Esportes
Os 23 a 0 e a disparidade do futebol feminino
por Yuri Cougo Dias
Resultados com placares astronômicos ainda são frequentes no futebol feminino. O principal motivo é a disparidade de profissionalização. E nos elencos que sofrem disso, a questão não é nem falta de vontade, mas propriamente algo que ainda carece de investimentos. Por mais que tenha crescido nos últimos três anos, o futebol feminino ainda tem um longo caminho a percorrer.
Na tarde de domingo, em confronto válido pela segunda rodada do Gauchão de Futebol Feminino Adulto, o Internacional aplicou 23 a 0 sobre a Associação Esportiva João Emílio, de Candiota. Sem tirar o mérito das coloradas, que em nenhum momento abdicaram de atacar, o que pode ser interpretado até mesmo como um respeito pelo adversário. A questão é outra: a disparidade.
O campeonato é composto por seis equipes, divididas em dois grupos. Na chave A, estão Inter, João Emílio e Brasil de Farroupilha. Na chave B, Grêmio, Oriente e Estrela. Com duas rodadas realizadas, a dupla Gre-Nal protagonizou goleadas em cima das equipes do interior. Notadamente, o planejamento do futebol feminino traz reflexos diretos nos placares.
Ainda que seja bem abaixo do que envolve o naipe masculino, a dupla Gre-Nal consegue fornecer uma estrutura para que as atletas consigam, ao menos, dedicar seu dia para o esporte. Já no interior, as jogadoras precisam dividir o futebol com outras ocupações e, na maioria das vezes, até necessitam desembolsar dinheiro e captarem patrocinadores para sanarem seus custos.
Mesmo assim, há quem resista. É o caso da João Emílio, única equipe representante da Metade Sul do Rio Grande do Sul no Gauchão. Mas para que conseguisse jogar o estadual, foi necessária a parceria com outra equipe, a Pride Lendas, de Guaíba. Aliás, grande parte das atletas e da comissão técnica pertence ao time de Guaíba. Esta foi a alternativa que a equipe candiotense achou para honrar o compromisso firmado em congresso técnico e não interromper sua luta pelo fortalecimento do futebol feminino rio-grandense.
Mas, embora a goleada, a João Emílio tem nova chance para brigar por classificação. No dia 13, enfrenta o Brasil de Farroupilha, em confronto direto pela segunda posição. Para fins de explicação, os campeões de cada grupo fazem a final. E os vice-colocados se enfrentam na disputa do terceiro lugar, que garante uma vaga no Brasileirão Série A-2. Então, segue a vida; porém, tal reflexão era necessária ser feita, em vez da análise se apegar apenas no placar do jogo do último domingo.