ELLAS
A toxicidade de todos nós
Dilce Helena Alves Aguzzi
por Viviane Becker
Confesso andar um pouco enjoada do uso e abuso de algumas expressões que caem no gosto popular, virando regras e justificativa para tudo. É o caso do “tóxico”. Por certo, não nego a realidade do grau de toxicidade que, absolutamente, tudo pode tomar em nossa vida. Tudo o que é demais pode fazer mal e ser intoxicante, inclusive o uso excessivo de slogans sem reflexão.
Meu cansaço com esse termo vem dos conselhos de rede social, frases de efeito e “lives” sem profundidade, sugerindo a varredura para longe de pessoas tóxicas. Essa atitude seria a solução preguiçosa para aqueles que desconhecem que os problemas tem origem bem mais profunda que o simplório gesto de por a culpa no coleguinha ao lado. Ora, se isso fosse possível, banir os seres intoxicantes, nem com a nossa própria companhia ficaríamos! Sim, o uso demasiado leva a um equívoco, pois não são as coisas, pessoas ou situações que são veneno em si, mas, sim, o seu uso e abuso, nosso relacionamento com elas é que faz a diferença para o bem ou para o mal. Todos podem ser intoxicados e intoxicantes.
Toxico é falar demais; ignorar nossa parcela de responsabilidade; não cogitar estar enganado; não querer conhecer o ângulo de visão do outro; não mudar; egoísmo sem medida; vitimismo comodista; pouca reflexão; mesmice; justificativas; ganância; saber tudo; subestimar.
Detox é buscar respostas dentro de si; silêncio; reflexão; ponderar; originalidade; ouvir, escutar; simplicidade; conhecer a própria história; tentar compreender a trajetória de nossas origens, nossas escolhas; pensar e defrontar nossos próprios conceitos; conviver com a diferença, divergência sem demonizar.
“Todos podem ser intoxicados e intoxicantes”
Ilustração crédito: Shahin Khalaji