Cidade
Ato em defesa pela educação reúne alunos e professores da rede pública de ensino
Alunos, professores e servidores da Unipampa e do Instituto Federal Sul Riograndense (IFSul) saíram às ruas, ontem, contra a medida anunciada pelo governo, na semana passada, de reduzir o orçamento das universidades e institutos federais e bloquear bolsas de pesquisa. O protesto contra as medidas faz parte de uma mobilização nacional, que, em alguns locais, fechou algumas das principais ruas do país.
Em Bagé, a manifestação aconteceu junto às Praças Silveira Martins e de Esportes, no centro da cidade, e contou com aulas abertas, rodas de conversa, mostra de trabalhos desenvolvidos nas duas instituições de educação. A programação encerrou com uma caminhada unificada pela Avenida Sete de Setembro.
Os atos nacionais foram convocados após o MEC (Ministério da Educação) anunciar congelamento do orçamento destinado à educação, atingindo desde a educação infantil até a pós-graduação, com suspensão de bolsas de pesquisa oferecidas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Nas universidades federais, o bloqueio anunciado, inicialmente, foi de 30% dos recursos destinados a gastos discricionários (como água, luz e serviços de manutenção).
Contra o boicote à pesquisa e extensão
Os docentes da Unipampa, Edson Kakuno e Marcilio Machado Morais, professores dos cursos de Física e Engenharia Química, respectivamente, aproveitaram o espaço para mostrar algumas das pesquisas desenvolvidas pelos acadêmicos sob sua orientação, não apenas para divulgar a produção científica do Ensino Superior, mas também provar que ela existe e tem aplicação direta na vida da sociedade.
Morais conhece o poder transformador que uma instituição de Ensino Superior tem em uma comunidade. Natural de Bagé, ele saiu da cidade para cursar o Ensino Superior com 16 anos e, após 18 anos fora, retornou à Rainha da Fronteira como integrante do corpo docente da Unipampa. "Fui embora por falta de oportunidade aqui. Mas voltei quando tive a chance com o objetivo de devolver o que aprendi para os estudantes daqui", relata.
Com essa visão de desenvolvimento regional, Morais relata que suas frentes de pesquisa utilizam produtos encontrados facilmente na região, como arroz, carvão e butiá, a fim de aumentar o valor agregado destes produtos. "E essa é apenas uma pequena mostra dos trabalhos que são desenvolvidos pela Unipampa, que buscam o desenvolvimento econômico, social e tecnológico da região em que está inserida", destaca.
Já Kakuno destacou que, embora, muitas vezes desacreditada em função do tempo que leva para apresentar resultados aplicados diretamente à sociedade, a pesquisa é "um meio que pode gerar um fim". Segundo ele, "a pesquisa dentro da universidade não tem um compromisso imediato de retorno. E esse trabalho a longo prazo permite resultados que não eram esperados no início do processo", aponta.
De acordo com as informações disponíveis no Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União, a despesa da universidade, em 2018, foi de R$ 278,37 milhões, referente a 0,01% dos gastos públicos.
IFSul tem autonomia financeira para funcionar até agosto
Os alunos do Instituto Federal Sul Riograndense – IFSul somaram à exposição em via pública os trabalhos desenvolvidos por eles. Chefe do departamento de Ensino, Anelise Ramires Meneses ressaltou que a paralisação de apenas um dia tem o objetivo de apresentar os trabalhos. Contudo, com os cortes de investimento e a inviabilidade econômica ocasionado por eles, as instituições de ensino federal poderão fechar as portas por tempo indeterminado. "Nossa perspectiva é que temos recursos suficientes para funcionar até metade de agosto. E não recebemos nenhum sinal de que esse quadro será revertido. Agosto está logo ali", aponta.
O campus Bagé do IFSul conta com 565 estudantes e já formou mais de 700 alunos nos últimos nove anos. O corte de recursos, que na instituição alcança 37,1%, inviabiliza a continuidade da prestação de serviços terceirizados para o instituto. "Só aqui em Bagé temos 29 funcionários terceirizados que, infelizmente, podem perder seus postos de trabalho. Os alunos também vão ser atingidos porque muitos recebem algum tipo de auxílio, bolsa. E aí, de que forma eles vão conseguir continuar estudando?", questiona.
Mobilização geral
Junto à Unipampa e IFSul, também saíram às ruas representantes da Universidade do Estado do Rio Grande do Sul (UERGS), professores da rede estadual e rede municipal de ensino, além de membros de centrais sindicais de diversos segmentos. "Este primeiro ato foi unificado em prol da educação. Mas também estamos organizando a greve geral do dia 14 de junho, que vai contar com representantes de todos os segmentos, todos os trabalhadores do Brasil", destaca a diretora do 17º Núcleo do Cpers, Delcimar Delabary.
E não só representantes das instituições de ensino participaram da programação, mas também de movimentos sociais como o Enegrece. Uma das coordenadoras do grupo, a ativista Kiim Paz, destaca a importância da participação do grupo em ações neste sentido: abrir espaço para que mais pessoas negras se ouçam e saibam de que forma estes cortes vão afetá-las.
"Os cortes vão refletir diretamente na população negra, tanto os pertencentes a estes espaços quanto aqueles que não vão conseguir acessar o Ensino Superior, pois muitos dependem das universidades federais. Estão minando a nossa existência e precisamos nos preparar e mostrar que a comunidade negra está organizada para tensionar e reagir a essas novas estratégias", diz ela, que conduziu roda de conversa sobre o tema durante a manhã.