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Plano prioriza conservação de espécies ameaçadas de extinção no Pampa

Publicada em 26/09/2020
Plano prioriza conservação de espécies ameaçadas de extinção no Pampa | Cidade | Jornal Minuano | O jornal que Bagé gosta de ler
Área alagada, em Bagé, é local de ocorrência dos peixes Austrolebias juanlangi

Por Sidimar Rostan

Pequenos peixes coloridos brotam nos campos da Campanha gaúcha com a chegada das chuvas. Seguindo roteiro perfeitamente adaptável a uma história de pescador, o fenômeno biológico inicia quando a água faz eclodirem os ovos fertilizados na lama. O fabuloso processo de reprodução dos rivulídeos se desenvolve em poças isoladas, espécies de oásis em meio ao pasto, que podem desaparecer no horizonte pela força das transformações do bioma. Garantir as condições para que novas populações proliferem todos os anos, nestes peculiares ambientes temporários, é um dos objetivos do Plano de Ação Territorial (PAT) Pampa Bagé.
O trabalho de conservação iniciou no ano passado, com expedições científicas em 18 municípios. O doutor em Biologia Animal, ligado ao Setor de Ictiologia do Museu de Ciências Naturais do Rio Grande do Sul, Marco Azevedo, integrou a equipe da primeira jornada, que percorreu 13 pontos diferentes, distribuídos entre Bagé, Aceguá, Hulha Negra, Pedras Altas, Herval, Jaguarão e Arroio Grande, onde foram registradas sete espécies ameaçadas de extinção. “Revisitamos áreas de ocorrência conhecidas para verificar a permanência das populações, avaliar as condições de preservação do habitat e identificar eventuais ameaças”, detalha.
Pesquisadores empreenderam duas expedições a localidades de Jaguarão, Lavras do Sul, Caçapava do Sul, Santana da Boa Vista e Encruzilhada do Sul, para examinar pontos de ocorrência e estado de conservação de populações de espécies de cactos. A agenda de mapeamento incluiu uma expedição à região campestre de Dom Pedrito e às localidades do Rincão do Inferno e Casa de Pedra (entre Bagé e Lavras do Sul), Pedra da Abelha, Pedra do Segredo, Galpão de Pedra e Guaritas (em Caçapava do Sul), com enfoque na flora ameaçada de extinção.
O cronograma também alcançou áreas localizadas nos municípios de Pedro Osório, Cerrito, Candiota, Piratini, Pinheiro Machado e Canguçu, resultando na definição de 31 espécies alvo do PAT Pampa Bagé. Coordenado pela Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul, o plano integra o Programa Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção (Pró-Espécies), instituído pelo Ministério do Meio Ambiente, e financiado pelo Global Environment Facility (GEF). A agência implementadora é o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e o WWF-Brasil foi selecionado para atuar como a agência executora.


Peixes das nuvens não caem do céu
Os rivulídeos (que pertencem à família Rivulidae, uma das quatro famílias mais diversificadas dentre as 40 famílias de peixes de água doce do país) são pequenos predadores de insetos e larvas de mosquitos. Raramente alcançando 10 centímetros de comprimento, estes animais vivem em ambientes aquáticos rasos, isolados de rios e lagos. Diversas espécies povoam o Pampa, em um ciclo anual peculiar, que os torna popularmente conhecidos como peixes-das-nuvens. Os rivulídeos vivem apenas o suficiente para reproduzir, antes de sucumbirem à seca. Seus ovos sobrevivem sem água, enterrados no substrato (em cascalho, argila, areia ou lama), para eclodirem quando o ambiente torna a alagar, no período chuvoso.
Abrangendo 3.635.353,28 hectares, o mapa do PAT Pampa Bagé inclui áreas povoadas por populações de Austrolebias arachan, Austrolebias bagual, Austrolebias camaquensis, Austrolebias cheradophilus, Austrolebias gymnoventris, Austrolebias melanoorus, Austrolebias nachtigalli, Austrolebias quirogai, Austrolebias reichert, Austrolebias univentripinnis e Austrolebias vazferreirai, espécies de rivulídeos ameaçadas de extinção no bioma que ocupa cerca de dois terços do Rio Grande do Sul. Detectado apenas em pontos de Aceguá, Bagé, Jaguarão, Herval, Hulha Negra e Pedras Altas, o Austrolebias juanlangi, que vive em pequenas áreas, geralmente inferiores a mil metros quadrados, também é um alvo do projeto de conservação.
Azevedo esclarece que o plano contempla espécies enquadradas no mais alto nível de ameaça de extinção, classificadas como criticamente em perigo, que não estão abrigadas em unidades de conservação e nem dispõem de qualquer iniciativa de preservação em andamento. “Os alvos do PAT Pampa Bagé são as espécies mais ameaçadas da região e as que precisam, com maior urgência, de um esforço para que não venham a se extinguir na natureza”, pontua o pesquisador.
O coordenador executivo do PAT Pampa Bagé, doutor em Biologia, Leonardo Urruth, salienta que o trabalho de conservação dos denominados peixes anuais envolve conservar os ambientes, que geralmente são campos onde a água acumula em pequenas localidades, várzeas de arroios ou em charcos próximos a banhados. “Uma das estratégias é trabalhar com a educação ambiental, para mostrar para o produtor rural que é necessário e simples manter estas áreas. As vezes depende apenas de não colocar uma máquina por cima do charco. Em algumas situações, o gado pode até ser mantido. São espécies ameaçadas de extinção totalmente passíveis de arranjo”, descreve.

 

Flora rica e pouco estudada
A Pedra do Segredo esconde riquezas de valor inestimável. Sem qualquer relação com a lenda do tesouro jesuíta, alimentada pelo imaginário popular da região, reservas de zinco, fosfato e cobre despertam o interesse de grandes mineradoras. Pelo menos oito solicitações de pesquisa ou lavra tramitam na Agência Nacional de Mineração (ANM). O monumento geológico encravado no interior de Caçapava do Sul também atrai atenção por apresentar espécies raras da flora do Pampa, verdadeiras joias de cores vibrantes, como a Pavonia secreta.
A professora do curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário da Região da Campanha (Urcamp), bióloga com pós-doutorado em Geografia, Anabela Silveira de Oliveira Deble, enfatiza que a Pavonia secreta foi descrita em 2011 e tem como característica o hábito arbustivo de folhas inteiras, serreadas e alternas. “É endêmica da região da Pedra do Segredo e consta como criticamente ameaçada na lista de espécies ameaçadas de extinção da flora do Rio Grande do Sul”, pondera.
Anabela observa que o Pampa abriga famílias botânicas herbáceas diversificadas em espécies, que apresentam potencial medicinal, alimentício e ornamental ainda pouco estudado do ponto de vista econômico e ecossistêmico. As monoculturas de soja e eucalipto representam as principais ameaças à biodiversidade.
O PAT Pampa Bagé abrange 17 espécies da flora classificadas como criticamente em perigo (Cypella magnicristata, Cypella pusilla, Dyckia donfelicianensis, Herbertia zebrina, Mangonia tweediana, Parodia gaúcha, Parodia neoarechavaletae, Parodia rudibuenekeri, Petunia secreta, Phoradendron habrostachyum, Senna nana, Sphaeralcea bonariensis, Tillandsia bela e a própria Pavonia secreta), em perigo (Frailea mamífera) ou vulneráveis (Chascolytrum parodianum e Trixis pallida), todas restritas aos ecossistemas campestres (região da Campanha) e afloramentos rochosos (escudo sul-rio-grandense ou serra do sudeste), em uma distribuição geográfica que não garante sobrevivência.
Embora ocorram em áreas de difícil mecanização, estas espécies estão sendo constantemente ameaçadas pela eminência da implantação de empreendimentos de exploração mineral, conforme alerta a professora, que é idealizadora do projeto de pesquisa 'Biota Pampeana: diversidade, conservação e sustentabilidade'. “A mineração pode levá-las à extinção e possível perda de patrimônio genético, histórico e cultural”, avalia.


Ambiente diverso e vulnerável
O Pampa é um cenário de contrastes. Com mais de 100 zonas consideradas prioritárias para uso sustentável, em classificação do Ministério do Meio Ambiente, o bioma é o menos protegido do Brasil. Berço de uma grande biodiversidade, ainda não completamente descrita pela ciência, a paisagem de campos, serras, planícies, morros e coxilhas, restrita ao Rio Grande do Sul, em solo brasileiro, tem a menor representatividade no Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC), constituindo somente 0,2% da área continental protegida.
O fogo modifica o bioma que acolhe anfíbios como o Melanophryniscus sanmartini, encontrado em Pedras Altas e em Pinheiro Machado, e mamíferos como o gato-palheiro (Leopardus colocolo), que habita a metade sul do Estado; dois alvos do PAT Pampa Bagé. As queimadas no bioma são monitoradas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em uma cronologia que destaca o ano de 2020, com 1520 focos contabilizados em nove meses. O indicador, embora ainda seja parcial, já representa o maior desde 2003, quando 1798 ocorrências estabeleceram o patamar mais elevado da série histórica.
Atividades que dependem da supressão da vegetação nativa, entretanto, representam a principal ameaça ao Pampa. E a degradação tem escala. Levantamento apresentado em maio, pelo Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBiomas), revela que 642 hectares foram perdidos, apenas em 2019. Alcançando a Campanha gaúcha, região apontada como destaque no crescimento agrícola, em relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a extensão suprimida no ano passado equivale a 900 campos de futebol.
Todos os biomas brasileiros tiveram saldo negativo em números absolutos das áreas naturais, entre 2000 e 2018, de acordo com dados da edição inaugural das Contas de Ecossistemas: Extensão por Biomas, divulgada na quinta-feira, 24, pelo IBGE. Mas a maior perda percentual, neste período, ocorreu no Pampa, onde 16,8% da área natural foi convertida em usos antrópicos (quando há a ação do ser humano em atividades sociais, econômicas e culturais sobre o meio ambiente).
Representando 37,4%, a vegetação campestre predominava no Pampa, em 2018, seguida pela classe de área agrícola, com 36,3%. A zona natural descoberta, que inclui dunas e areais, totalizava 19,3%. O estudo do IBGE aponta, porém, que o território sofreu alterações intensas. A vegetação natural foi reduzida em 15.607 quilômetros quadrados em 18 anos, cedendo espaço para a agricultura, que ocupou 58% destas áreas, e para a silvicultura, ocupando 18,8%.


Uma ferramenta de construção coletiva
Todo o contexto do bioma é considerado pelo PAT Pampa Bagé. Urruth argumenta que todas as etapas deste tipo de ferramenta de conservação, da elaboração ao monitoramento de práticas executadas, têm caráter participativo, envolvendo diferentes atores, sob a coordenação da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul. “Convidamos pesquisadores, gestores ambientais, gestores da agricultura, extensionistas rurais, representantes de produtores rurais, do turismo, organizações não governamentais, representantes de quilombolas, indígenas e comunidades tradicionais”, elenca, ao argumentar que a intenção é abranger da melhor forma possível as características do território e construir um plano que seja de fácil engajamento.
Em fase de organização da oficina de elaboração, a mais importante da etapa de planejamento, quando são definidos os objetivos, as metas e as ações de conservação para as espécies alvo, o PAT Pampa Bagé deve ser desenvolvido ao longo de cinco anos, com avaliações bianuais. O cronograma pode ser renovado, ao final, mediante a reavaliação de eventuais ações necessárias para continuidade. Urruth explica que todo PAT tem um objetivo geral e contempla diversas estratégias para cada um de seus objetivos específicos, mencionando, como um exemplo hipotético de objetivo, a criação de protocolos de detecção precoce e resposta rápida para o controle de espécies exóticas invasoras.

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