ELLAS
Não se trata de loucura ou de burrice, e sim de divergência
por Dilce Helena Alves Aguzzi
por Viviane Becker
Dilce Helena Alvez Aguzzi
Quanta resistência em absorver ou aceitar a diferença de escolhas, opiniões, decisões e atitudes temos visto nos últimos tempos! As pessoas sempre gostaram de emitir julgamentos e opiniões, entretanto, a variedade de meios de expressão cresceu muito, todo mundo tem um enorme espaço para demonstrar seus pensamentos, sejam fruto de grande, médio ou pouco aprofundamento e isso tem gerado divergências e atritos.
Está posto e bem nítido para que todos vejam o fenômeno de demonização do que é diferente, tão claro que me remete à Idade Média. Uma verdadeira obsessão por desprezar, ridicularizar e depreciar moral e intelectualmente quem não concorda, ou mostra postura divergente.
O irônico disso tudo é que, muitas vezes, tal atitude surge em nome da luta contra preconceitos, ou em favor de inclusão e uma sociedade mais igualitária. Incrível como podemos ser contraditórios. A postura de tornar menos o que apenas é contrário pode ser observada em opiniões coroadas com a frase “não merece meu respeito” que se lê e ouve com bastante frequência. É dispositivo defensivo que denuncia imaturidade ou pouco autoconhecimento, pois quando não nos reconhecemos projetamos em algumas pessoas tudo de feio que possuímos, mas que ainda não temos condições de admitir e elaborar. Sendo assim, nada ruim ou desprezível existiria em mim, só nos meus oponentes. Dividindo o mundo em duas porções, eles os maus e nós os bons, igualzinho aqueles filmes bobinhos de bang bang de antigamente, maniqueísmo puro, os bons contra os maus... É no mínimo simplório.
Ora, respeito não é prêmio que eu possa oferecer como recompensa a quem eu (limitadamente) julgue merecer por ter uma visão identificada com a minha. Respeito é obrigação de todos para com todos, respeito é essencial e um conceito que pode ser mais desenvolvido, discutido e incansavelmente perseguido.
É muito fácil travestir de respeito o que na verdade é condescendência disfarçada de proteção em relação a quem se julga minoria inferior por algum aspecto qualquer. Difícil mesmo é respeitar quem irrita, nos contraria em ousar existir em negação a tudo o que admiramos.
Difícil é continuar respeitando quem tem posicionamentos diametralmente opostos aos nossos, quem faz escolhas que desaprovamos ou quem toma atitudes e decisões as quais não conseguimos ter empatia ou a mínima compreensão, o que é reação muito humana, pois a empatia é um estado ideal a se perseguir. Empatia plena e total é impossível, assim como a luta contra o preconceito jamais termina, quando derrubamos um, percebemos que existe outro a ser combatido.
Sejamos mais corajosos que Narciso, que conforme Caetano acha feio o que não é espelho, honrando quem é diferente com nosso debate mais caprichado ou nosso mais estrondoso silêncio. Essas duas formas elevam o nível do respeito e da convivência das forças opostas que coabitam qualquer ambiente e que devem levar a evolução por sua interação incessante e nunca a destruição mútua. Esse é o imperativo do homo sapiens.