MENU

Identifique-se!

Se já é assinante informe seus dados de acesso abaixo para usufruir de seu plano de assinatura. Utilize o link "Lembrar Senha" caso tenha esquecido sua senha de acesso. Lembrar sua senha
Área do Assinante | Jornal Minuano | O jornal que Bagé gosta de ler

Ainda não assina o
Minuano On-line?

Diversos planos que se encaixam nas suas necessidades e possibilidades.
Clique abaixo, conheça nossos planos e aproveite as vantagens de ler o Minuano em qualquer lugar que você esteja, na cidade, no campo, na praia ou no exterior.
CONHEÇA OS PLANOS

Cidade

Transgêneros no mercado de trabalho: uma luta que vem conquistando espaço

Em 21/02/2021 às 12:45h
Melissa Louçan

por Melissa Louçan

Transgêneros no mercado de trabalho: uma luta que vem conquistando espaço | Cidade | Jornal Minuano | O jornal que Bagé gosta de ler
Pedro relata acolhimento de empresa durante transição | Foto: Divulgação

Janeiro foi o Mês da Visibilidade Trans, marcado pelo dia 29 de janeiro, marco na luta pelos direitos civis da comunidade LGBTQIA+ no Brasil, mais especificamente de pessoas trans e travestis. Mais ainda pouco se tem a comemorar em relação às conquistas desses grupos, em um país que carrega um dos maiores índices de morte violenta de pessoas trans no mundo.

Mas além dos altos índices de violência contra esta população, outro grande desafio enfrentado é o mercado de trabalho. A transfobia limita as opções e causa um efeito de marginalização das pessoas trans, que, muitas vezes, acabam recorrendo à prostituição como única opção de sustento. Uma estimativa feita pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), com base em dados colhidos nas diversas regionais da entidade, aponta que 90% das pessoas trans recorrem a essa profissão ao menos em algum momento da vida.

Apesar de ter reflexos mais profundos na hora de procurar uma vaga, a transfobia inicia o processo de minar as chances de pessoas trans ainda mais cedo. Segundo dados da Antra, há um grande percentual de evasão escolar a partir dos 13 anos. Dados de 2018 mostram que apenas 0,02% da população trans tem acesso ao Ensino Superior, enquanto 72% não completa o Ensino Médio e 56% não tem o Ensino Fundamental completo.

Já quem consegue uma colocação no mercado de trabalho, carente de legislação que garanta espaço, ficam à mercê de iniciativas das empresas com programas de acolhimento ou em subempregos ou relegados a atividades de nicho, como no ramo da beleza.

Inclusive, o site Transempregos foi criado, em 2013 – tendo entre seus cofundadores a cartunista Laerte Coutinho – justamente para facilitar o acesso de pessoas trans a vagas de trabalho em todos os estados do Brasil. As empresas de todo país que contratam transexuais podem anunciar, gratuitamente, a vaga no mural do site.

Respeito e acolhimento no ambiente de trabalho

Um exemplo de acolhimento na empresa aconteceu com Pedro Rodrigues de Rodrigues, 23 anos. Há três anos ele trabalha no comércio da cidade, tendo se assumido trans cerca de 10 meses após iniciar as atividades na empresa.

Com receio da forma com que a notícia seria recebida pela chefia e colegas, demorou a se decidir sobre contar ou não, mas enfim chamou a gerente da loja para conversar. “Tinha medo de bater de frente, de não haver aceitação, mas tive uma surpresa muito grande”, recorda.

A gerente não apenas entendeu e respeitou a decisão de Rodrigues, como se colocou à disposição para auxiliar no que fosse preciso, com dispensas em caso de necessidade de exames para dar início ao processo de transição, além de facilitar a troca para a documentação atualizada do funcionário, quando fosse preciso. “Achei que não seria fácil, pelo fato do dono ser de mais idade e eu ser o único LGBT da equipe. Mas foi esplendido o acolhimento que eu tive. A parte mais fácil foi essa. Com a  troca de documentação, começaram a respeitar o meu gênero e o meu nome”, recorda.

Assim como a loja em que Pedro atua, algumas outras da cidade, como uma rede de supermercados, abrem as portas para a população trans de Bagé, oferecendo o emprego, humanização e dignidade. Um funcionário da rede, que preferiu não se identificar, conta que, durante o início do processo de transição, recebeu todo o apoio e acolhimento da empresa, principalmente do departamento de Recursos Humanos.

Ele recorda que a diretora do departamento o auxiliou sobre a transição, colocando-o em contato com outros colaboradores da empresa que haviam passado pelo mesmo processo anteriormente, solicitou a troca do nome no crachá do colaborador antes mesmo que ele desse início ao processo de troca nos cartórios, além de acompanhar o processo, prezando pelo respeito no ambiente de trabalho. “Fui questionado se houve algum tipo de preconceito vindo dos colegas, porque eles são muito rígidos a esse respeito. Já na seleção da vaga é informado que a rede preza pela diversidade e que não há tolerância com preconceito”, comenta.

Coordenadora aponta necessidade de sensibilização

Coordenadora Municipal de Políticas para as Mulheres, Diversidade e Idoso, Cândida Navarro aponta que a colocação de pessoas trans no mercado de trabalho é crucial na hora de elaborar políticas públicas que atendam a população. Ela conta que em um levantamento realizado em 2020, para saber as necessidades da comunidade trans, a questão do mercado de trabalho foi pontuada por não ter políticas públicas específicas.

Os dados também mostraram que 30% das pessoas trans mais jovens estão trabalhando em Bagé, ainda que não seja no segmento que desejam, muitas delas omitindo sua transexualidade para garantir a continuidade na vaga.

Com isso em mente, ela conta que a Coordenadoria projeta iniciar, entre março e abril deste ano, um projeto voltado à essa população, com temáticas como geração de renda, empreendedorismo e qualificação profissional. Por outro lado, as empresas também devem participar do projeto através de debates e reflexões junto aos empresários, buscando uma sensibilização com a temática. “A sociedade, como um todo, precisa ter compreensão maior do processo relacionado a pessoas trans, não apenas para garantir vagas de trabalho, mas para que sejam respeitados e que o ambiente de trabalho seja um facilitador no processo”, aponta.

A coordenadora aponta, ainda, a necessidade de posicionamento das empresas que já contratam e acolhem profissionais transexuais, para incentivar e motivas outras empresas a fazerem o mesmo. “Para que outros empregadores deem esta oportunidade, é preciso que seja mostrada a satisfação com o trabalho desempenhado por pessoas trans. As empresas precisam mostrar o quanto são eficientes, capazes de produzir, de trazer bons resultados”, comenta.

A própria empresa pode mudar seu posicionamento de marca apoiando a casa e, assim, apresentar um olhar mais acolhedor e humano. “As empresas que têm gerenciamento mais moderno vão perceber que a questão da diversidade e inclusão está sendo observada e que é muito valorizada. Aqueles que conseguem trabalhar essa questão em sua empresa com certeza terão reputação melhor ainda por ter esse olhar mais sensível”, aponta.

Ambulatório de portas abertas

Uma antiga demanda da comunidade trans da cidade, o ambulatório para atendimento clínico da população trans saiu do papel em outubro de 2020. E mesmo ainda funcionando apenas um dia na semana – nas segundas, das 8h30min às 12h – o serviço conta com uma média de 55 atendimentos mensais.

Também responsável pelo serviço, Cândida Navarro explica que a busca pelo ambulatório iniciou em 2018, durante um processo de levantamento das reais demandas da população trans na cidade, ouvindo diretamente o público-alvo. “Percebemos o quanto as pessoas  trans têm dificuldades em relação à sua saúde, porque querem fazer a mudança do corpo e não conseguem ter acesso ao serviço público. São filas enormes, que podem levar até quatro anos para dar início ao processo”, explica ela, sobre os serviços existentes em Rio Grande e Porto Alegre que suprem, praticamente, a demanda de todo o Estado.

Cândida aponta que o ambulatório veio trazer a possibilidade de respeito e reconhecimento às necessidades das pessoas trans. As atividades iniciaram em outubro do ano passado e tem uma média de 55 atendimentos por mês. Mas a ideia é, gradualmente, ir abrindo mais espaços, com objetivo de ultrapassar os 200 ainda neste primeiro semestre. “Não basta dar visibilidade às causas. A gente tem que aparelhar, instrumentalizar, equipar, trazer equipes e serviços de atendimento, fazer políticas públicas para essas pessoas, que já passaram tanto tempo de suas vidas enclausuradas em si mesmas”, destaca.

Além do atendimento clínico com profissional especializado, o ambulatório conta, ainda, com acolhimento psicossocial e com auxílio jurídico para questões burocráticas, como a troca de nome na documentação e garantia de direitos enquanto cidadãos.

Coordenador do grupo Diversidade Sexual e Gênero, Murilo Delgado Jorge avalia que, mesmo apesar do contexto de pandemia em 2020, a comunidade LGBTQIA+ conquistou importantes passos, incluindo o ambulatório trans.  “Conseguimos, através da Coordenadoria, uma médica que muito contribuiu para a saúde da população trans, nos dando a oportunidade de sermos orientados e fazermos exames para saber se estávamos todos bem, uma vez que a maioria das pessoas trans começou o processo de hormonioterapia por conta”, explica.

Além disso, o atendimento com outros profissionais da área jurídica, assistência social e psicólogos também foi destacado por Delgado. “Diariamente sofremos com o preconceito e a discriminação das pessoas e ter profissionais que pudessem nos acolher e nos atender, foi sem dúvidas uma grande conquista. É um acompanhamento que faz muita diferença e espero que cada vez mais possa chegar nas pessoas”, complementa.

Galeria de Imagens
Leia também em Cidade
PLANTÃO 24 HORAS

(53) 9931-9914

jornal@minuano.urcamp.edu.br
SETOR COMERCIAL

(53) 3242.7693

jornal@minuano.urcamp.edu.br
CENTRAL DO ASSINANTE

(53) 3241.6377

jornal@minuano.urcamp.edu.br