundo, é crescermos tristes por não termos nos tornado tudo o que diziam que deveríamos ser, é amadurecermos agradecendo por termos nos tornado quem somos. Dia após dia, temos mais noção do lugar que ocupamos no mundo, dia após dia, nos apropriamos mais desse lugar que é nosso por direito.
Ser mulher é uma luta diária para que nos escutem, para que as gerações futuras possam se sentir mais seguras, mais representadas, com mais super-heroínas duronas do que princesas indefesas. Ser mulher é uma luta diária e nisso nos saímos muito bem, pois lutamos como garotas.