ELLAS
O que é moda não incomoda?
Por Janine Pinto | Estilista
por Viviane Becker
Ginastas alemãs da equipe feminina decidiram usar uniformes que cobrem o corpo inteiro na Olimpíada de Tóquio, após serem elogiadas por vesti-los no passado em uma posição contra à sexualização do esporte que praticam. A equipe alemã usou macacões, uma combinação entre collants e leggings que se estende aos tornozelos. "Queremos mostrar que todas as mulheres, qualquer uma, devem decidir o que usar", disse Elisabeth Seitz, que compete pela terceira vez nos Jogos.
Nos últimos anos, o esporte tem sido abalado por casos generalizados de abusos sexuais e físicos, incluindo nos Estados Unidos, o que gerou reflexão e a introdução de novos protocolos de segurança para proteger atletas. Dessa vez, a troca do uniforme foi um posicionamento político, realizado durante o maior evento esportivo do mundo. A ação repercutiu e ganhou o apoio de outras atletas, inclusive das ginastas brasileiras Rebeca Andrade e Flávia Saraiva.
A discussão sobre a sexualização do esporte abrange, ainda, outras modalidades e vem sendo abordada por diferentes atletas. Recentemente, no Campeonato Europeu de Handebol de areia, a seleção norueguesa decidiu usar short em vez de biquíni. A decisão, no entanto, não foi bem vista e a seleção acabou multada.
Nos serve de debate: é pertinente ou não? O que é moda não incomoda? Consideramos que gestos pequenos como este, na verdade, somado a outros, é que vão processar mudanças no comportamento feminino, tão subjugado. A Olimpíada é um palco de grande visibilidade, portanto não foi um ato pequeno, e foi válido sim.
Nós aqui, como latinas, devíamos pensar mais e acho que serviu a carapuça sobre esta maneira de se vestir. A nossa cultura é machista e as próprias mulheres repetem estes estereótipos por gerações, onde o que importa são os atributos físicos mais que qualquer outra coisa. A brasileira abusa do culto à beleza e ao corpo, como se nada mais tivesse importância, se vestem de maneira a ressaltar sua forma física e, muitas vezes, extrapolam.
Devemos repensar este modelo, introjetar nas próximas gerações seus verdadeiros valores que vão muito além de um corpo bonito. Elegância não tem nada a ver com sexualização. Está na hora: estas valorosas atletas só nos deram um norte. E desculpem o trocadilho: "foi o pontapé inicial desta luta!"