Esportes
Sem vínculos empregatícios, árbitros são afetados pela pandemia
Desde que o coronavírus trouxe reflexos diretos ao futebol, muito se discutiu os impactos ocasionados para os clubes e os jogadores, principalmente em relação aos vínculos contratuais existentes. Entretanto, pouco se percebeu uma ampliação do debate para a arbitragem que, diferentemente dos demais profissionais, não possui contratos empregatícios no mundo do futebol. Na prática, recebem por partida trabalhada. E como os jogos estão suspensos por tempo indeterminado, não dispõem de nenhuma entrada financeira por parte do futebol.
No quadro da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), três árbitros são bajeenses: Jeferson Eduardo Moraes Giovane Silvae e Maurício Granato. Embora cada um tenha seu emprego formal, na rotina diária, o futebol transforma-se numa importante fonte de renda-extra. Levantamento feito pelo portal PeleiaFC dá conta que, por jogo apitado num Gauchão, um árbitro ganha cerca de R$ 1,6 mil. Já os assistentes, o valor chega a R$ 800. Na Divisão de Acesso, os valores por partida são diferentes. Na primeira fase, é R$ 777 (árbitro) e R$ 389 (assistentes). Na reportagem, o presidente do Sindicato dos Árbitros do Rio Grande do Sul, Maicon Zuge garante que não será cobrada mensalidade de março e abril.
“Em alta temporada, dobra nosso salário”, destaca Jeferson Eduardo
Do trio bajeense, o mais experiente deles é Jeferson Eduardo Moraes que, em 2021, fechará a idade máxima para apitar jogos profissionais, que é 50 anos. “Essa pandemia causa um impacto gigantesco em todos os setores. Na nossa atividade que é envolvida com o público, pior ainda. Embora não tenhamos vínculo trabalhista, contamos com o dinheiro. É um plus e, se for na alta temporada, dobra nosso salário. Temos nosso trabalho formal. Eu mesmo, tenho vínculo com o Estado, sou professor. Não só com a Federação, eu trabalho com eventos esportivos também, organizados por prefeituras e empresas. Daí, são árbitros amadores. Conheço casos de colegas que usam o dinheiro da arbitragem até para custeio de despesas básicas”, contextualiza.
Fora o aspecto financeiro, os árbitros também são impactados no aspecto físico, visto que todo ano, precisam submeter-se a testes físicos para permaneceram apitando em competições profissionais. “Paralelo à atividade de arbitragem, sou praticante de outras modalidades esportivas. Uma delas é o triathlon. Para mim, independe de ter jogo ou não, sempre me mantenho em atividades, pois trato como uma questão de saúde. Até porque, nos incomodamos muito com a arbitragem, principalmente quem tem comprometimento com a causa”, relata.
“Infelizmente, é um mal necessário”, afirma Maurício Granato
Desde 2018 na FGF, o bajeense Maurício Granato é o mais novato do quadro. No dia a dia, exerce a profissão de policial penal. Porém, o gosto e o envolvimento com o futebol o levou a encarar a arbitragem como mais uma oportunidade de renda-extra. Para esta temporada, já tinha prevista algumas competições para trabalhar. “Como árbitro da FGF, trabalhei em dois jogos neste ano: São Paulo-RG x Avenida e Bagé x São Paulo-RG. Estava escalado para o jogo entre Guarany x Avenida, que não saiu por causa do vírus. Iria continuar trabalhando na Divisão de Acesso. Depois, Segundona (terceira divisão) e os estaduais sub-17 e sub-15”, destaca.
No entanto, assim como os demais profissionais, Granato tem consciência que a interrupção foi necessária, em virtude da conjuntura atual de contaminação do Covid-19. “Estamos parados, esperando a situação se normalizar. Estou em casa, me cuidando e treinando, para não perder o condicionamento. Mas, infelizmente, tudo isso é um mal necessário”, destaca.
Tema para discussão
Esse é um dentre tantos motivos que se faz necessária a discussão da profissionalização da arbitragem no Brasil. Trata-se de uma função com extrema importância para o andamento da partida e que carrega uma pressão de todos – torcedores, imprensa, torcida e dirigentes. Ofensas, xingamentos e agressões são situações que estes profissionais estão submetidos diariamente. Afinal, se a cobrança é enorme, no mínimo, é necessário que haja uma disponibilidade de recursos. E quem seria responsável por isso? Eis a reflexão.