Região
Pampa perdeu 35% da vegetação nativa, aponta MapBiomas
por Jaqueline Muza
A extensão e rapidez das mudanças na cobertura e uso da terra são fatores que aumentam o risco climático no Brasil, conforme destacado no Seminário Anual de lançamento da Coleção 9 de Mapas Anuais de Cobertura e Uso da Terra do MapBiomas, realizado quarta-feira, em Brasília. Os dados mais recentes revelam que o bioma Pampa é o mais afetado, com 35% de sua área de vegetação nativa perdida.
De acordo com os novos dados, a perda histórica de áreas naturais no Brasil até 1985 representava 20% do território. Nos 39 anos seguintes (1985-2023), essa perda avançou para outros 13% do território (110 milhões de hectares), totalizando 33% em 2023. Esse aumento representa 33% de tudo que foi desmatado desde a colonização europeia até 2023. As áreas naturais incluem vegetação nativa, superfícies de água e áreas naturais não vegetadas, como praias e dunas, sendo que metade desse total (55 milhões de hectares) ocorreu na Amazônia.
A Coleção 9 não só atualiza as informações até 2023 para as 29 classes mapeadas, mas também apresenta um mapeamento inédito, em versão beta, de recifes de coral em águas rasas ao longo da costa brasileira. Outra novidade é o balanço de ganho e perda de vegetação nativa nos municípios a partir de 2008, ano em que foi instituído o Fundo Amazônia e editado o Decreto nº 6.514, que conferiu efetividade ao Código Florestal.
Em nível nacional, 18% dos municípios apresentaram estabilidade entre 2008 e 2023, onde o ganho e perda da vegetação foram menores que 2%. Em outros 37%, houve ganho de vegetação nativa, com destaque para a Mata Atlântica, onde 56% dos municípios registraram aumento na área de vegetação nativa. Contudo, quase metade dos municípios brasileiros (45%) perderam vegetação nativa no período. O Pampa se destaca negativamente, com 35% de seus municípios sofrendo perdas acentuadas de vegetação nativa, sendo o bioma mais afetado quando consideradas perdas superiores a 15%.
O coordenador geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, ressalta que a perda da vegetação nativa nos biomas brasileiros tende a impactar negativamente a dinâmica do clima regional e diminui o efeito protetor durante eventos climáticos extremos, aumentando assim os riscos climáticos. Contudo, ele também observa que quase um terço dos municípios brasileiros está recuperando áreas de vegetação nativa.
A Coleção 9 também relaciona, pela primeira vez, a vegetação nativa mapeada com os diferentes tipos de fitofisionomias reconhecidas no Mapa de Vegetação do Brasil, elaborado pelo IBGE. As fitofisionomias de Estepe no Pampa, Savana no Cerrado e Floresta Estacional Sempre-verde no sul da Amazônia foram as que mais perderam vegetação nativa proporcionalmente nos últimos 39 anos.
O Brasil ainda mantém 64,5% de seu território coberto por vegetação nativa, uma queda em relação aos 76% registrados em 1985. Nesse período, a área de pastagem expandiu 79% (72,5 milhões de hectares) e a de agricultura cresceu 228% (42,4 milhões de hectares). A agropecuária agora ocupa 47% do Cerrado, 45% do Pampa, 16% da Amazônia, 17% do Pantanal, 38% da Caatinga e 65% da Mata Atlântica.
{AD-READ-3}Entre 1985 e 2023, a agropecuária passou a predominar em 60% dos municípios brasileiros, comparado aos 48% em 1985. Proporcionalmente ao seu tamanho, Cerrado e Pampa são os biomas que mais perderam vegetação nativa. O Pampa, em particular, perdeu 28% de sua vegetação nativa entre 1985 e 2023, com um quarto da vegetação remanescente sendo secundária.
Os biomas Pampa, Caatinga e Mata Atlântica são os que possuem a maior proporção de vegetação secundária em 2023, com a Mata Atlântica apresentando 6,9 milhões de hectares (21%) de vegetação secundária.