Cidade
Registro das Lidas Campeiras como patrimônio cultural está em fase de instrução no Iphan
por Jaqueline Muza
O Inventário da Lida Campeira nos Campos de Bagé e do Alto Camaquã continua em tramitação no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para tombamento como Patrimônio Imaterial Brasileiro. O estudo foi realizado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), por intermédio dos cursos de graduação e pós-graduação em Antropologia em parceria com o Iphan, que cedeu a metodologia e financiou a primeira fase da pesquisa.
O inventário foi submetido à Câmara Setorial do Patrimônio Imaterial (CSPI), na 41ª Reunião, realizada no dia 15 de março de 2022, que, após analise, teve decisão favorável ao prosseguimento da instrução técnica do processo de registro, uma vez que é referência cultural para grupos formadores da sociedade brasileira, possui continuidade histórica e relevância nacional.
Conforme o técnico do Iphan, Diego Luiz Vivian, a próxima etapa consiste na continuidade da instrução técnica do processo administrativo, gerando-se documentos textuais e audiovisuais a serem submetidos, juntamente com o pedido de registro (patrimônio imaterial), ao crivo do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan, órgão colegiado que tem a palavra final para deliberar sobre esses assuntos.
Diego explica que, se o pedido de registro e a documentação apresentada tiveram sua pertinência aprovada pela câmara setorial, o processo então continua em sua fase de instrução técnica. “Os conselheiros votaram por unanimidade pela pertinência do pedido de registro”, salienta.
Proposta
Composto por variadas frentes e levado adiante por uma equipe interdisciplinar que reflete a natureza abrangente e profunda do projeto, o Inventário buscou identificar e valorizar os detentores dos saberes e fazeres e documentar as lidas campeiras nessa área do Rio Grande do Sul, que fica na Serra do Sudeste. O trabalho envolveu, num mesmo olhar, relações humanas, animais, objetos, ambientes, malha de habitantes e tantos outros aspectos que caracterizam essas lidas.
O trabalho etnográfico incluiu acompanhamento das atividades realizadas pelos sujeitos detentores dos ofícios, denominados ‘campeiros’, que vivenciam ou vivenciaram a lida da pecuária. São eles proprietários de terras – de grandes extensões, médias ou propriedades familiares ou de uso comunitário, como no caso das Comunidades Quilombolas – e/ou peões campeiros, trabalhadores e trabalhadoras rurais no sul do Rio Grande do Sul que desempenham ou desempenharam as atividades de doma, pastoreio, esquila, ofício do guasqueiro, tropeada, artesanato, lida caseira, entre outras, como carneada, cutelaria, agricultura de cercado e produção tradicional de erva-mate.
De acordo com os pesquisadores, a lida campeira abarca uma série de atividades, configurando-se como um modo de vida. O Inventário foi elaborado com o objetivo de identificar, documentar e construir conhecimento sobre a lida campeira para fins de registro como Patrimônio Cultural Imaterial brasileiro. De acordo com o Iphan, os bens culturais de natureza imaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares.