ELLAS
Somos o que somos por nossas avós. Não esqueça disso.
Dilce Helena Alves Aguzzi
Muito da sabedoria e conhecimento acumulado pela humanidade veio através da capacidade de contar e ouvir histórias. As mulheres se mantiveram fortes física e emocionalmente pela característica de formar grupos de convivência, de cooperação e de troca de saberes. Esses grupos, não raro, foram preparados para o enfrentamento de situações difíceis e previsíveis da vida através do compartilhar de experiências, histórias, histórias pessoais, fantásticas, reais, simbolicamente carregadas, sejam como for foi através delas que muito do feminino e da sabedoria da humanidade como um todo foram construídos, preservados e cultivados.
Parte do processo de autoconhecimento é conhecer, reconhecer e honrar quem nos antecedeu, quem criou e desbravou as condições para que estivéssemos aqui. Conhecer a biografia de Joana D’Arc, Simone de Beauvoir, Marie Curie, Nise da Silveira, Michele Obama ou quem quer que sirva de inspiração é excelente, porém é vazio se não conhecemos quem está mais perto. Que simplório ostentar a camiseta com a estampa de Frida Kahlo e não conhecer os anseios e dores da própria mãe ou as experiências de nossas avós e tias?
Procure conhecer a trajetória de vida, a história pessoal das mulheres de sua vida, as que te cercam e aquelas que te antecederam. Há mais delas em nós mesmos do que poderíamos conscientemente supor. Quem elas são, quem foram, como se percebiam na infância e juventude, que escolhas fizeram, que trajetória suas vidas percorreram, que sonhos tiveram, que dificuldades enfrentaram e no que contribuíram e contribuem com nossas existências. Tente também aproximar-se das mulheres mais jovens, não julgue, não critique nem condene, conte um pouco de si, com graça e sinceridade compartilhe um fiapinho de sua trama existencial.
Busque saber que histórias lhe foram contadas, tente descobrir que visão de mundo lhes foi passada através desses relatos. Em cada geração um pouco de rebeldia e luta fez com que cada mulher ousasse ser mais, um tantinho diferente do que lhe cabia no padrão social esperado e reservado. Essas rebeldias e sabedorias deixaram pistas durante o percurso pessoal de cada uma, são os contos e relatos orais transmitidos de geração em geração. Neles está contido o saber ancestral, a energia psíquica do feminino e o poder da cooperação, de apoiar e consolar umas as outras.
Baú de recordações, fotos de família, histórias de infância, talentos pessoais, artes manuais, receitas de família, gostos, ditados, lemas e conselhos que marcaram cada trajetória, grandes feitos, pequenas trapalhadas e experiências engraçadas, tudo isso conta um pouco de quem foram e do legado que nos deixaram. De certa forma somos um pouco do que elas ousaram ser e daquilo que sonharam e jamais concretizaram. A mulher plena de sua importância reserva um lugar para essa enorme e particular colcha de retalhos de vivências e experiências daquelas nos ajudaram a ser a mulher que somos hoje.