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Jornalista e pesquisador histórico, Nilson Mariano lança livro sobre Adão Latorre e o episódio da degola na Revolução de 1893

Publicada em 09/03/2020
Jornalista e pesquisador histórico, Nilson Mariano lança livro sobre Adão Latorre e o episódio da degola na Revolução de 1893 | Cidade | Jornal Minuano | O jornal que Bagé gosta de ler
Com fotografias, textos e mapas ao longo das 156 páginas, a obra pode ser adquirida através do site da Martins Livreiro

Personagem histórico cercado de lendas e mistérios, Adão Latorre é o tema principal do livro lançado, no final de semana, pelo ex-repórter de Zero Hora e Folha da Tarde,  Nilson Mariano, jornalista e pesquisador histórico. A obra  “Um tal Adão Latorre – A degola na Revolução de 1893"(Edigal), foi apresentada na Livraria Érico Veríssimo, no Centro Histórico de Porto Alegre, com direito à palestra e debates sobre a vida do personagem. 
Por e-mail, Mariano concedeu entrevista ao Jornal MINUANO e adiantou: "O editor e eu desejamos muito lançar o livro em Bagé e Pelotas. Mas precisamos planejar bem, saber se jornais e rádios divulgariam, se haveria interesse do pessoal daí", destaca.
JM - Como surgiu a ideia de escrever sobre o Adão Latorre?
Sempre me interessei por esses personagens malditos, relegados à zona de sombras da nossa História. Acho que a trajetória deles, se resgatada, pode esclarecer episódios nebulosos e controversos. No caso do coronel Adão Latorre, ele protagonizou a maior degola massiva já ocorrida em solo gaúcho, naquele que foi conhecido como o massacre do Rio Negro. Em 28 de novembro de 1893, quando a Revolução Federalista completava 10 meses, Latorre cortou a garganta de dezenas de prisioneiros pica-paus (republicanos governistas adeptos do lenço branco) que haviam se rendido sob a promessa de serem poupados. Eles estavam confinados num curral de pedras, como bois destinados ao abatedouro. A versão republicana apontou que foram 300 degolados, mas a cifra é exagerada. O líder dos maragatos (revolucionários do lenço vermelho), general Joca Tavares, minimizou que foram apenas 23 vítimas por degola – número também irreal, pois foram bem mais. O fato é que Adão Latorre cumpriu ordens, não tinha autonomia para perfurar carótidas alheias por iniciativa própria. Além de major maragato (depois chegou a coronel), era capataz das estâncias dos irmãos Joca e Zeca Tavares, de Bagé.
JM – Como começou o envolvimento com este capítulo da história e com este personagem, que é um dos mais conhecidos do período?
Creio que começou em 1993, quando fiz reportagens, pelo jornal Zero Hora, sobre o centenário da Revolução Federalista. Em Bagé, entrevistei o último filho vivo de Adão Latorre, o João Latorre, que tinha cerca de 100 anos. João contou aspectos da vida privada do pai. Parece inacreditável: impiedoso nas revoluções, Latorre era pacífico em casa. Pedia que os filhos não se metessem em confusões, evitassem brigas. O mais surpreendente, ao menos para mim: proibiu os filhos de caçarem passarinhos. Se visse um bodoque (funda, estilingue), cortava as tiras de borracha com sua faca sempre afiada. Enfim, são contradições humanas. Isso ficou arquivado na minha memória. Decidi por pesquisar a fundo há cinco anos, ao saber que Latorre também lutara pelos blancos uruguaios, especialmente com Aparício Saraiva.
JM – Como foi o processo de pesquisa e escrita da obra? Quanto tempo, mais ou menos, demorou a elaboração do livro?
Comecei a pesquisa com jornais da época, e havia muitos periódicos, na maioria das cidades. Só em Bagé, a Folha do Sul (de 1893), O Dever, O Cruzeiro do Sul... Pesquisei documentos em Montevidéu, na Biblioteca Nacional do Uruguai, e no Departamento de Cerro Largo. Adão Latorre não se bateu apenas pelos maragatos rio-grandenses. Com apenas 16 anos, alistou-se no exército do Partido Blanco, do Uruguai. Aos 25 anos, já era capitão, o que indica suas qualidades. Note-se que chegou a coronel, mais cedo, no Uruguai. Uma das razões é que o país oriental aboliu a escravatura meio século antes que o Brasil. As pesquisas continuaram aqui no Rio Grande do Sul, claro. Fui duas vezes a Piratini para pesquisar sobre a vítima mais ilustre da degola, o coronel pica-pau Manuel Pedroso, o Maneco. Havia dois clãs que se odiavam: os Pedroso, de Piratini, e os Tavares, de Bagé. Latorre foi o instrumento da vingança que culminou na degola. Aliás, o coronel Maneco mostrou-se valente e digno no momento final. Poderia ter fugido, como fez o seu irmão, Antero Pedroso, mas ficou com os prisioneiros pica-paus. Também visitei os palcos das revoluções, como o Rio Negro (hoje Hulha Negra), estâncias, estações de trem, o Cemitério dos Anjos, a localidade de Olhos D’Água e outros. Percorri a linha da Fronteira, o que foi mais prazer do que trabalho. Muitos me ajudaram. Em Bagé, sou grato ao pessoal do Arquivo Público, em especial ao pesquisador Jaime Barbosa Viviam Jr, que me levou ao cemitério onde estão os restos mortais de Latorre. Ao todo, entre pesquisa de campo e escrita, levei em torno de quatro anos. Não de forma contínua, pois dependia da disponibilidade do meu bolso e de outros afazeres.
JM - Um dos familiares do Latorre compareceu ao lançamento do livro. Como foi o contar com o reconhecimento da família sobre o teu trabalho?
Entre os participantes (historiadores, jornalistas, pesquisadores e interessados), estava um bisneto do coronel Adão Latorre, o senhor Paulo Roberto Pereira da Silva, nascido em Bagé, atualmente morando na Capital. Foi gratificante conversar e saber a opinião dele sobre a biografia do antepassado famoso. No livro, tentei revelar todas as nuances do Latorre. Ele realmente foi cruel ao degolar prisioneiros subjugados, mesmo que tenha sido mandado por Zeca Tavares. Praticou uma vilania imperdoável. Ao mesmo tempo, precisamos analisar o contexto da época, de ódios e vinganças mútuas, não pela óptica atual. Fazendas eram invadidas, depredadas. Bois e cavalos eram requisitados com a desculpa de abastecer as tropas. Jovens eram alistados na marra. Assassinava-se um adversário político por detalhes menores. Degolava-se a fartar, e os dois lados faziam isso. Não quero justificar a degola, de jeito nenhum, é crime abominável. Mas, por outro lado, quis mostrar o avesso de Adão Latorre, que foi bravo e leal a seus companheiros, fossem maragatos ou blancos. Nenhum negro chegaria ao coronelato, naqueles idos, inclusive chefiando oficiais brancos, se não tivesse qualidades de sobra. A prova de que Latorre era valente foi sua morte, no combate às margens do Rio Santa Maria Chico (Dom Pedrito, na Revolução de 1923), quando tinha inacreditáveis 88 anos. Enquanto muitos maragatos debandaram quando as metralhadoras inimigas foram acionadas, ele tentou resistir com seu esquadrão de cavalaria ligeira. Foi durão até o fim. Até o jornal bajeense “O Dever”, de orientação republicana (portanto, contrário aos maragatos), reconheceu isso.

 

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