Cidade
Professoras falam sobre realidade da educação de surdos em Bagé
por Redação JM
Por Bianca Vaz da Rosa
Acadêmica de Jornalismo da Urcamp
O Dia Nacional da Educação de Surdos é celebrado neste 23 de abril. A data tem o intuito de mostrar as conquistas e lutas da integração e educação de pessoas surdas. No Censo Escolar de 2016, foi registrado que o Brasil possuía, na Educação Básica, 21,9 mil estudantes surdos, 32 mil com deficiência auditiva e mais de 300 com surdocegueira.
Em Bagé, segundo a professora Mara Rúbia Pinheirua Rosa, coordenadora do Setor de Educação Inclusiva da Secretaria Municipal de Educação e Formação Profissional (Smed), o Atendimento Educacional Especializado (AEE) é ofertado em três momentos voltados para a aprendizagem dos alunos com surdez. Estes se constituem em AEE em Língua Brasileira de Sinais (Libras), para o ensino de Libras, e o AEE, para o Ensino de Língua Portuguesa.
A coordenadora destaca que a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Fundação Bidart é a instituição da Rede Municipal de Educação Polo para alunos com surdez desde 2018. No local, são atendidos sete alunos surdos, que estão entre o 1° e o 9° Ano, todos acompanhados por intérpretes da Smed. Além disso, são oferecidas oficinas em Libras para todos os alunos e funcionários.
Segundo Mara, o projeto veio através do anseio de familiares e de alunos surdos, e foi um processo democrático pois foram todos escutados, e que puderam sinalizar o que de fato eles almejavam para uma aprendizagem. “A principal reivindicação dos mesmos era que pudessem estar todos numa mesma escola, pois no formato anteriormente ofertado pela rede era o aluno com surdez numa determinada escola, que para eles não era positivo porque não havia trocas com outros estudantes com surdez”, afirma.
Atualmente, o AEE da Fundação Bidart conta com uma professora surda, uma intérprete com Proficiência em Libras e uma professora de Língua Portuguesa. “A escola faz toda a diferença na vida dos alunos pois lá há um movimento que emana o respeito às diferenças e destacamos o quanto os demais alunos ganham com a convivência diária”, afirma.
A coordenadora destaca o desejo da Smed em ampliar o ensino de Libras para toda a comunidade do município. Na pandemia, por exemplo, a Secretaria criou vídeo aulas transmitidas pela TV Câmara, que contaram com intérpretes da Educação Infantil até a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Professora de Libras desde 2010, Ana Paula Moreira conta que aprendeu a língua por volta de seus 2 anos e meio, que foi logo quando seus pais descobriram sua surdez. “Após isso, eles procuraram professores que ensinavam Libras na classe especial da rede pública. A professora me acompanhou na escola particular até meus 5 anos. Depois tive outra professora surda, que me acompanhou na escola e também em aulas particulares, até meus 14 anos”, revela.
Ana Paula leciona, atualmente, Libras na Urcamp e para os estudantes na Fundação Bidart. Ela explica que as pessoas têm procurado o curso de Libras em função da lei que obriga lugares públicos a ter alguém que saiba se comunicar com surdos. Apesar disso, conforme a professora, ainda há pouca oferta de cursos ou escolas para ensinar a língua. “Penso que devia ser obrigatório ter ensino de Libras desde o Ensino Fundamental. Somos mais de 10 milhões de pessoas com surdez no Brasil. Enfrentamos muita dificuldade de comunicação pela falta de acessibilidade”, enfatiza.
Adriana Martins da Silva é intérprete há 11 anos e hoje trabalha em escolas Estaduais como intérprete e como Professora de Libras. Ela destaca que se sente contente em estar fazendo o seu papel enquanto profissional intérprete de Libras para auxiliar alunos surdos em sua formação educacional. “Não só nos espaços educacionais como também em todos os espaços públicos, é direito da pessoa surda ter alguém que saiba no mínimo o básico da Língua de Sinais para que ela possa se comunicar e ter o devido atendimento em sua língua”, explica.
A intérprete ainda afirma que existem muitos desafios para os profissionais de Libras. Isso pois eles são o veículo e mediação da comunicação para essas pessoas com surdez, e precisam manter-se na conduta do código de ética profissional dos Tradutores e Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Tils) em um contexto educacional pedagógico e inclusivo diante das barreiras e alternativas enfrentadas no cotidiano do trabalho.