ELLAS
Este ano não vai ter Dia das Mães
Dilce Helena Alves Aguzzi
Psicóloga
Por que honrar a figura da mãe através de uma data especial desmereceria ou ofenderia alguém? Até que ponto a onda do politicamente correto ocupará o lugar do bom senso?
Esse e outros tantos questionamentos dizem respeito ao dilema que muitas comunidades escolares vêm enfrentando, ou seja, dar continuidade a costumes, tais como “cultivar Dia das Mães e dos Pais nas escolas ou substituir por uma data genérica denominada dia da família”?
Creio que qualquer um dos modelos é válido se houver contexto e respeito à cultura desse espaço de convivência, dessa comunidade. O que realmente incomoda e agride é a obrigatoriedade. A determinação sem reflexão de parar tudo para viver uma festa às mães é tão nociva quanto fingir que mãe não existe, o que existe é família.
A figura arquetípica da mãe, genitora, aquela que cuida, a que protege e acolhe sempre existirá por mais variado que seja o modelo familiar. O exagero fere e agride sempre, tanto exacerbar a importância da data quanto apelar para a sua negação. Superestimar o dia no calendário pode carregar tanto o tema de modo a expor a sofrimento desnecessário de quem já está sensível a esse aspecto de forma muito intensa e desconfortável.
Entretanto, a solução não pode ser tão simplista quanto apenas abolir a data a despeito de seu forte apelo emocional. Tal negação em nada transforma a origem do desconforto.
Nem tudo o que dói é um mal a se eliminar. Muitas situações dolorosas, não representam o bem ou o mal, apenas existem, fazem parte da vida e do processo de amadurecimento individual. A escola pode ser, aliada à família, o espaço onde a realidade da vida é apresentada com cuidado e contexto pertinentes e respeitosos com todas as formas de existir. Do contrário, haverá o momento em que não se poderá falar em saúde temendo ofender quem está doente.