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Dom Gílio: da periferia de Santa Cruz à história do Estado

Publicada em 03/03/2018
Dom Gílio: da periferia de Santa Cruz à história do Estado | Cidade | Jornal Minuano | O jornal que Bagé gosta de ler
Primeiro bispo negro do estado celebra 15 anos à frente da Diocese de Bagé

A origem do Bispo Dom Gílio Felício não poderia ser mais contraditória à sua personalidade. Sempre sorridente e carismático, é natural de Sério, município emancipado de Lajeado, no Vale do Taquari. E foi nessa região de colonização italiana e alemã que, ainda menino, deu os primeiros passos para se tornar o primeiro bispo negro do Rio Grande do Sul. Neste mês, aliás, ele celebra 15 anos frente à Diocese de Bagé.

E para contar sua história, ele recebeu a reportagem do Jornal MINUANO, na manhã desta sexta- feira, e relembrou a década e meia de serviços prestados frente à diocese, que hoje abrange 12 municípios e 16 paróquias. Sempre simpático e pronto à conversa, recordou de sua infância e da trajetória na vida católica.

Da periferia para o seminário

Aos 68 anos, o mais velho dos seis filhos engraxava sapatos e entregava jornais ainda criança, para ajudar na renda familiar. Mas mesmo entre essas atividades, já sabia o que o atraia: a vida dedicada a Deus e à evangelização. Claro que com pouca idade, ainda não projetava um futuro na vida religiosa.

De família católica, seus primeiros contatos mais próximos com o catolicismo ocorreram quando mudou com a família para a periferia de Santa Cruz do Sul. A casa ficava em frente à igreja do bairro e o jovem Gílio fez amizade com os coroinhas e com eles passava as tardes jogando futebol e bola de gude. Ele conta que foi justamente o resultado de um jogo de futebol que o despertou para o interesse no seminário. Durante uma partida, um dos pequenos jogadores marcou falta em um jogador do time adversário. Com os ânimos exaltados, o “lesionado” partiu para cima do causador da discórdia. Gílio e os amigos conseguiram separar os dois, mas o estrago estava feito: do campinho de futebol, a briga se tornou uma rixa entre as duas famílias.

O fato gerou grande comoção no bairro e perdurou por mais de seis meses, até mesmo com ameaças de morte. Mas foi o desfecho dessa história que o bispo relembra com carinho. “Naquela época, os padres visitavam as casas da comunidade e para as famílias era uma alegria imensa. E foi nessas visitas que ele conseguiu que as famílias deixassem de lado a discórdia e reatassem a amizade, até mais forte do que antes. Nunca esqueci daquilo, achei fantástico que uma pessoa tenha conseguido acabar com uma briga tão grande. E foi aí que comecei a pensar que era isso que eu queria fazer”, conta.

“Nunca vi padre preto”

Foi então que o jovem Gílio resolveu dividir com a mãe o desejo de ter uma vida religiosa. E foi surpreendido pela resposta: “Eu nunca vi padre preto, acho que não é possível. Mas vai lá na igreja para saber melhor”. Ante à resposta positiva do padre que o atendeu, que a vocação espiritual não escolhia cor ou cultura, decidiu investir em um futuro no seminário.

Mas a chegada no seminário exigiu paciência e jogo de cintura. Em uma região de colonização italiana e germânica, ele destacava-se como o único negro no seminário. Mas afirma que isso nunca foi problema. “Claro que no início a adaptação foi difícil. A cultura era diferente e até a língua era diferente, muitos ainda tinham dificuldade com o português, usavam muito dialeto. Mas aos poucos isso ficou mais tranquilo”, relembra.

A proximidade com outras culturas e idiomas também facilitou o trabalho do então padre Gílio. Encaminhado para atender a paróquia de Passo do Sobrado, onde também predomina a colonização alemã, derrubou por terra qualquer possível desconfiança dos moradores ao rezar uma missa inteiramente em alemão. “Foi apoteótico. Vi homens fortes chorando como crianças. Eles são muito fervorosos. Não acreditavam que um negro estava rezando uma missa inteira na língua deles”, relembra ele, rindo. A aproximação com o povo foi tamanha que ainda hoje tem fortes ligações com as famílias de lá, garante.

Do limão, uma limonada

Questionado se em algum ponto de sua trajetória sofreu discriminação, declarou: “Preconceito existe, a gente sabe e vê todos os dias. Mas a minha mãe me preparou para isso, me alertou que as coisas só seriam significativas dependendo de como eu olhasse. Claro que algumas situações machucam, mas ao invés de sentir o coice do preconceito, aproveitava esses momentos e os transformava em um processo de melhoramento. Eu fazia do limão, uma limonada”, destaca.

Recebido de braços abertos

Dom Gílio foi ordenado Bispo em dezembro de 2002 e assumiu o cargo em março de 2003, com a saída de Dom Laurindo Guizzardi. Foi o quarto bispo da Diocese de Bagé, já que, antes de 1960, a Rainha da Fronteira pertencia à diocese de Pelotas. Sua chegada à cidade foi marcada por uma grande mobilização estadual, pois foi o primeiro bispo negro do Rio Grande do Sul e o quarto do País.

A cerimônia contou até mesmo com a presença do Bispo Primaz do Brasil, Dom Geraldo Majella, tal a significância da celebração para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O Movimento Afro da Bahia, onde ele atuou antes de vir para Bagé, também participou da celebração.

E a acolhida calorosa dos bajeenses marcou Dom Gílio, que ainda hoje recorda com a alegria. “Aqui em Bagé, me sinto em casa. Pode até ser que aqui não tenha tradição da vivência comunitária, mas a religiosidade é enorme”, aponta.

Celebração de ação de graças

Para homenagear o religioso, uma missa de ação de graças será realizada na terça-feira, dia 6 de março, a partir das 18h, na Catedral de São Sebastião. “Gosto de celebrar a vida. É muito bom esse reconhecimento. Mas também gosto muito de celebrar a Deus. Não fiz nada para Deus me dar o tanto que tenho na vida”, comemora.

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