Torcedor profissional
No princípio, o futebol era puro entretenimento, um esporte para divertir. Mas daí veio a maldita emulação, que é esse negócio de um querer superar e derrotar o outro a qualquer
custo. Começou com o chamado “enxerto”, que consistia em contratar secretamente o melhores dos outros times para jogar no seu próprio. Depois veio a “gaveta” e a “mala preta”,
que consistia em subornar jogadores e árbitros e o futebol. Foi-se desenvolvendo, deixou de ser lúdico e, hoje, é um grande negócio que movimenta bilhões de dólares no mundo inteiro.
Isto foi possível graças ao estabelecimento do profissionalismo e suas regras rigorosas. Hoje, o futebol não é apenas diversão é um grande espetáculo que tem altos custos. Com o profissionalismo dos jogadores, veio também o profissionalismo dos técnicos e seus auxiliares, dos preparadores físicos, dos massagistas e até dos dirigentes. Hoje existem clubes que não são mais clubes e, sim, empresas mantidas por bilionários.
As coisas mudam e evoluem. Às vezes para pior, mas que evoluem, não tenho dúvida. Pensando nisso, cá comigo, eu também devo sair da rotina dos hábitos e costumes e me tornar diferente. Para isso, é preciso mudar e mudar radicalmente. Pensei, quem sabe, mudar de mulher e logo caiu a ficha - “nem pensar”, logo agora que depois de várias tentativas está dando tudo certo, trocar de partido?
A alma e a memória de Leonel Brizola seriam ofendidas. Trocar os hábitos alimentares, mas como deixar de lado a feijoada, a paella, o bacalhau a lagareiro, o mocotó e a costela gorda? Negativo, não tenho vocação para vegano. Trocar de cidade? Agora, não da mais. Depois de rolar por aí, profundamente enraizado em Bagé. Trocar de nacionalidade? Só se o Uruguai me aceitasse. Então por que não trocar de sexo? Sai pra lá, na minha idade quem iria querer o bagulho. Aí pensei, pensei, pensei e concluí: vou trocar de time, mas o “Bagezinho” eu não abandono, vou olhar outro Grêmio e vou para a torcida colorada do Internacional.
Já fiz o contrato com o meu barbeiro válido por um ano, com possibilidade de renovação dependendo do meu desempenho. Ele não me cobra, durante o tempo da contratação, o cabelo e a barba foi ficar um tempão despreocupado com esses pelos incômodos. O anúncio, em breve, será feito nas redes sociais. Vamos preparar o cenário, eu vou vestir a camisa 10 do Internacional e vou fazer mais ou menos essa declaração cínica. ‘‘Sempre sonhei em envergar este manto sagrado. Vou cumprir rigorosamente minhas obrigações de torcedor,
não frequentarei festinhas noturnas, vou desligar um pouco do smartphone e vou fazer tudo o que o professor mandar. Venho para somar aos meus companheiros, espero não decepcioná-los e rezem por mim, Amém.”
Se vai funcionar eu não sei, só sei que vou ficar famoso, me tornando o primeiro torcedor profissional do mundo. Espero ainda que os franceses, como fizeram com o Pelé, me coloquem a coroa de Rei do torcedor profissional. Só espero que a juventude não siga o meu exemplo, rei é só um. Vão sossegar gurizada.