Segurança
Delegado Luis Eduardo Benites avalia atuação após publicação de aposentadoria
'A prática e a elucidação dos casos que fizeram com que eu me encantasse pela Polícia", disse ao JM
por Rochele Barbosa
Após 32 anos à frente da Polícia Judiciária, o delegado Luis Eduardo Benites conquistou a aposentadoria, oficialmente, na semana passada e, agora, visa novos projetos. Formado em 1990 em Direito, pela Urcamp, ingressou na Polícia Civil após ser aprovado em um concurso em 1992. “Não era o meu projeto, estava estudando a magistratura, queria ir para o Judiciário”, relembra.
Ao JM, ele conta que a família que o incentivou a ingressar na carreira policial, que começou na Delegacia de Polícia de Cacequi, quando atuava também em Rosário do Sul. “Na época, eu respondia pelas duas DPs, pois o titular era afastado e fiquei muito tempo nas duas. Depois fui lotado em Rosário do Sul e, após dois anos, assumi a Delegacia de São Gabriel, onde fiquei de 1994 até 1998”, completou.
Após, o delegado ficou um ano em Bagé, no 3º Distrito. “Fiquei até 1999 e fui convidado para trabalhar na assessoria especial do Departamento de Polícia do Interior (DPI). Eu, ali, fazia assistência jurídica, um trabalho mais burocrático. Depois passei a ser Diretor de Divisão e assumi a direção do DPI - fiquei ali até 2001, substitui e assumi outros departamentos também e resolvi voltar para a região”, completou.
Quando retornou à Campanha, Benites foi lotado em Dom Pedrito e responsável pela Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) e depois foi lotado na Defrec (atual Draco). “Então fui nomeado titular da Segunda Delegacia de Polícia de Bagé, onde fiquei até 2017, quando assumi a Delegacia Regional”, detalha.
Casos
O delegado aposentado destaca que o que sempre gostou foi elucidar os casos. O primeiro que ele recorda de homicídios díficeis foi o caso do Delegado Regional do Trabalho, Jefrei Maurente. “Foi muito complicado, desgastante, pois havia uma pressão familiar, da opinião pública e até da imprensa. O autor era um Policial Civil, tinhamos informações para investigar um colega. Era terrível. Ficamos 30 dias na investigação - a gente saia de Bagé e ia para Porto Alegre diversas vezes, quando terminamos, eu cheguei a passar mal, quase desmaiei de tão cansado e estressado. Foi um caso que ficou marcado na minha vida”, relatou.
Outra investigação foi de três agiotas que foram presos, complementou o delegado. “Quando cheguei, fiquei sabendo que grande parte da população pegava dinheiro com eles. O que aconteceu? Chegou um momento que uma pessoa chegou lá e retirou um grande valor em dinheiro e tirou o fluxo de capital deles, então algumas pessoas foram lá buscar o recurso e não tinham. Então registraram ocorrência e começamos o inquérito e a investigação. Inicialmente, o caso era de agiotagem, só que no decorrer do processo aplicamos a lei do sistema financeiro, pela primeira vez no Estado do Rio Grande do Sul, e tivemos que mandar para a justiça federal. Eu pedi a prisão preventiva e o MP federal decretou e nós prendemos”, recorda.
Na segunda DP, o delegado conta que encarou uma onda significativa de homicídios. “O homicídio da menina Mirella, pela mãe, em 2015, por asfixia é um exemplo. O que contribuiu muito na elucidação foi que eu havia feito um curso em Gramado, com o FBI, que ensinava técnicas de interrogatório e investigação, o que me ajudou muito. No dia que ela foi ouvida, tudo foi respeitado, nas garantias da pessoa, filmamos, tinha advogada presente e fizemos tudo completo. Foi a única vez que ela confessou, para não haver nenhuma dúvida e então contribuiu na formação da prova e contou como havia feito. No judiciário ela permaneceu em silêncio durante todas oitivas”, relatou.
Estrutura
Benites ainda frisa que há muitos desafios na Polícia, em especial falta de pessoal e estrutura. “Quando chegamos tinhamos uma forte pressão em casos de abigeato. Estruturamos e com a força-tarefa conseguimos ter aqui a primeira Delegacia de Polícia Especializada na Repressão aos Crimes Rurais e Abigeato (Decrab). Também estruturamos diversos cartórios como o de Crimes Ambientais, Cartório da Criança e Adolescente Vítima de Violência Sexual, Cartório do Idoso e Cartório de Atos Infrancionais”, exemplifica.
Concluindo, o delegado aposentado destaca que é importante a tecnologia, mas que nada substitui o agente policial. “Melhorou o nosso trabalho com a tecnologia, mas ela não substitui os policiais e nem a investigação pessoal. Por mais que evolua, as pessoas são fundamentais para a elucidação dos crimes. Sem agentes e delegados qualificados e comprometidos com a Segurança Pública não terá solução para as questões de maior demanda da sociedade”, finaliza Benites.