ELLAS
pg 2 - artigo - Adriana di Lorenzo
NUNCA DESISTA!
Adriana Di Lorenzo
Psicóloga e psicoterapeuta Analítica
adridilorenzo@uol.com.br
Logo que assisti ao filme “Nasce uma estrela”, dirigido, coescrito e estrelado brilhantemente por Bradley Cooper, fui surpreendida pela ilustre cantora e agora atriz Lady Gaga.
Confesso que pouco sabia sobre ela. Conhecia algumas músicas e lembrava-me de algumas aparições sempre muito performáticas relatadas pelo meu querido amigo Jean. Esse sim, um profundo conhecedor de Gaga.
“Nasce uma estrela” é a quarta adaptação da obra para os cinemas. Nessa versão, Ally (Lady Gaga) é uma jovem de forte personalidade que trabalha em um restaurante. Mas tem um sonho – quer ser cantora. Ela já tentara algumas vezes, mas sempre fora dissuadida por não apresentar uma “aparência adequada”. “Não gosto de cantar minhas músicas. Não me sinto à vontade... minha aparência não agrada”, dizia ela, influenciada pela opinião de gente que não compreendia o que via e ouvia.
Assim que o filme terminou, bastante emocionada, me vi curiosa a respeito de Lady Gaga. Fui atrás de sua biografia e, mais uma vez, descobri o quanto a vida imita a arte. Ou será o contrário?
Através de Ally, Gaga nos mostra o quanto ela e a personagem tem em comum. Um talento escondido, reprimido, que queria sair a qualquer custo. Porém, ambas encontram em seus corpos um bloqueio. Um bloqueio imposto pela “visão” das pessoas e da indústria musical que determina que elas não se “encaixam” e que, por isso, não podem ser cantoras.
Essa questão não é nova. No livro “A mulher que escreveu a Bíblia”, do inesquecível Moacyr Scliar, a protagonista, que nem nome tem, não consegue encontrar nenhuma possibilidade na vida devido a sua terrível aparência. Mais uma pessoa que não se “encaixa”, mais uma mulher que não se “encaixa”. Seja no cinema, seja na literatura, de alguma forma, em qualquer tempo, a arte segue revelando nossa condição humana. E nossa cultura ainda segue impondo às pessoas, em especial a nós mulheres, modelos. Estigmas que determinam o que podemos fazer ou não. O que podemos ser ou não ser.
E eis, portanto a questão. Ally não desistiu! A protagonista de Scliar também não! E Lady Gaga muito menos! Nenhuma delas escutou aqueles que não acreditaram em seu talento. Ally projetou em Jack (Bradley Cooper), um estímulo, uma coragem que já existia dentro dela. A mulher que escreveu a Bíblia encontrou seu talento na escrita. E Gaga também encontrou seu próprio caminho. Na excentricidade, a cantora achou uma forma de poder falar, de poder cantar. E agora, somente em 2018, de poder atuar.
Por esse motivo o filme emociona tanto. Uma emoção que vai além da luta de Jack Maine (Cooper) contra alcoolismo e outras drogas. Que vai além do romance entre Ally e Jack. Que vai além da linda canção Shallow. Ally, Gaga e a personagem sem nome de Scliar não sucumbiram ao que definiram sobre elas.
Em seu discurso cheio de emoção e paixão, no Oscar 2019, no qual ganhou melhor canção original com a música Shallow, a cantora e atriz Lady Gaga afirmou: “Isso tudo é trabalho duro, eu trabalhei duro por muito tempo. E não é sobre vencer. É sobre não desistir”.
Simone de Beauvoir dizia que nada define a nós, mulheres. Nada nos sujeita. Que a liberdade é a nossa própria substância, já que viver é ser livre!
Que sejamos livres. Livres para caminharmos na direção que quisermos, que acreditarmos. Para pensar e agir como dizia Albert Einstein, que o impossível existe até que alguém duvide dele e prove o contrário. Há inúmeras possibilidades. Há muito a dizer! Há muito a fazer! Basta estarmos atentos, acreditar e nunca desistir!