Região
Tecendo Histórias busca eternizar a tradição da cultura da lã
Produção teve cenas e entrevistas captadas em Bagé e região do Pampa, além de outros municípios dos Campos de Cima da Serra e Missões
por Melissa Louçan
A cadeia sustentável proporcionada pela ovinocultura é o tema do filme narrativo documental “Tecendo Histórias – a arte de viver da lã”, que teve cenas e entrevistas captadas em Bagé e região do Pampa, além de outros municípios dos Campos de Cima da Serra e Missões. Com um rebanho de 3 milhões de cabeças de ovinos e uma produção anual de 8 mil toneladas de lã, a ovinocultura tem importância econômica e cultural no Rio Grande do Sul. O rebanho, produtor de leite, carne, couro e lã, coloca o Estado em destaque no setor.
O diretor é o mineiro Danilo César Maia de Siqueira, que vive no RS há uma década. Com o projeto ele mostra as peculiaridades da atividade, que é fonte de renda para muitas famílias, e apresenta personagens que encontram no trabalho com a lã uma forma de conexão com as origens e tradições dos antepassados.
“Conhecer as peculiaridades desta atividade econômica, que é uma das marcas do Rio Grande, costurando o roteiro com as tramas que vão sendo desenroladas e tecidas em cada parada minha pelas cidades produtoras é poder mostrar um outro lado desta cadeia, fomentada por personagens que buscam na cardagem e fiação da lã uma conexão com sua ancestralidade”, explica Siqueira, idealizador e produtor do projeto – e que assina também a direção e a fotografia do filme.
A jornada pela história da lã no Rio Grande do Sul, iniciada em maio de 2023, teve a região das Missões como ponto de partida, mas as histórias foram contadas explorando também personagens de cidades da região do Pampa, como Bagé e Lavras do Sul, além de distritos do interior de São Francisco de Paula. O objetivo de Siqueira com essa viagem em busca de histórias é conhecer personagens que ganham a vida com a ovinocultura e que, através do trabalho com a lã, eternizam os saberes dos antepassados.
As captações do “Tecendo Histórias – a arte de viver da lã” já realizadas trouxeram gratas surpresas para o diretor, que destaca, além das “paisagens deslumbrantes do Pampa Gaúcho”, muitos personagens fortes e inspiradores, conta Siqueira, que no caminho conheceu diferentes realidades de quem vive da lã, como uma artesã que produz tapetes e peças de roupa com inspiração na cultura dos povos originários, diferente de outra, jovem produtora rural, que utiliza os delicados fios da raça de ovinos Ideal para confeccionar artesanalmente criativas peças decorativas para casa.
Toda essa diversidade de cenários é embalada pela poesia musical de Vitor Ramil, que com sua “estética do frio”, dá o ritmo às histórias contadas, recheadas de fotografia, belas paisagens naturais e, é claro, os animais, protagonistas da obra. “Uma narrativa tramada por diversas pontas desse novelo do grandioso e importante universo da lã”, finaliza o diretor.
O documentário traz personagens de Bagé e região, como Ana Cândida Cassal, da Cabanha Rincão do Sossego, que segue os passos do avô no campo e hoje vive todas as nuances que a ovinocultura pode proporcionar: trabalho, amor, resgate do passado e proteção. Ela produz delicadas peças decorativas com os finos fios da raça Ideal. Carolina Bortolini, designer de moda, utiliza a lã de ovelha como matéria-prima para suas peças de vestuário. Sua moda de baixo impacto ambiental mistura conforto e sofisticação, valorizando pequenos produtores e artesãos locais. Helena Uberti, estilista e designer, se dedica à criação de moda com os fios de lã através da técnica de feltragem, transformando um material que seria descartado em peças contemporâneas de estilo único.
{AD-READ-3}Em Hulha Negra, Seu Manoel Domingues destaca-se com 17 anos de dedicação aos teares na Pillar Artesanato. Em Lavras do Sul, a Família Batista é conhecida na comunidade rural de Jaguari pela ovinocultura, incluindo criação, esquila e a arte de colorir e tecer os fios. Na mesma região, o Mutirão das Fiandeiras reúne artesãs que abrem, cardam e fazem o fio, resgatando tradições centenárias e tecendo novos futuros. Dona Teresinha Marques, também de Lavras do Sul, tem no trabalho com a lã um ritual diário que se tornou uma companheira de vida, desde que aprendeu a arte de tecer há mais de 20 anos.
O documentário tem produção de Sucupira Filmes e Design e foi realizado através da Lei de Incentivo Federal do Ministério da Cultura, com patrocínio da Vinícola Campestre. Mais informações e atualizações podem ser acompanhados através do Instagram @tecendo_historias_viver_da_la.