Saúde
Casa de Acolhimento para Gestantes, no HU, amplia cuidados e combate mortalidade infantil
Espaço tem como meta melhorar índices apostando em captação ativa, assistência clínica e suporte social às grávidas
por Melissa Louçan
Uma iniciativa que une saúde e acolhimento vem transformando a realidade de gestantes em situações de extrema vulnerabilidade em Bagé. A Casa de Acolhimento para Gestantes Vulneráveis, criada há seis meses por meio de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde e o Hospital Universitário da Urcamp, já realizou cerca de 70 internações. O projeto tem como objetivo reduzir os índices de mortalidade infantil, apostando em captação ativa, assistência clínica e suporte social às grávidas.
A ideia nasceu de uma preocupação alarmante. Estudos realizados pelo Comitê de Mortalidade Infantil apontaram que os óbitos estavam mais associados a condições sociais críticas do que a complicações obstétricas tradicionais. “A gente esperava que nossos piores índices estivessem no serviço de alto risco técnico, mas as mortalidades estavam nas pacientes que nem chegavam ao serviço”, explica a médica obstetra Júlia Xavier Castilho, uma das coordenadoras do projeto, ao lado da médica Mariana Oxandabaratz Alfaro.
Para alcançar as gestantes em maior risco, o projeto aposta na busca ativa. A equipe intensificou a comunicação entre as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) — principalmente junto ao centro de referência (Camilo Gomes) — e o hospital, identificando semanalmente, junto às enfermeiras da rede, mulheres que precisam de apoio. “Precisamos literalmente ir buscar essas pacientes pelas mãos para garantir o atendimento”, destaca.
Casos mais graves, como os de adolescentes ou mulheres em situação de dependência química, são tratados em parceria com o Conselho Tutelar e o Ministério Público. Quando necessário, são realizadas internações compulsórias para proteger a vida da gestante e do bebê.
A Casa está localizada em um quarto do Hospital Universitário e conta com quatro leitos e um banheiro privativo, além de fornecer alimentação completa, com acompanhamento nutricional. Além disso, oferece assistência clínica para condições específicas, como diabetes gestacional ou infecção urinária, capacitando as pacientes para a continuidade do cuidado em casa.
“A gente tem internado pacientes que nunca usaram insulina, por exemplo. Treinamos essas mulheres para que saibam como aplicar a medicação e controlamos a glicemia até que elas se sintam seguras para o cuidado em casa”, explica Julia.
Outro ponto forte do projeto é a rapidez nos diagnósticos. Gestantes que chegam sem exames realizados conseguem realizar testes laboratoriais e ecografias em até 48 horas. “Usamos a Casa para acelerar processos que, no modelo ambulatorial, seriam demorados”, acrescenta Mariana.
O projeto já acumula histórias de sucesso. Uma delas é a de uma adolescente de 12 anos que teve um parto seguro, entregando um bebê saudável de 3 quilos. Outra envolve uma mulher em situação de dependência química, que, após internação voluntária, conseguiu manter a gravidez até o nascimento do filho em boas condições.
Contudo, é válido destacar que tanto a Casa quanto o Hospital Universitário não realizam o parto — apenas o acompanhamento das gestantes. No momento do parto, o atendimento é realizado na Santa Casa de Caridade de Bagé, que possui toda a infraestrutura necessária.
{AD-READ-3}A Casa também funciona como espaço de formação para alunos de cursos como Psicologia, Nutrição e Enfermagem da Urcamp. Eles participam de avaliações e ações educativas, complementando a assistência às gestantes enquanto desenvolvem competências profissionais.
Com a aceitação e a grande demanda para atendimento, a médica explica que o projeto tem potencial para ampliar o atendimento a cidades vizinhas, mas depende de parcerias e maior divulgação. “Se tivermos incentivo e apoio, o projeto pode crescer e atender mais municípios da região”, conclui.