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Casamento na Coxilha Seca

Publicada em 12/07/2019
Casamento na Coxilha Seca | ELLAS | Jornal Minuano | O jornal que Bagé gosta de ler

por Gerson Luís Barreto de Oliveira
Médico nefrologista e escritor

 

Há alguns anos, fui a São Paulo num congresso. Na época, já sabia que para os apreciadores do bem comer o templo máximo no Brasil respondia por um nome, Restaurante Fasano. E ao adentrar no local, fiquei de queixo caído. Tudo era perfeito.

Pois pedi algo que me chamara atenção no cardápio, “galinha de angola feita à cabidela“. Nossa popular angulista feita ao molho pardo. Comi bem, mas o prato, na verdade, era um eco da minha infância. Tia Julieta era melhor que qualquer cozinheira do Fasano, e com ela galinha ao molho pardo era um sinal para demonstrar sua exuberância nos quitutes do Restaurante Esquina Bianchetti de Bagé.

Um casal querido foi maravilhoso na minha acolhida, em Porto Alegre, quando fui estudar para o vestibular. Eram amigos dos meus pais, almoçavam sempre no nosso restaurante. Silvéria e Astolpho Motta. Ele um general aposentado, simpático ao extremo, ex-adido militar em Washington, e ela era um doce de pessoa, se afeiçoaram cedo a mim. Uma vez, eles falaram que estavam montando uma vitrine de ovos de pássaros nativos, e faltava o do beija flor. Numa das férias que eu passava com minha avó, na campanha, no local chamado de Cunhatay, eis que encontro um ninho do pássaro, tirei um ovo, e lembro que coloquei numa caixa bem acondicionado o ovinho minúsculo e pedi para o meu pai entregar para eles. Ainda mandei uma muda de limoeiro que eu tinha plantado, fiz amigos para o resto da vida.

Por serem pessoas viajadas e de papo sincero sempre eram muito bem-vindos ao nosso restaurante. Lá, o general falava nos melhoramentos dos campos que administrava, adquiridos em herança pela esposa.

Ela recebera do seu pai, que era um fazendeiro das antigas em Bagé, uma propriedade grande. Seus campos eram no Seival (quase divisa com Aceguá ), e, ao falecer, dividiu o latifúndio entre os muitos filhos. Mas, agora, era o general que lidava com o gado de corte e combatia com novidades a escassez de água, quase um flagelo para os rebanhos em Bagé.

Muitos anos antes, lá por 1940 e poucos, o casamento da noiva bajeense com o oficial de São Borja, que tinha raízes familiares profundas com Getúlio Vargas, foi nesse local. Ela mesmo me contara que ainda vestida de noiva voltaram para a cidade e deram carona para o oficiante da cerimônia, o Monsenhor Costábile Hippólyto. Esse religioso, já idoso na ocasião, para oficiar a cerimônia estava com sua melhor batina, e a capa cerimonial púrpura de monsenhor. Para contrariar a regra do local conhecido como Coxilha Seca, choveu à cântaros no dia.

Na viagem de volta, o carro atolou, e o então tenente teve que empurrar, junto ao motorista. A intrépida noiva deu um jeito nas suas roupas e pulou para o banco do motorista, deixando o monsenhor no banco de trás, e engatou uma primeira, saíram do atoleiro, mas o noivo ficou tapado de barro dos pés a cabeça.

Dona Silverinha, como minha mãe a chamava, já de casa, dentro do nosso restaurante, travou amizade com tia Julieta. Com bastante idade, as duas tinham verdadeira satisfação ao se encontrar. Um dia, o casal ia receber visitas vindas de outras cidades na propriedade rural chamada “ Coxilha Grande “. Eram amizades que colecionaram ao longo da vida. Não querendo servir somente o tradicional churrasco campeiro Silvéria perguntou se tia Julieta não faria sua tradicionalíssima galinha ao molho pardo.

A galinha ao molho pardo é uma herança portuguesa e há registros que, pelo menos, desde o século XVI, os portugueses aproveitavam o sangue para colocar no molho.

Tia Julieta se preparou, chamou uma das cozinheiras do restaurante para ir junto, pegou seus temperos, costurou pessoalmente aventais novos,  combinando com toucas e panos de prato e fez com que o meu pai as levasse até os campos do Seival, próximo a fronteira com o Uruguai.

A casa do casal Motta era moderna, funcional, sem luxos, decorada com  objetos da terra, onde pontificava uma vitrine com ovos de pássaros. E soltas no pátio externo um bando de angolistas. Tia Julieta, com sua praticidade de sempre, já saiu do carro dizendo: “Vão para a panela, a carne é mais saborosa “.

A ocasião foi um sucesso, sobrou churrasco, pois o prato com as galinhas de Angola  da dona da casa foi feito com tal esmero que todo mundo só queria comer o molho pardo. Eu não estava presente, mas comer o molho feito por Tia Julieta é algo que tive oportunidade mais vezes, e quando ela não estava mais entre nós foi um restaurante cinco estrelas que me fez ver que as pequenas coisas marcam as nossas vidas para sempre.

       

 

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