ELLAS
Poesia e poetas na praça em Homenagem à RAFAELA RIBAS
No dia 21 de setembro, quando o calendário marcou o Dia da Árvore e no dia 23 setembro, que sinalizou a chegada da primavera, os Bufões da Rainha retornaram à praça para a instalação do projeto de incentivo à leitura UM POEMA EM CADA ÁRVORE. Nos arredores da Praça Silveira Martins, tendo como suporte as árvores que compõem o ambiente natural, foi montado o roteiro literário com 15 poemas inéditos, de criação poética da Oficina dos Poetas do Cultura Sul, em edição especial em homenagem e memória à professora e poeta Rafaela Gonçalves Ribas. Propósito O evento de mobilização nacional, que acontece anualmente, objetiva o incentivo à leitura, o acesso da população a esse estilo literário, à divulgação do trabalho de poetas locais e contribuição na elevação do índice de leitura em nosso País. UM POEMA EM CADA ÁRVORE é a articulação local é da Cia de Comédias Bufões da Rainha, em sua 16ª temporada, com participação da Oficina da Oficina dos Poetas do Cultura Sul, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. Participaram desta 22ª edição os poetas integrantes da Oficina dos Poetas do Cultura Sul Bagé: Ada Guimarães, Euclides Ferreira, Gládis Deble, Elvira Nascimento, Maria Conceição dos Santos, Maristela Nova, Norma Vasconcellos, Sheila Corrêa, Sarita Barros e Sônia Alcalde. “Bagé em sua História” * Ada Maria Machado Guimarães O bajeense, renascendo em seus Duzentos anos de História, Sob bênçãos de São Sebastião, Costura os rubros grãos de sangue à branca harpa da paz. Poema de Fevereiro *GLADIS DEBLE Por que me deste, Senhor, Fevereiro para nascer, ambíguo mês De peixes e incertezas? Por que me alcançaste a duplicidade Da busca e a dolorosa dúvida da escolha? Por que sufocaste de ansiedade A minha alma, se não me socorreste Com o milagre de satisfazê-la? Ah! Essa cálida luz de fevereiro e o Desejo irreprimível de fruir o campo, No canto verde do pasto. E o arroio, em Seus azulados braços, e nele Afogar os meus anseios?Como controlar As plantas invasoras da minha alma? Como sufocar o dilúvio das minhas Aflições? Pudesse fevereiro ter apenas Um peixe. Um só, guardado no armário dos meus avessos. Mas dois, dois são demais. Perdão, Senhor! Abranda, meu Deus, com tua misericórdia, Os conflitos piscianos do meu coração Para que eu possa (não sei, se final ou inutilmente), apascentar o rebanho, Nem sempre dócil, Da minha alma inquieta. RAFAELA RIBAS O clã do Cultura Sul faz folhetim, faz novela Cruza a Praça da Bandeira, tece e destece poema a mais uma primavera Gira a roda do destino para saudar Rafaela. Caminhos * Kydo Ferreira Mesmo que a “chuva caia soberbamente Toda em cascata derramada” No desdobramento de um salto Amplo e claro, tu prossegues. E que o sol e a lua se alternem no circulo imenso do céu. E que o espelho dos dias se fechem e as glicínias do campo se calem. E que a geada cubra, com seu manto de cal, o pampa, imenso, deslumbrando esplendor do novo crepúsculo. E que a ventania, com suas folhas de palavra e poder, acordem a cristalina alma da aldeia. E que a rosa e o rouxinol sol e trem a cartilha do ser e do não ser. E que a frágil neblina, na sinfonia dos dias, lave o denso rosto das manhãs. E que a estrela, posta nos ombros do mundo, anuncie novos emblemas no vão desejo do homem. RAFAELA, quem disse que a vida é só de passagem. Depois do adeus, viramos paisagem. Luiz Coronel DE TERRA E VERSOS * Elvira de Macedo Nascimento - Mercinha ... ah o rosto amoroso do arroio como serpente travessa, lambendo o pólen diáfano da terra ... que gosto me dá ver a catedral de São Sebastião (com seus figos de pedra, na imagem do Wayne) modelados por vento amplo, obediente ao tempo e ao céu, na cumplicidade do cálice verde da paisagem "Minhas raízes estão costuradas Nos dedos dos cerros que batizam a lenda da aldeia. ....................................... No rosto do vento que sinaliza A porosa fronte da alma, repousam minhas raízes. Elas estão nos olhos dos Anos que fermentam a sintaxe da vida, o sol e o sal da manhã. Minhas raízes se escondem(...)" Minhas raízes estão costuradas Nos dedos dos cerros que batizam a lenda da aldeia. ....................................... No rosto do vento que sinaliza A porosa fronte da alma, repousam minhas raízes. Elas estão nos olhos dos Anos que fermentam a sintaxe da vida, o sol e o sal da manhã. Minhas raízes se escondem(...). * Norma Vasconcellos . SER ÁRVORE *Elvira de Macedo Nascimento Dentro de nós moram raízes, moram troncos e ramos moram as árvores de amor fora de nós moram as árvores divinas hoje com nome linhagem e lugar Ser árvore é alinhavar solo e céu fora e dentro do coração é transmutar, purificar a natureza e o mundo o mesmo que dizer: me dá um copo de ar limpo e uma consciência nova para cada amanhecer Ah!... e um jeito silencioso de florir Pode ser ? A casa de Maria *Maria Conceição Rosa dos Santos Meus olhos ficaram parado, fixos nas paredes dessa casa com janelas espiando a rua estreita feita de pedras seculares. Demorei um pouco antes de entrar pela porta silenciosa Era a mesma de sempre. Antiga. Em seu rosto de séculos. Quantos passos já transpuseram o portal dessa entrada lavrada na memória(...) (...)Não posso registrar em palavras o que está gravado no caminho distante. Mas ali estão presentes todos os olhos, os passos as sombras, os desejos, as alucinações dos que já se foram. Maria Conceição resguarda a Memória dos ancestrais com todos os risos, Todos os abraços, na voz do amor que não morre. Os poetas calados estavam ali Ao lado de Maria na sala que Sobrevive à pátina do tempo. Raízes * Maristela Lemos Estão nos lilases e açucenas, Narcisos e figos das asas Das horas que Perpetuam a sina do homem Deste chão Também nas têmporas ocre Da saudade, emblema dos Adeuses se enlaçam minhas Raízes. DE ÁRVORES E ÁRVORES Rafaela Gonçalves Ribas Árvores são almas verdes que nos contemplam piedosas e floridas. Árvores são seres de seda, na rútila urdidura, com alicerces abotoados no prumo incerto do chão. Conversam com o vento. Conversam com os pássaros Conversam com o mundo. Ora semeiam. Ora pranteiam. Ora são braços. Ora harpas. Ora são lanças. Ora ferem. Ora suplicam. Em seus longos dedos verdes, ramos abertos, abraçam rouxinóis e pardais no mesmo abraço. Em seu límpido compasso. Em sua face fugaz. Em seu esplendor e cansaço – Emblema verde do mundo – não lhes pertence a razão, e a fome ronda seus passos. Filhas da terra, vivem no ar, em seu trapézio de flor. Impotentes e lindas, algemadas ao chão, entre água e solidão, me enternecem. Me alimentam com o pólen da floração. Árvores são almas verdes... Casa e Verso[i] (fragmentos) Ah, a sintaxe afetiva dos casarões de Bagé, com seus castos baús de lençóis e sonhos. o rendado generoso de seus beirais, onde esvoaçam almas e pombos, No unânime apelo de sóis e adeuses. O rosto mudo do arroio com seu curso de águas exangues, lambendo o dorso claro do pólen da terra. A ordenação da memória da casa materna na liturgia de castiçais, oratórios, santos de devoção. Melancólicos segredos guardados em platibandas e bandos amarrados nos braços do tempo. ........ E o rosto sem palavras da cidade, livre e absoluto, isento de tudo, obediente apenas ao tempo e ao céu, na cumplicidade do hálito do cálice verde do pasto. Särita Bárros
CANTO DOS GIRASSÓIS (fragmento)
* Sônia Alcalde Protege, Senhor, a abóbada
clara sulina da nossa terra
inscrita secularmente no
lábio líquido da história.
Ouve o suspiro vítreo dos
nossos velhos casarões expostos
à surdez do tempo.
...
Escuta o gemido gris
das papoulas maduras
nascidas no ventre cinza
da Panela do Candal.
Assiste o hálito pálido
do orvalho, lambendo, agônico,
o desfolhado rosto dos girassóis..
*Sônia Alcalde
Protege, Senhor, a abóbada
clara sulina da nossa terra
inscrita secularmente no
lábio líquido da história.
Ouve o suspiro vítreo dos
nossos velhos casarões expostos
à surdez do tempo.
...
Escuta o gemido gris
das papoulas maduras
nascidas no ventre cinza
da Panela do Candal.
Assiste o hálito pálido
do orvalho, lambendo, agônico,
o desfolhado rosto dos girassóis..
CANTO DOS GIRASSÓIS (fragmento)
* Sônia Alcalde Protege, Senhor, a abóbada
clara sulina da nossa terra
inscrita secularmente no
lábio líquido da história.
Ouve o suspiro vítreo dos
nossos velhos casarões expostos
à surdez do tempo.
...
Escuta o gemido gris
das papoulas maduras
nascidas no ventre cinza
da Panela do Candal.
Assiste o hálito pálido
do orvalho, lambendo, agônico,
o desfolhado rosto dos girassóis..
*Sônia Alcalde
Protege, Senhor, a abóbada
clara sulina da nossa terra
inscrita secularmente no
lábio líquido da história.
Ouve o suspiro vítreo dos
nossos velhos casarões expostos
à surdez do tempo.
...
Escuta o gemido gris
das papoulas maduras
nascidas no ventre cinza
da Panela do Candal.
Assiste o hálito pálido
do orvalho, lambendo, agônico,
o desfolhado rosto dos girassóis..