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Um conto de Natal em Bagé

Publicada em 27/12/2019
Um conto de Natal em Bagé | ELLAS | Jornal Minuano | O jornal que Bagé gosta de ler


por Gerson Luís Barreto de Oliveira
Médico nefrologista e escritor

Vocês sabem qual foi o melhor elogio que recebi sobre o meu livro de crônicas “ A Minha Esquina?" Pessoas muito queridas, e não foi somente uma, dizendo, me olhando de frente, por Whats, enfim, fazendo questão de se manifestar. O livro teria possibilitado aflorar sentimentos. De repente estas mesmas pessoas me diziam que ficavam a sorrir e chorar ao mesmo tempo.

Parei. Será que realmente virei escritor? Se um livro consegue isso, com palavras escritas por mim, é porque alcancei objetivos a mais do que pensava. Eu tinha em mente dar um norte para as crônicas publicadas, inicialmente, em São Gabriel, e era relembrar e homenagear meus pais, minha família, meus parentes e amigos.

E ao ver que tocava de alguma forma o coração de antigos e novos leitores, tudo ficou sendo muito especial. Pode se dizer que também me sinto motivado pelo retorno que tenho recebido.

Vou falar, hoje, de uma grande mulher, pequena, ágil, mente de uma inteligência vivaz, de uma cultura enciclopédica. Eu já contei algumas passagens de minha antiga mestra em Bagé, a queridíssima professora de Línguas, a Dona Inês Baquè Simões Pires.

Por amor de um brasileiro, que vinha ser primo distante do meu avô Idelmar Barreto, ela deixou o Uruguai de seu coração e veio até Bagé. Apareceu em nossa casa para se apresentar como professora de idiomas e ficou de papo comigo, segundo me confessara anos depois. Eu tinha quatro anos, então era o ano de 1970. Meus pais eram proprietários do restaurante Santa Cruz, na General Osório, quase pegado à Casa Carioca.

Ela trabalhava muito, dava aulas particulares de inglês, francês e espanhol, na sua casa. Por um destino ingrato, seu único filho, também professor, de matemática e física, veio a falecer, deixando-a com a filha adotiva e seus alunos, que, conforme os anos passavam, diminuíam cada vez mais.

O tempo é inclemente. Fazia com que novos cursos surgissem em Bagé, novas formas de aprendizado. Alguém, hoje, precisa de curso de inglês para saber falar esse idioma? Há aulas on-line com professores tarimbados. Quer melhor exercício de aprendizado do que botar uma série no celular de um adolescente para ele assistir no idioma original sem legendas? Fazem isso lá em casa, já me ultrapassaram em anos-luz. 

E assim aquela velha professorinha ficava na lembrança de muita gente na Rainha da Fronteira. Uma figura simpática, mas cada vez mais impossibilitada de prover seu sustento. Com mais de noventa anos, quem poderia?

E as dificuldades começaram a ficar intransponíveis. Um grupo de alunos e pais de alunos, capitaneados por duas inestimáveis senhoras que com uma energia inesgotável (Greice Martins e Maria Tereza Zambrano) fizeram chover água de pedra, a protegeram como uma guarda pretoriana fazia com o imperador de Roma. Homenagens foram feitas através de festas. Se reformou uma casa e ali se instalou a frágil figura da maneira mais digna que ela poderia querer.

Mas, para mim, ainda era pouco. Para dar um tempero nas comemorações, saí escrevendo para as embaixadas dos países que D. Inês de certa forma representava (França, Inglaterra, Espanha e Uruguai), quase uma ONU. E contava o relato de uma vida difícil, modesta, mas cheia de ensinamentos.

Vou lhes dizer um segredo, se dei certo como escritor, poderia me dar melhor como funcionário do Ministério das Relações Exteriores. Todos, eu digo todos embaixadores, responderam com cartas pessoais, que chegavam a ser comoventes. O da Inglaterra havia sido professor antes de entrar para o serviço diplomático, foi o mais enfático e emocionado. O povo inglês é tido como formal, não foi o que li. A carta era linda!

O da Espanha enviou uma foto autografada da hoje rainha emérita, D. Sofia de Boubon, que dava assistência especial à terceira idade naquele país, para que pudéssemos usar como uma saudação à tão distinta senhorinha. O da França chegou a mandar presentes. E do Uruguai veio o próprio embaixador até Bagé, fazer uma saudação especial.

Conto tudo isso porque em uma das últimas visitas, perto do Natal, enquanto ainda estava lúcida ela me olhou firme, segurou minhas mãos e disse: “Todo que hicieron por mi un dia ustedes recibiron en doble, jo solamente puedo me quedar soriendo y llorando de felicidad".

 

Box com a foto:

"Esse registro foi de março de 2011, na Sociedade Espanhola, onde Dona Inês Baquè Simões Pires estava junto à vice-cônsul da Espanha, na época, Guillermina Morales, que faleceu essa semana. A imagem eternizou o  ato em que  Dona Inês, recebia uma carta da Rainha Sofia, com uma foto autografada especialmente para ela. Grande momento e muita saudade", relatou Gerson

Dona Inês teve uma longa vida, nasceu em 06.06.1915 e faleceu em 11.06.2014, aos 99 anos

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