Campo e Negócios
Em Bagé, Dia da Lã apresenta gargalos e alternativas para a produção gaúcha
Evento trouxe especialistas para discutir o momento de mercado e soluções para o uso do produto em diversos setores
por Redação JM
Com auditório cheio na Associação Rural de Bagé, Dia da Lã, promovido pela Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), realizado nesta sexta-feira, 4 de agosto, debateu os gargalos relacionados à produção e mercado, além de discutir as alternativas para o produto. Uma série de palestras buscou trazer aos produtores participantes do evento quais são as tendências e as dificuldades, assim como as soluções para aumentar a competitividade do produto.
Em sua fala na abertura, o presidente da entidade, Edemundo Gressler, disse que vários acontecimentos ocorreram desde a primeira edição do evento e que culminaram nesta segunda etapa. “Nestes primeiros sete meses de 2023 fizemos acordar alguns atores como indústrias, produtores, universidades e pessoas para mudar essa situação da lã, buscando dentro do nosso sistema novas alternativas. Em função disso, dentro dessas novas alternativas, é que abrimos este evento”, salientou.
Na primeira palestra do dia, Alfredo Fros, presidente do Secretariado Uruguaio da Lã (SUL), fez um panorama geral do mercado mundial da lã e relatou a recente viagem oficial do governo uruguaio à China, na qual fez parte da comitiva. Explicou que todo o produto derivado de ovinos no Uruguai é de exportação. "No Uruguai a lã é 100% exportação e o consumo de carne é de dois quilos per capita. Se tirarmos o consumo nas fazendas ele será de 200 gramas", destacou. Sobre a missão ao país asiático, que era grande comprador do produto antes da pandemia da Covid-19, disse que houve uma mudança no país também de busca por vestimentas mais leves e por tecnologias, o que vem sendo tendência no mundo. "Ficamos com um estoque de lã de 40 milhões de quilos, produção de cerca de 23 milhões. Temos duas safras estocadas e teremos uma nova tosquia pela frente. Temos produtores que já estão com cinco safras estocadas", observou, acrescentando que as mudanças de costumes deverão trazer usos alternativos para o produto.
Na sequência, o coordenador do Programa de Certificação da Lã Gaúcha da Arco, Sérgio Muñoz, falou sobre os números e resultados da proposta, que já existe há dois anos. Explicou a metodologia, ressaltando que a comparsa estando apta, pode incluir o selo de certificação. "Uma vez cumprido o manual, recebe o selo", frisou. Muñoz revelou que no primeiro ano foram certificados 18 mil quilos de lã. "Sabíamos das dificuldades, mas precisávamos dar início ao programa", explanou. Em 2022 cresceu 96 mil quilos e espera chegar em 300 mil quilos neste ano. "Temos muito trabalho pela frente", ressaltou. "É importante que todos entendam o que é comprar uma lã certificada. Com certeza o produto final sairá com mais qualidade também", complementou.
Logo após, foi a vez dos representantes de empresas uruguaias apresentarem como vêem a lã brasileira que chega ao país, quais características e os aspectos a melhorar. Jose Luis Trifoglio e Djalma Puppo, da Estância Puppo, falaram sobre o ponto de vista do comprador. "As lãs são similares às uruguaias, com grande qualidade, em especial este produto gerado pela lã certificada gaúcha", afirmou Trifoglio. Entre os aspectos a melhorar para colaborar com a comercialização, apontaram o romaneio da tosquia, que deve chegar à barraca junto com o lote de lã. Além disso, ao calcular o percentual de velo sobre o total do lote, não se deve considerar a lã não certificada. "No romaneio, para nós, é importante saber porque a comparsa considerou a categoria", informou. Com simples manejos em tempos difíceis de mercado o produtor pode ter uma melhor remuneração pela sua lã", completou Puppo, se referindo ao programa.
Finalizando a manhã, os professores Ana Gabriela Saccol, do Laboratório da Lã da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e Stefani Macari, do Laboratório da Lã da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), apresentaram o que vem sendo feito na academia. Ana Gabriela explicou que fizeram um evento para discutir alternativas para a utilização da lã que não é bem aceita pelo mercado. "Fomos procurados pelos produtores para resolver um problema. E disso realizamos dois experimentos", contou. Foram desenvolvidos trabalhos para o município, inclusive com a participação de tecelãs em um laboratório de artesanato. "Fizemos um artesanato identitário para o município. Queremos ter a inovação para ter valor agregado ao produto, mas não só agregado, e sim compartilhado", destacou, acrescentando que também existem três projetos, um que é o Isoterme, utilizando a lã na construção civil, além de propostas de uso como adubos tanto na agricultura quanto na jardinagem e como blindagem em veículos. “O que estamos trazendo é uma conexão de pessoas”, ressaltou. Já Macari relatou o trabalho feito na UFPel, começando pela construção do laboratório na faculdade. “Temos projeto de levar essa lã para escolas do ensino fundamental. É importante levar pesquisas para a comunidade”, colocou.
O período da tarde no segundo Dia da Lã foi dedicado a uma mesa redonda com a participação do setor industrial, onde foram debatidos os pontos destacados pela manhã além de assuntos relacionados ao mercado. O Dia da Lã, organizado pela Arco, teve o apoio da Associação Rural de Bagé, Associação Bageense dos Criadores de Ovinos (Abaco) e Comissão de Ovinos da Farsul, além do patrocínio de Supra, Senar RS e Sebrae Agronegócio.