MENU

Identifique-se!

Se já é assinante informe seus dados de acesso abaixo para usufruir de seu plano de assinatura. Utilize o link "Lembrar Senha" caso tenha esquecido sua senha de acesso. Lembrar sua senha
Área do Assinante | Jornal Minuano | O jornal que Bagé gosta de ler

Ainda não assina o
Minuano On-line?

Diversos planos que se encaixam nas suas necessidades e possibilidades.
Clique abaixo, conheça nossos planos e aproveite as vantagens de ler o Minuano em qualquer lugar que você esteja, na cidade, no campo, na praia ou no exterior.
CONHEÇA OS PLANOS

Cidade

Copa América disputada há 100 anos assinalou estreia de bajeense em seleção marcada pelo racismo

Em 12/06/2021 às 08:00h

por Redação JM

Copa América disputada há 100 anos assinalou estreia de bajeense em seleção marcada pelo racismo | Cidade | Jornal Minuano | O jornal que Bagé gosta de ler
Equipe que enfrentou o Paraguai, em 1921. Em pé: Alfredinho, Dino, Barata, Lais, Kuntz e Telefone. Agachados: Frederico, Zezé, Candiota, Machado e Orlando / Foto: CBF/Reprodu&am

Por Sidimar Rostan

 

Sem Friedenreich, herói do primeiro título continental conquistado pela Seleção Brasileira, uma equipe formada exclusivamente por atletas brancos embarcou para a Argentina, em setembro de 1921, com a missão de buscar a taça do Campeonato Sul-Americano de Futebol. Sob protestos de jornalistas, a escalação da equipe que representou o Brasil no certame, transformado mais tarde em Copa América, teria sido influenciada pelo presidente da República, Epitácio Pessoa. Estreando no selecionado nacional, o bajeense Aníbal Médici Candiota disputou as três partidas do Brasil na competição, marcando um dos gols na vitória sobre o Paraguai.

Candiota foi o primeiro bajeense a vestir a camisa da seleção. O jogador iniciou carreira em 1916, no Guarany, atuando, na sequência, pelo Cruzeiro de Porto Alegre, clube que deixou no início da década de 1920, para vestir a camisa do Flamengo. Foi campeão carioca em três temporadas, conquistando outros títulos no Rio de Janeiro, antes de retornar ao Guarany, onde encerraria sua carreira, no início da década de 1930, se dedicando à administração do Hotel do Brasil, herdado do pai, Sebastião Candiota - pioneiro, em Bagé, ao utilizar, em 1907, um automóvel para o transporte de hóspedes, conforme assinala Claudio Lemieszek, no livro O Automóvel em Bagé. Aníbal Candiota tinha como principal característica a precisão dos passes. Dizia-se, inclusive, que era capaz de entregar a bola no pé de quem queria e quando queria.

Com seis atletas do Flamengo (o goleiro Kuntz, Candiota, Telefone, Dino, Nonô e Orlando), três do Fluminense (Lais, Zezé e Machado) um do América (Barata, que era capitão da equipe) e um do Botafogo (Alfredinho), o Brasil estreou no dia 2 de outubro, com derrota para a Argentina por 1 a 0. No dia 12, venceu o Paraguai por 3 a 0, encerrando sua participação no dia 23, com derrota para o Uruguai por 2 a 1. Alegando problemas internos em sua confederação desportiva, o Chile, que havia disputado todas as edições anteriores do certame, desistiu da participação no campeonato realizado em Buenos Aires. O título ficaria com a Argentina. A Seleção Brasileira, última representação do país a entrar em campo sem atletas negros, alcançaria apenas o terceiro lugar.

Racismo em resposta ao racismo

Originalmente previsto para 1918, com sede no Rio de Janeiro, e transferido para o ano seguinte, em função da epidemia de gripe espanhola, o primeiro certame continental conquistado pela Seleção Brasileira passou pelos pés de um atleta negro. Arthur Friedenreich se tornou herói do Brasil ao marcar o gol do título diante do Uruguai. O resultado seria imortalizando por Pixinguinha, através do choro 'Um a zero'. Por desavenças entre as federações, atletas paulistas não foram convocados para o Campeonato Sul-Americano de Futebol disputado no Chile, em 1920. Derrotada, a Seleção Brasileira retornava da competição quando foi alvo de racismo na Argentina, em um episódio que mudou o rumo do esporte no país.

Em reação a uma charge publicada pelo jornal A Crítica, de Buenos Aires, que retratou os jogadores brasileiros como macacos, parte da delegação que voltava do Chile se negou a entrar em campo, na passagem pela Argentina, para a disputa de um amistoso. A partida foi improvisada com sete atletas de cada equipe. O caso repercutiu na organização do futebol brasileiro, função, à época, atribuída à Confederação Brasileira de Despostos (CBD), alcançando o Palácio do Catete, sede do governo.

O pedido para que atletas negros fossem excluídos da seleção que disputaria o Sul-Americano de 1921 teria partido do presidente Epitácio Pessoa, à CBD. Uma suposta reunião é mencionada em notícia publicada pelo Correio da Manhã, no dia 17 de setembro daquele ano. Na obra Memória Jurisprudencial - Ministro Epitácio Pessoa, publicada em 2009, Mauro Almeida Noleto observa que, por ordem do então presidente, ainda em 1920, 'ficou proibida a participação de jogadores negros no selecionado brasileiro de futebol'.

Naquela época, como reflete o jornalista uruguaio Eduardo Galeano, no livro Futebol ao Sol e à Sombra, escrito em 1995, 'era impossível ser negro no futebol brasileiro'. Galeano afirma que o presidente Epitácio Pessoa “baixou um decreto de brancura”, ordenando “que não se enviasse nenhum jogador de pele morena, por razões de prestígio pátrio”. Na prática, entretanto, nenhum decreto específico, tratando sobre a Seleção Brasileira, foi publicado pelo presidente.

Em clima de protestos

Jornalistas e dirigentes de federações estaduais não pouparam críticas à CBD. Em artigo publicado pelo jornal O Paiz, do Rio de Janeiro, em julho de 1921, o cronista esportivo Cesarino Cesar, ligado à federação metropolitana de futebol, entidade que atuava na então capital do Brasil, resumiu o descontentamento, que não era direcionado aos atletas convocados, mas à Confederação. “Os senhores absolutos do sport (sic), num golpe reprovável, anti-sportivo (sic), sem base, sem justificação, sem causa aceitável, excluem do quadro sportivo (sic) que deve representar o Brasil no estrangeiro os negros e mulatos (sic)", manifestou.

O jornalista e escritor Lima Barreto, autor de 'Triste Fim de Policarpo Quaresma', obra lançada em 1915, em que descreve a vida política no Brasil após a proclamação da República, também se posicionou através de colunas de opinião, publicadas no jornal Correio da Manhã. “O que me admira, é que os impostos, de cujo produto se tiram as gordas subvenções com que são aquinhoadas as sociedades futebolescas e seus tesoureiros infiéis, não tragam também a tisna, o estigma de origem, pois uma grande parte deles é paga pela gente de cor”, escreveu.

No artigo 'Lima Barreto, um intelectual negro na Avenida Central', publicado pela Revista Intellectus, em 2005, Celi Silva Gomes de Freitas conclui que, a partir da posição do escritor, é possível observar que “as elites intelectuais e políticas ocupavam-se igualmente das questões esportivas, na medida em que as mesmas adquiriam um significado político e, desse modo, participavam do processo de construção de uma certa identidade brasileira que excluía a população negra”. 

Galeria de Imagens
Leia também em Cidade
PLANTÃO 24 HORAS

(53) 9931-9914

jornal@minuano.urcamp.edu.br
SETOR COMERCIAL

(53) 3242.7693

jornal@minuano.urcamp.edu.br
CENTRAL DO ASSINANTE

(53) 3241.6377

jornal@minuano.urcamp.edu.br