Campo e Negócios
Ocupações do MST por reforma agrária geram tensão na região
Grupo que havia invadido duas fazendas acabou saindo de propriedades após negociação com a Brigada Militar
por Redação JM
Desde a manhã de terça-feira, 3 de dezembro, a ocupação de cerca de 170 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em duas fazendas no interior de Pedras Altas tem atraído a atenção para a Campanha gaúcha. A ação integra a mobilização nacional intitulada "Natal com Terra", cujo objetivo é pressionar o Governo Federal pela retomada dos processos de reforma agrária, paralisados há mais de uma década. Paralelamente, grupos de quatro acampamentos realizaram uma vigília na sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Porto Alegre, sem previsão de término.
De acordo com o coordenador da ocupação em Pedras Altas, Ildo Pereira, as áreas em questão já teriam passado por vistorias e fiscalizações do Incra, incluindo a Fazenda Santa Angélica, um dos focos do movimento. “Estamos pressionando o Governo Federal para que essas áreas sejam destinadas à reforma agrária. Essa é uma demanda urgente para as famílias que aguardam assentamento há anos”, afirmou.
As famílias envolvidas nas ocupações são oriundas do Acampamento Sebastião Sales, de Hulha Negra. Já a vigília no Incra, que reuniu 250 famílias, conta com participantes dos acampamentos Herdeiros da Luta (Tupanciretã), Sepé Tiaraju (Encruzilhada do Sul) e 8 de Março (Charqueadas). Algumas dessas famílias enfrentam mais de uma década de espera por regularização fundiária.
Movimentações geram resposta de produtores
Apesar da pressão, ainda na terça-feira, de acordo com a Brigada Militar, as famílias que ocuparam as fazendas de Pedras Altas saíram pacificamente do local após convite das autoridades. Porém, um grupo ficou em via pública, em frente às propriedades, sendo monitorado pelo 5º Batalhão de Choque de Pelotas.
Os produtores rurais estão acompanhando a ocupação e, segundo o integrante da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antenor Teixeira, foi pedida a reintegração de posse, o que de imediato foi concedido. “Nós, principalmente a Farsul e o Sindicato Rural de Pedras Altas, na figura do presidente Carlos Hofmeister, nossa primeira bandeira é o direito de propriedade. E o Estado se fez respeitar, tendo realizado a reintegração de posse das duas fazendas. A Brigada Militar está de parabéns, foi muito rápido”, relatou.
Agora, segundo Teixeira, a manutenção do grupo em frente às propriedades ainda causa um transtorno. "E uma insegurança também, inclusive para os dois lados, para eles que estão ali, estão mal colocados e com crianças", frisou ao cobrar uma definição por parte do Incra. "São quatro assentamentos ali na região e um é lindeiro dessas duas propriedades até o Incra decidir se vai comprar ou não essas propriedades. Uma delas não está à venda, em hipótese nenhuma. O Incra ficou de adquirir áreas e tem várias oferecidas, então, que adquira áreas e que assente as pessoas, se for o caso. Mas ali cria um transtorno muito grande e uma insegurança muito grande”, argumentou.
O vice-presidente da Farsul e presidente da Comissão Fundiária da entidade Paulo Ricardo de Souza Dias, juntamente com o presidente do Sindicato Rural de Pedras Altas Carlos Hofmeister convocam todos os produtores rurais da região de Pedras Altas para uma Assembleia Geral, que ocorrerá nesta quinta-feira, 5 de dezembro, na sede da Estância Santa Angélica. O encontro tratará especificamente das invasões à Santa Angélica e à Estância Nova. “É fundamental que mostremos união e força para defender o direito à propriedade privada. Precisamos cobrar das autoridades públicas a retirada definitiva dos invasores", declarou.
A logística da assembleia foi organizada para facilitar a participação de todos. A reunião principal terá início às 14h, mas produtores das proximidades estão convidados a chegar a partir da manhã para fortalecer o movimento. “Pedimos que tragam cadeiras, água e alimentação, como fazíamos nas barreiras antigamente, e permaneçam conosco durante o dia", orientou o presidente. Durante a assembleia, serão discutidas as ações necessárias diante da situação, incluindo medidas legais e estratégias junto às autoridades estaduais e policiais. “Precisamos da colaboração de todos: com ideias, sugestões e, principalmente, com presença. Este é um momento de união e resistência," reforçou Paulo Ricardo.
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