ELLAS
O que te inspira?
Dilce Helena Alves Aguzzi
por Viviane Becker
Por mais que eu concorde com o ditado que sugere em nossas ações maior porcentagem de disciplina e muito pouco de inspiração, tenho que admitir, ela é uma pequena mas essencial porção de nossa motivação. Mais que isso, às vezes tudo o que precisamos é de uma gota de inspiração para seguir adiante, seguir tentando, trabalhando, crescendo, confiando, acreditando, apostando, perseverando...
Buscar inspiração é uma prática de saúde mental e cada ser humano tem aspectos sensíveis que ao serem ativados nos aproximam da natureza poética, sútil de nossa alma única e incomparável. O que leva alguém ao encantamento não é algo que possa ser usado como regra geral a aplicar-se a todos, é característica individual de autoconhecimento e autocuidado.
Os antigos gregos viam nesta prática enorme importância talvez por respeito às divindades as quais creditavam tal estado de puro potencial, plenitude e elevados níveis de gratificação, entretanto, é muito mais provável que seja por considerarem que a vida deveria ser vivida de forma memorável, não ordinária e isto exige inspiração diária.
Inspirada a pessoa cria, expressa, realiza, transforma e se transforma, dedica-se, envolve-se, sai do lugar comum, enfrenta, diferencia-se. A neurociência pode ter tirado um pouco da poesia do processo afirmando que não são as musas que nos inspiram e sim ações simples que nos retiram da repetição mecânica proporcionando tanto um “up” nos neurotransmissores do prazer e bem estar quanto um “flash” de retorno ao modo como víamos o mundo quando crianças. O ser humano inspirado percebe em qualquer coisa detalhes eclipsados pelo transe da vida moderna agitada, repetitiva e que atrai mais para o ter que para o ser. A inspiração é aquele estado onde o olhar é atraído não por algo em si, mas por outro jeito de olhar, com encanto e simplicidade, como se visse tudo pela primeira vez. E, afinal de contas, não é isso mesmo? A arrogância e previsibilidade adultas são muito monótonas e tomam-se por aquela voz interior que resmunga já saber de tudo, não haver novidade. Quando dizemos estas coisas podemos até ter razão, mas com certeza não estamos inspirados.
Busque a inspiração do dia a dia, da vida, do existir. Essa busca pode assumir práticas novas ou muito antigas, inovadoras ou supercomuns. Há quem se inspire tomando um bom chimarrão ao amanhecer ou assistindo o por do sol, aqueles que buscam inspiração na natureza, nas plantas, nos animais, nos filmes, na poesia, na ajuda ao outro, na solidão, no silêncio, na contemplação. Eu fico inspirada com histórias humanas, elas me comovem, me envolvem e me tiram do transe, elas me encontram em qualquer lugar, nos meus antepassados, no cotidiano, nos esportes, nos filmes e livros, no meu consultório, na conversa com minhas amigas e em família. E contigo como funciona, diz aí, o que te inspira de verdade?