Cidade
Chico Botelho é o grande vencedor do Prêmio Açorianos
O jornalista e escritor bajeense José Francisco Botelho recebeu, na noite da última terça-feira, 23, o maior reconhecimento da expressão artística e cultural gaúcha: Prêmio Açorianos. O livro de contos Cavalos de Cronos (2018) foi o grande vencedor deste ano, que contou com mais de 200 obras inscritas. Ele levou para casa dois troféus: destaque na categoria Conto e, o maior da noite, Livro do Ano.
Mesmo morando na capital do Estado, o escritor possui forte vínculo com o Pampa. Ele relembra que a noite coroou uma trajetória iniciada há décadas na Rainha da Fronteira, quando descobriu o prazer da arte e literatura na biblioteca familiar e com a rotina no Centro de Desenvolvimento da Expressão Odessa Macedo. E é justamente este ambiente nostálgico que ganha ares de personagem em sua obra: o interior do Rio Grande do Sul foi o local escolhido pelo escritor como pano de fundo à história que dá início à coletânea de contos. A rota percorrida pela narrativa ao longo das páginas viaja no tempo e espaço e encerra no Mundo Antigo, passando pela China da Idade do Bronze.
Estas características vanguardísticas que tornam a obra de Botelho tão original e notável poderiam ter dado um rumo completamente diferente à história do livro. Mas a liberdade de escrita foi garantida pela Editora Zouk, responsável pela publicação, desde o início. "Escrevi o livro exatamente do jeito que queria, um livro estranho, esquisito, diferente do grosso da produção literária contemporânea brasileira. É escrito ora em prosa, ora em verso e tem toda essa linguagem com um falso rebuscamento para tornar este universo verossímil. Tinha tudo para dar errado e não ser publicado. Não apenas foi publicado como ganhou o prêmio", explica.
Feliz com a conquista, ele analisa também como uma vitória da cultura, em uma época marcada por dificuldades que forçam gigantes dos livros a encerrarem as atividades. "Mas as pequenas livrarias continuam lutando e vendendo livros, isso significa que as pessoas não estão deixando de ler. Ainda tem gente que acredita na Literatura e na Arte. Quem produz e vive de produzir cultura sabe como é difícil os sustos que a gente passa", destaca.
Para os amigos da cena cultural da Rainha da Fronteira, agradeceu o apoio e dedicou o prêmio também a eles. E garante: "Minha raiz é o mundo da cultura de Bagé. Tudo que faço veio daí".