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Do Mundo da Lua

Publicada em 17/01/2020

por Gerson Luís Barreto de Oliveira
Médico nefrologista e escritor

Família grande tem seus percalços, mas proporciona grandes alegrias, minha avó Orphelina sempre falava bem da dela, 17 irmãos com ela incluída.
O pai era médico homeopata em Bagé, assim como o pai dele fora, e este era o autor do “ Medicina Homeopathica “, o primeiro livro escrito no Rio Grande do Sul sobre homeopatia, em 1890.
Homeopatia na época era praticada como se fosse hoje a clínica médica. Não haviam os antibióticos, que mudaram o dia-a-dia da medicina após a II Guerra Mundial no mundo todo, principalmente no ocidente.
Na Bagé da infância da minha avó, 1910 – 1920 tudo era como as muitas cidades interioranas, e ter uma família grande era sinal de prestígio social. Apesar de ser médico o bisavô não era rico, e com tantos filhos e metido em política não amealhou nada de posses, tinha uma casa grande e só.
As mulheres da família eram dinâmicas e muito independentes para a época, os homens eram em menor número, somente cinco, e desses, um se destacava pela vontade de vencer e o faro para os negócios.
Com as irmãs que iam casando, com o pai já velho e cansado, era Eroclides ( apelidado de Roque por elas ) quem financiava os enxovais que cada noiva por tradição tinha que levar. Minha avó guardou por toda vida o presente dele como relíquia, dizia: “ foi o melhor que ganhei “.
Pois o Roque, já casado com uma bela moça de Sant’Ana do Livramento resolveu montar um bar na Avenida Sete de Setembro, bem na frente do Cinema Capitólio, e ele queria fazer o negócio prosperar. Contando na época com poucos recursos, denominou o bar com um nome chamativo.
O Rio de Janeiro era a Capital Federal até 1960, quando Brasília foi inaugurada pelo JK, e tudo que dizia respeito à Cidade Maravilhosa fascinava o resto do país.
Na época que o bar deste irmão da minha avó foi aberto em Bagé ( 1947 – 1955 ), nada era mais chamativo no Brasil que o Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, tudo era glamour. Pois o bar do tio passou a se chamar Copacabana, não pela elegância, que não tinha, mas pelo apelo que isso trazia ao se remeter à capital.
O bar Copacabana era um local com o balcão à esquerda, e mesas com divisórias à direita, umas dez. Tinham bancos acoplados de espaldar alto, as da frente para as famílias, as mais afastadas para alguns casais fortuitos, encontros escusos no meio da tarde.
A moradia dos tios era uma quadra adiante de onde a Avenida Sete de Setembro vira Tupy Silveira, e era ali a manufatura das coxinhas de galinha, croquetes, pastéis e o pão caseiro usado no lanche da tarde, tudo era armazenado num carrinho puxado à mão pelo Gentil, um senhorzinho que já de cabelo branco descia toda a Sete para diariamente levar o que era avidamente consumido no Copacabana. Era tia Catarina, que fazia tudo, e como era hábil em desenhar vez por outra fazia as decorações do bar.
Haviam funcionárias que no local mesmo preparavam os sanduíches e se alguém queria algo mais para comer rapidamente saía um “ A La Minuta “ (bife, arroz, feijão, ovo frito e salada), sendo que as batatas fritas o tio deu um jeito de que tivessem um corte diferente do usual, criando um cortador especialmente para este fim.
Uma das irmãs ao visitar o estabelecimento para falar com o Roque implicou com a colher de louça que era usada para tirar os ovos de galinha imersos em salmoura num vidro grande (uns vidros que eram originalmente de baterias de carro) e mandou uma colher de cristal de presente, um carinho de irmã para ajudar a dar personalidade ao local.
No final da noite, com o dinheiro do dia dentro de um pequeno cofre, lá saía ele a fazer o caminho inverso ao Gentil, e subia a Sete na direção da sua casa. Uma noite notou estar sendo seguido de perto por um indivíduo, apertou o passo e o vivente fez o mesmo, diminuiu a marcha e o homem o abordou: “me dá fogo para o meu cigarro“, “só se for esse fogo“, e tira o revólver do bolso. Sumiu o perseguidor a galope atrás de uma esquina transversal à Sete de Setembro. O incauto não sabia que não devia mexer com aquele gaúcho de olhar esperto, que uns 20 anos antes pegara em armas por duas vezes para defender a Revolução de 1930 e depois para combater na de 1932.
Carnaval era coisa séria, e muito esperado em toda a cidade. Uma loja estava desalugada ao lado do já famoso Copacabana. O Eroclides, que tinha um sócio de nome Vicente, se deu conta da oportunidade, aluga a sala direto do proprietário e lhe diz: “quero fazer um baile de mêta e mêta”. E você leitor dê asas à imaginação. A tia abismada concorda em fazer um oleado para chamar a atenção dos futuros foliões e alegrar o salão. Batizaram o baile de “Do Mundo da Lua“, e na pintura era um céu com a lua adormecida.
Seriam usados quilos de confete e serpentina, muito lança perfume, mulher não pagava. Tinham como costume editar o “Rouxinol“, livreto com as marchinhas que deveriam ser decoradas para o grande dia, avidamente disputados por todos.
O baile foi um retumbante sucesso, bombou mais que dos clubes tradicionais, e o tal “mêta e mêta“ rolou solto. O tio no dia seguinte às gargalhadas contava que até mulher casada, mascarada e desacompanhada, apareceu na festa para se divertir à revelia.

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