MENU

Identifique-se!

Se já é assinante informe seus dados de acesso abaixo para usufruir de seu plano de assinatura. Utilize o link "Lembrar Senha" caso tenha esquecido sua senha de acesso. Lembrar sua senha
Área do Assinante | Jornal Minuano | O jornal que Bagé gosta de ler

Ainda não assina o
Minuano On-line?

Diversos planos que se encaixam nas suas necessidades e possibilidades.
Clique abaixo, conheça nossos planos e aproveite as vantagens de ler o Minuano em qualquer lugar que você esteja, na cidade, no campo, na praia ou no exterior.
CONHEÇA OS PLANOS

ELLAS

O Aga Khan e o fazendeiro de Bagé

Publicada em 13/09/2019
O Aga Khan e o fazendeiro de Bagé | ELLAS | Jornal Minuano | O jornal que Bagé gosta de ler

por Gerson Luís Barreto de Oliveira

Médico nefrologista e escritor

 

O príncipe dos ismaelitas, ainda hoje, é uma personalidade do Jet-set internacional, com iates, palácios e um título hereditário que quase se equivale a chefe de estado, circula pelos melhores lugares das grandes cidades do mundo.

Sua fortuna incalculável é devida ao cargo que exerce como representante de uma corrente do xiismo, outorgado há uns 200 anos pelo Xá do Irã a um ancestral seu.

Na Bagé da década de 1980, havia uma clientela fiel no Restaurante Bianchetti, que consolidaram o local como “point” nos 16 anos de vida da casa. Começavam a chegar ao anoitecer indo até fechar, à meia-noite. Na sua imensa maioria, eram homens em busca de boa conversa e de discutir assuntos da cidade. A maioria dessas pessoas era de fazendeiros amigos do meu pai, mas haviam representantes de todas as áreas. O tema dos rumos da pecuária era preponderante nessa turma. Eles consumiam doses generosas de whisky, cerveja  e boa comida caseira.

 Uma vez por semana, quase sempre nas quartas feiras, era marcada uma reunião onde todos eram convocados, se autointitulavam o plenário. Nessa data, minha mãe ficava responsável por apresentar sempre um prato diferente da típica comida campeira. Pensando nisso ela pedia que lhe trouxessem contribuições em ingredientes para que as cozinheiras pudessem inovar, ela só determinava como seria feito.

Arroz com tatu, lombo de capivara feito ao molho de tomates, javali assado, escabeche de perdizes ou de traíra, risoto de jacu. Um funcionário da Polícia Federal ria e dizia sempre: “Ah! Se os meus colegas do Ibama vissem”. Hoje em dia, uma batida seria inafiançável, mas naquela época tudo podia.

Um dos participantes era um rico fazendeiro, que chegava ocasionalmente em presença bissexta, por todos prestigiado, mas ia logo colocando objeções ao que era servido. Invariavelmente não gostava do que era apresentado, não admitia que matassem os bichos para comerem da forma que era servido. Começava a falar que não lhe aprontavam o que pedira do restaurante preferido em Punta del Este. Lembrava com saudades das delícias de algum bistrot de Paris, quando jantava com Porfírio Rubirosa, célebre playboy internacional. Terminada a explanação solicitava um filé e esperava.

Como pagava bem, dava gorjetas polpudas, os garçons corriam em atendê-lo. Meu pai fazia o mesmo para agradar seu cliente.

Num dia que minha mãe estava muito atarefada, houve uma das tais reuniões do plenário. Não lembro qual era o prato, mas sei que o exigente amigo do meu pai apareceu, e não gostou. Como sempre fazia, pediu o filé.

Por três vezes o filé retornou para cozinha por não estar do seu gosto o ponto da carne. Um dos garçons passou atarantado pelo caixa onde ficava minha mãe e lhe soprou: “a carne não está como ele quer, a cozinheira não sabe mais o que fazer”.

Minha mãe tinha sangue espanhol e vez por outra isso fazia com que ela tomasse a frente: “deixa comigo”. Saiu do caixa e foi pessoalmente fazer o filé. Deu uma selada na carne e mandou para mesa. O filé não estava ponto menos, estava cru mesmo.

O cliente, ao contrário de ficar bravo, se mostrou surpreendido, comeu com desenvoltura, se levantou e veio em direção ao caixa. Minha mãe pensava que iria ouvir reclamações, mas também teve sua parcela de surpresa: “Dona Adeli, uma vez jantei com o Aga Khan no Maxim’s, em Paris. Fiquei abismado. Como a senhora pôde fazer o filé perfeito, igual o que comi na ocasião?” Pegou a mão da minha mãe e a beijou. Ela ficou sem ter o que dizer, acho até que nem cobrou os filés que haviam voltado para a cozinha, que ela já tinha contabilizado.

O Aga Khan com a Begum, sua esposa, nunca apareceu pelo Bianchetti, para comer arroz com os jacus que proliferavam pelos matos do Cunhatay, mas o seu nome foi lembrado numa noite de correria do salão para a cozinha para agradar a um dos seus clientes mais emblemáticos.

 

Galeria de Imagens
PLANTÃO 24 HORAS

(53) 9931-9914

jornal@minuano.urcamp.edu.br
SETOR COMERCIAL

(53) 3242.7693

jornal@minuano.urcamp.edu.br
CENTRAL DO ASSINANTE

(53) 3241.6377

jornal@minuano.urcamp.edu.br