ELLAS
Novas maneiras, novo Natal
Dilce Helena Alves Aguzzi
por Viviane Becker
Será possível fazer um Natal diferente? Conseguiremos comemorar o final do ano e início do próximo de forma diversa do que sempre fazemos? Estas perguntas levam, talvez, à constatação que somos mais conservadores do que imaginamos ou gostaríamos de admitir. Sair um pouco da zona de conforto tem se mostrado desafiador, transformar um pouco o jeito como sempre tudo foi feito parece errado, algo não está normal. Normal, esta é a palavra que merece alguns minutos de atenção. O que é normalidade dependeu sempre de algumas coordenadas para se sustentar - como, onde, quando, em que contexto e de tempos em tempos este conceito se transforma, felizmente e para o bem da evolução isso sempre acontece. Normalidade nos últimos 12 meses para todo o planeta terra ganhou novas conotações e perspectivas.
Será tão difícil assim mudar a rotina? Será que é tão indispensável manter alguns hábitos acima do bem estar, senão de todos, pelo menos daqueles os quais gostamos de dizer que amamos?
Será tão difícil lavar as mãos, aprender a usar a máscara sempre e corretamente?
É impossível desenvolver novos hábitos, ainda que temporários, de lazer, de passatempo, de trabalho, de consumo?
É provável que nossa falta de imaginação persista em não buscar novos caminhos para demonstrar amor, amizade, carinho, saudade, pressa, tédio, necessidade de consumir, vontade de ver e ser visto, desejo de pertencimento?
Conseguiremos desenvolver novas maneiras de vivenciar os festejos tradicionais da vida e demais situações cotidianas que por motivo alheio a nossa vontade acontecem mesmo durante o curso dessa pandemia?
Estas e muitas outras questões povoam as mentes durante meses de recolhimento e incertezas, busca por informação que preservem a saúde e a vida. Surgem percepções sobre o quanto podemos ser egoístas e apegados a valores e a hábitos, por agora, insignificantes. Triste constatação que a saúde de outra pessoa venha definhar pela dificuldade que temos em adotar novos padrões, mesmo que temporários e desconfortáveis, de comportamento.
Evito generalizações, contorno o mais gentilmente que posso as patrulhas da vida alheia, e mais ainda os ativismos de rede social. Entretanto, falar sobre a importância de encarar a pandemia com posturas novas me pareceu imperativo. Nem tudo é para nosso conforto; muitas vezes é apenas o possível para manter a sobrevivência e o melhor para a coletividade. Estamos todos aprendendo a ética da pandemia, afinal quem nunca menosprezou a gravidade, superestimou a potência da ciência ou minimizou as escolhas individuais?
Cartão de Natal, simbolismo, sentido, sentimento, acolhida, decoração, emoção, significado, legado, ensinamentos, magia, mitologia quase tudo pode ser mantido, porém vivenciado de uma forma diferente, com o auxílio da criatividade ou da tecnologia talvez até mais pessoas sejam incluídas em nosso universo afetivo.
Em 2020 pode ser um presente valioso abraçar sem tocar, demonstrar apreço à distância. É hora para o amor não egoísta, aquele que se conforta somente em saber que o outro está bem!