Cidade
Hospital da Guarnição de Bagé completa 100 anos
por Sidimar Rostan e Rochele Barbosa
Com uma tradição que remonta ao século 19, o Hospital de Guarnição de Bagé (HGuBa) completa, hoje, 100 anos. A data histórica para os militares, que será marcada por uma formatura, representa a mudança de denominação da unidade (até então chamada de Enfermaria Militar de Bagé) e o acréscimo de Segunda Classe (que não se refere à qualidade do atendimento prestado, mas sim a extensão dos serviços); medidas formalizadas no dia 18 de junho de 1919.
A classificação do HGuBa permanece, tanto em campanha como em tempo de paz. O hospital atende, hoje, toda a guarnição de Bagé, Dom Pedrito, São Gabriel, Santana do Livramento e também Jaguarão. Se somados os militares e seus familiares, são mais de 15 mil pessoas que utilizam os serviços de Pronto-Socorro, internação, atendimento ambulatorial e de consultas, bem como o centro cirúrgico de médio porte. O efetivo do hospital é formado por 25 médicos e 125 militares. No local de internação, há 15 apartamentos para os beneficiários. Há serviço de ambulância, com quatro veículos, que fazem transporte de pacientes para outros hospitais militares.
Segundo o comandante do HGuBa, coronel Edson Feitosa Galvão, há cerca de 11 especialidades oferecidas para os beneficiários. "Oferecemos serviços em dois turnos, manhã e tarde, de odontologia (com quatro especialidades), fisioterapia, medicina geral e especialidades, radiologia, radioterapia, além dos convênios", destaca.
Hoje, quando completa 100 anos, haverá uma formatura em alusão a data a partir das 18h, após uma recepção, com coquetel, destaca o comandante. "Estou há seis meses em Bagé. É a primeira vez que venho para o Rio Grande do Sul, sou médico, mas há algumas guarnições que não são formadas em medicina", completou.
O coronel é 38º comandante e, em princípio, ficará dois anos a frente do hospital. "Por dia temos cerca de 200 a 220 pessoas atendidas, em todos os serviços, a Brigada Militar e seus dependentes também utilizam o local, pois é um hospital da guarnição, então militares do Estado também são beneficiários. Não há encargo financeiro no momento do atendimento. Já existe um plano de saúde, descontado na folha de pagamento e valores pequenos para cada situação e graduação do militar, para que todos sejam atendidos", concluiu.
Tradição histórica
Bagé nasceu de um acampamento militar. Quando Dom Diogo de Souza partiu, no inverno de 1811, com o Exército de Pacificação, em direção ao Uruguai, deixou centenas de doentes. O capitão Ricardo Antônio de Melo e Albuquerque ficou encarregado dos Assuntos Civis e Governo Militar, auxiliado pelo Tenente Pedro Fagundes de Oliveira, ambos detentores de Sesmarias na região. Ao capitão Ricardo Albuquerque, ascendente do escritor Érico Veríssimo, coube a missão de cuidar da saúde das pessoas no pequeno hospital improvisado, informalmente instalado em ranchos de torrão, dando início à história de prestação de serviço na área da saúde, de caráter militar, na região.
Durante a Revolução Farroupilha (entre 1835 e 1845), a Campanha gaúcha esteve nas mãos dos farroupilhas. Com o fim da guerra, o 8º Batalhão de Fuzileiros estacionou em Bagé. Em 1848, a unidade recebeu o Alferes Cirurgião Ajudante, doutor José Xavier da Costa, formado pela Faculdade de Medicina da Bahia, para desempenhar a função hoje denominada de Chefe da Formação Sanitária.
O 8º Batalhão de Fuzileiros tomou parte na Campanha de 1851, contra Manuel Oribe, presidente do Uruguai, e Juan Manuel de Rosas, governador de Buenos Aires. Registros históricos confirmam que o tenente médico Xavier da Costa chefiou a Enfermaria Militar de Bagé, possivelmente no decênio de 1850 e 1860. Na sua biografia, aparece como fundador do Ateneu Bajeense, em 1863, e de ter tomado parte da Guerra do Paraguai.
Infraestrutura
Antes do HGuBa ganhar forma no terreno doado por descendente do almirante Paulo da Silva Gama, o Barão de Bagé, em 1898, o serviço médico foi oferecido em diferentes estruturas militares instaladas na cidade. As obras do aquartelamento do 5º Regimento de Cavalaria (RC) iniciaram, em 1860, no local aonde se encontra, hoje, o Hospital de Guarnição. Quando o 5º RC foi transferido para o aquartelamento do atual 3º Batalhão Logístico, a Enfermaria Militar, que ocupava as dependências da Beneficência Portuguesa, onde hoje está o Museu Dom Diogo De Sousa, também foi transferida para o antigo aquartelamento do 5º RC.
Em abril de 1869, o Exército adquiriu uma grande gleba, nos arredores do aquartelamento do então 2º RC, aonde seria construído o Quartel General. O terreno abrangia a área do atual 3º Batalhão Logístico, a Praça Doutor Albano (da antiga Estação Rodoviária), o lote onde está o Museu Dom Diogo de Sousa e cerca de um terço da Praça Julio de Castilhos. Com a mudança do 5º RC para o novo aquartelamento, o velho prédio foi ocupado pela Enfermaria Militar.
A unidade só foi elevada a nível de Hospital Militar em 1890, quando teve, como chefe, o major médico Agripino Ribeiro Pontes. O corpo médico era formado pelos doutores Benjamin Targiny Moss e Augusto Lúcio Figueiredo Teixeira. Respondiam pelo setor farmacêutico, o 1º tenente Bernardo Floriano Correa de Brito e alferes Lucindo de Almeida Simões.
O Hospital Militar tinha uma função denominada enfermeiro-mor, que era desempenhada por Antônio Fernandes de Oliveira. Ele ficou fora do centro de resistência da Praça da Matriz, entende-se Praça da Catedral, em 1893, tendo sido aprisionado pelos revoltosos e obrigado a prestar socorro aos revolucionários feridos, praticando cirurgias para extração de balas.
Reformulação
Ministro da Guerra durante a administração do presidente Epitácio Pessoa (de 1919 a 1920), o engenheiro João Pandiá Calógeras fez história ao ser o primeiro civil a ocupar o cargo. Ele ficou conhecido, também, por imprimir novo ritmo de construção dentro do Exército. Em sua gestão, foram demolidas as edificações antigas que abrigaram o antigo 5º RC e depois o Hospital Militar e Enfermaria Militar e, em seu lugar, foi edificado um novo complexo hospitalar. Um pavilhão foi destinado ao isolamento. O outro (que era a casa do Enfermeiro-Mor) foi transformado no almoxarifado. A nova unidade de saúde foi inaugurada em novembro de 1923.
O major médico Octaviano de Abreu Goulart recebeu as instalações do Hospital, dito do "Tipo Calógera", pois as construções eram padronizadas, possivelmente sob a influência do exército francês. O fato das enfermarias serem separadas umas das outras, beneficiava os preceitos de higiene e profilaxia da época, mas a experiência foi mostrada ser muito desconfortável para o pessoal de saúde, quando se deslocava de uma enfermaria para outra, particularmente no inverno. O vento canalizado por entre os pavilhões e a chuva fria acompanhada de vento foi criando no espírito dos administradores a necessidade de nova mudança. Mas para passar da convicção à ação foram necessários cerca de um terço de século, mesmo porque no início do século nem se poderia reformar uma obra recentemente construída.